
Do intestino “preguiçoso” às condições mais sérias, como hemorroidas e câncer, entenda os sinais de alerta e a importância da prevenção para a saúde digestiva. Cérebro e intestino
Sebastian Kaulitzki/shutterstock.com
O intestino “preguiçoso” é uma queixa frequente, especialmente entre mulheres e em momentos como viagens ou mudanças de rotina. No entanto, alguns sintomas intestinais podem sinalizar condições mais graves do que uma simples prisão de ventre.
Cirurgiões do aparelho digestivo e gastroenterologistas esclarecem as principais doenças que afetam o intestino grosso (cólon) e o ânus, incluindo hemorroidas, fissuras anais, retocolite ulcerativa, doença de Crohn, pólipos e câncer.
Segundo os médicos Fábio Atui e Flávio Steinwurz, o intestino delgado tem aproximadamente 6 metros de comprimento e o intestino grosso, 1,5 metro.
Esta reportagem é parte de uma série com as principais dicas exibidas nos mais de 15 anos do “Bem Estar”.
Hemorroidas e Fissuras Anais: Como Identificar e Prevenir
Hemorroidas: Presentes em todas as pessoas internamente, as hemorroidas tornam-se um problema quando as veias que irrigam o ânus e o reto inflamam e incham, seja dentro ou fora do corpo. Os sintomas podem incluir sangramento, dor ou ardor durante, ou após a evacuação, e uma saliência palpável. A principal causa é a constipação (prisão de ventre), que leva a um esforço excessivo ao evacuar.
Outros fatores predisponentes são: gravidez, idade, obesidade, genética, sedentarismo e uma dieta pobre em fibras e líquidos.
As hemorroidas são classificadas em graus:
no grau 1, somente sangram;
no 2, sangram e saem;
no 3, sangram, saem e a pessoa consegue colocá-la para dentro; e
no 4, sangra e fica sempre para fora – aí é preciso operar.
Pomadas à base de analgésicos, anestésicos e cicatrizantes podem ajudar, mas sempre com recomendação médica.
É importante notar que pimentas não causam hemorroidas, mas podem fazer a região doer mais. Da mesma forma, trabalhar sentado ou carregar peso não as causam, mas podem piorar o problema em quem já o tem.
Fissuras Anais: Uma fissura anal é uma úlcera de aproximadamente 4 cm no canal do ânus, geralmente longitudinal e localizada em áreas com menor irrigação sanguínea. Prisão de ventre, fezes endurecidas, sexo anal e outras agressões à região são fatores de risco.
Os sintomas incluem dor ao evacuar e sangue no papel higiênico ou nas fezes logo depois. Fissuras agudas podem se curar sozinhas em dois ou três dias, mas as crônicas exigem medicamentos para relaxar a musculatura anal e promover a cicatrização, ou cirurgia, se o tratamento conservador não for suficiente.
Medidas de Prevenção e Alívio para ambos: Os médicos deram algumas dicas importantes para evitar fissuras e hemorroidas:
Nunca evite a evacuação por medo da dor, pois isso só tornará as fezes mais duras e a dor ainda maior.
Beba bastante líquido.
Consuma muitas fibras, presentes em frutas, verduras, legumes e cereais, para auxiliar o fluxo intestinal.
Faça banhos de assento com água morna para relaxar a musculatura anal e aliviar o desconforto.
Doenças Inflamatórias Crônicas: Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn
Retocolite ulcerativa e doença de Crohn são inflamações crônicas e incuráveis do intestino, de causa desconhecida, mas com características autoimunes e componentes genéticos. Embora semelhantes, apresentam diferenças cruciais.
Retocolite Ulcerativa: Afeta exclusivamente o intestino grosso, com lesões mais superficiais que atingem apenas a camada mais interna do órgão. As lesões são contínuas e acometem um segmento inteiro. É um fator de risco que predispõe ao câncer de intestino, principalmente em pacientes que têm a doença há mais de sete anos.
Doença de Crohn: Pode atingir qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus, mas tem predileção pela parte final do intestino delgado (íleo) e o início do intestino grosso. Diferente da retocolite, o Crohn afeta todas as quatro camadas do intestino, podendo causar abscessos (acúmulo de pus), fístulas (comunicação forçada entre órgãos) e infecções em outros órgãos. Caracteriza-se por apresentar áreas alternadas de doença e saúde.
Incidência e Sintomas: A incidência dessas doenças é maior entre 15 e 40 anos (70% dos casos), e 20% dos pacientes são crianças. Observa-se também uma maior prevalência em países desenvolvidos. Sintomas comuns incluem diarreia com mais de um mês de duração, emagrecimento, muco ou sangue nas fezes e febre. Em crianças, pode haver dificuldade no desenvolvimento. O controle é feito com medicamentos que contêm a inflamação, anti-inflamatórios específicos e corticoides.
Pólipos e Câncer de Reto: A Chave é a Detecção Precoce
Quanto antes for detectado o câncer de intestino maior é a chance de cura
O câncer de reto é uma doença séria, mas que pode ser prevenida por meio de rastreamento antecipado. Geralmente, antes do câncer, surgem pólipos intestinais, que são lesões pré-cancerígenas e podem ser removidas durante uma colonoscopia. Existem pólipos hiperplásicos (benignos, sem risco de câncer) e adenomatosos, estes últimos com grandes chances de se tornarem cancerosos no futuro.
Recomendações de Rastreamento: O monitoramento precisa ser feito regularmente após os 50 anos de idade. Em caso de histórico familiar em algum parente de 1º grau, o rastreamento deve começar aos 40 anos, ou 10 anos antes da idade em que o parente teve câncer, caso isso tenha ocorrido antes dos 40 anos. Como a doença pode ou não dar sintomas, é importante fazer o monitoramento na idade certa. Os exames que rastreiam o câncer são o de presença de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.
Sintomas de Alerta: Os sintomas do câncer de reto podem ser variados e, por vezes, confundidos com outras condições, como hemorroidas ou fissuras. Incluem:
Vontade de ir ao banheiro, mas quando chega, não consegue evacuar ou tem sensação de evacuação incompleta;
Sangue vivo nas fezes;
Fezes em fita (iguais à serpentina);
Dor no reto;
Alternância entre diarreia e prisão de ventre;
Alteração do hábito intestinal;
Cólicas;
Muco;
Perda de peso sem causa aparente;
Cansaço;
Anemia; e
Barulho na barriga.
A sobreposição de sintomas com outras doenças intestinais reforça a importância de sempre procurar um médico ao sinal de qualquer um desses problemas para um diagnóstico preciso e tratamento adequado.