
O Supremo entrou na segunda semana de depoimentos da defesa dos acusados. Segundo a Procuradoria-Geral da República, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional integra o chamado núcleo crucial. Testemunhas indicadas pela defesa do general Augusto Heleno prestam depoimento no STF
Reprodução/TV Globo
A primeira turma do STF entrou na segunda semana de depoimentos de defesa dos acusados de tentativa de golpe de estado.
As oito testemunhas ouvidas nesta segunda-feira (26) foram indicadas pela defesa do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional general Augusto Heleno, que, segundo a PGR integra o chamado núcleo crucial da tentativa de golpe.
O primeiro foi Christian Perillier Schneider – oficial de carreira da ABIN, Agência Brasileira de Inteligência. Ele trabalhou durante o governo Bolsonaro diretamente com Heleno e com o ex-diretor geral da agência e agora deputado Alexandre Ramagem, do PL.
Schneider falou sobre a denúncia da Procuradoria Geral da República que cita uma declaração de Augusto Heleno durante a reunião ministerial de julho de 2022.
Nela, o general fala a respeito de infiltrar agentes na campanha à presidência. Segundo Schneider, a fala teve relação com um plano estratégico da ABIN para identificar obstáculos que pudessem impedir o andamento normal das eleições. Ele disse que não se tratava de vulnerabilidade nas urnas.
“Em julho de 2022, ocorreu uma reunião na Abin onde foi montado e colocado a todos os superintendentes estaduais, todos os coordenadores-gerais de área e todos os diretores de departamento o que se chamou de plano estratégico da Abin para acompanhamento das eleições de 2022”, disse Christian Schneider.
Ele disse ainda que não havia possibilidade técnica nem legal de infiltrar agentes de inteligência para monitorar o processo eleitoral
“Legalmente impossível e tecnicamente impossível. Porque as práticas e rotinas que você precisa preparar para a infiltração de um agente ela não se faz somente em três meses, a Abin, inclusive, não tem, não teria hoje capacidade técnica de fazer isso porque ela a gente tem uma não regulamentação do que é a proteção da identidade funcional, e portanto, nós não poderíamos sequer usar um documento diferente do nosso documento real para poder infiltrar em qualquer lugar”.
Em seguida o general Carlos José Russo Penteado – secretário-executivo do GSI na gestão de Augusto Heleno como ministro, o ex-chefe de gabinete de Heleno capitão de mar e guerra, Ricardo Ibsen e o ex-diretor de segurança da informação general Antonio Carlos de Oliveira Freitas negaram que Heleno tenha comentado ou discutido estado de exceção.
O general Antonio Carlos disse também que não houve conversa sobre fraudes nas urnas.
“Como responsável pela segurança da informação do GSI, o general Heleno chegou a conversar com Vossa Excelência sobre possível fraude nas urnas eletrônicas?”, questionou Matheus Milane, advogado de Augusto Heleno.
“Não, nunca se tratou de qualquer assunto fora do âmbito do GSI”, respondeu Antonio Carlos de Oliveira Freitas.
O ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, testemunhou em defesa de Augusto Heleno e do general Braga Netto. Ele também disse que nunca conversou com Heleno, Braga Neto ou com o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre ruptura institucional, e falou sobre o conteúdo de reunião de julho de 2022.
Rapahel Vianna, advogado de Anderson Torres: o senhor se recorda, nessa reunião, o senhor se recorda se foi tratado algum tema que buscasse a ruptura democrática, abolição violenta do estado democrático, algo que pudesse sugerir no futuro uma tentativa de golpe ou algo do tipo?
Queiroga: não, não lembro de ter se tratado nada nesse sentido, até porque o presidente Bolsonaro ele sempre orientou a nós que agíssemos diante do que determina a constituição federal, ele utiliza até o termo das quatro linhas da constituição, e foi sempre isso que ele nos orientou.
O coronel Amilton Coutinho Ramos, que fazia a função de assessor de imprensa no GSI, falou sobre a agenda encontrada na casa de Augusto Heleno. Segundo a denúncia da PGR, havia anotações sobre o planejamento da organização criminosa de fabricar discurso contrário às urnas.
Matheus Milanez, Advogado de Augusto Heleno: Alguma vez Heleno teria determinado que fossem feitas publicações ou mesmo divulgado conteúdo a respeito de fraude nas urnas eletrônicas?
“Não. É sábado e é público, eu posso falar, o general Heleno é favorável ao voto impresso, mas ele acatou a decisão do Congresso que manteve as urnas eletrônicas, ele aguardou o relatório do Ministério da Defesa e acatou o resultado das eleições, embora seja favorável ao voto impresso”, afirmou.
Nesta terça-feira (26), a primeira turma do Supremo vai começar a ouvir os depoimentos das testemunhas de defesa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Como ele indicou 25 testemunhas, os depoimentos vão se estender até o fim da semana.
Na quinta (29) e na sexta-feira (30), será a vez de ouvir as testemunhas indicadas exclusivamente por Bolsonaro.
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