
Em rede social, o ministro das Relações Exteriores iraniano criticou a insistência do chefe da agência em inspecionar as instalações nucleares do país e a chamou de “sem sentido, até mesmo maligna”. A Agência Internacional de Energia Atómica das Nações Unidas (AIEA) afirmou nesta sexta-feira (27) que os níveis de radiação na região do Golfo permanecem normais.
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O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, afirmou nesta quarta-feira (25) que as instalações nucleares do país foram “gravemente danificadas” pelos ataques que os Estados Unidos fizeram no fim de semana. A fala ocorreu durante uma entrevista à televisão árabe “Al Jazeera”.
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“Nossas instalações nucleares foram gravemente danificadas, isso é certo, porque foram alvo de ataques repetidos por agressores israelenses e americanos”, disse o porta-voz do ministério, Esmail Baghaei.
No entanto, Baghaei disse que não daria mais detalhes sobre a quais instalações nucleares se referiu ou se houve vazamento de material radioativo decorrente dos ataques. Ele acrescentou ainda que a Organização de Energia Atômica do Irã e outras agências competentes estão lidando com o tema.
Até o momento, autoridades iranianas e a mídia estatal do país vinham minimizando a extensão dos danos dos ataques dos EUA e de Israel ao programa nuclear do país.
Mais cedo, o Irã suspendeu a cooperação com Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de fiscalização nuclear da ONU, por acusar a agência de ser politicamente enviesada a favor de Israel durante o conflito entre os dois países e de não ter feito mais contra os bombardeios. Baghaei disse que, apesar da suspensão da cooperação, o país continua no Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Os EUA bombardearam três instalações nucleares do Irã no final de semana, Fordow, Natanz e Isfahan, o que intensificou o conflito. Em resposta, o regime iraniano lançou mísseis contra uma base militar americana no Catar, na segunda-feira. Depois disso, o governo americano anunciou um acordo de cessar-fogo entre Israel e Irã.
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Israel e Irã trocaram ataques aéreos durante 12 dias antes de chegarem ao cessar-fogo. O acordo entrou em vigor na madrugada de terça-feira (24). Não houve novos bombardeios intensos nas primeiras 24 horas, mas o clima seguiu tenso, com trocas de acusações e com ambos os lados declarando vitória. Após o início da trégua, os dois países anunciaram vitória no conflito.
Desde o início do cessar-fogo, há também um embate de versões sobre a real situação das usinas nucleares iranianas, que foram bombardeadas diversas vezes durante o conflito.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que as instalações foram “completamente destruídas” e disse que o programa nuclear do Irã foi atrasado em “décadas”. No entanto, um relatório de Inteligência produzido por uma agência do Pentágono afirmou que o ataque americano atrasou o programa iraniano por apenas alguns meses.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que as “ameaças dos programas nuclear e de mísseis iranianos foram destruídas”. O Exército israelense anunciou que os ataques atrasaram o programa nuclear em “anos”, mas que ainda é muito cedo para determinar a extensão dos danos às instalações nucleares atingidas. Especialistas em guerra também afirmam que ainda não é possível saber o real nível de dano causado às instalações iranianas.
A AIEA afirmou que o conflito entre Israel e Irã “danificou gravemente várias” das instalações nucleares do Irã, porém seria necessária maior análise para determinar quanto. O chefe da AIEA, Rafael Grossi, afirmou nesta quarta-feira que essa análise é a “prioridade número 1″ da agência no momento, além de verificar os estoques de urânio enriquecido do país.
O assessor de política externa da Rússia, Yuri Ushakov, afirmou nesta quarta-feira que os EUA e o Irã, aliado do governo de Vladimir Putin, discordam quanto à magnitude dos danos nas instalações nucleares. Sobre as falas de Trump, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse não acreditar que alguém possa ter dados realistas sobre os danos neste momento —”ainda é muito cedo”, disse.
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INFOGRÁFICO – Arte explica ataque dos EUA ao Irã e resposta de Teerã.
Arte/g1
Conflito Israel x Irã
O conflito direto entre Israel e Irã começou no dia 13 de junho, quando Israel lançou uma operação preventiva dizendo que tinha como objetivo conter o avanço do programa nuclear iraniano. Em 12 dias de confronto, 610 pessoas morreram no Irã e 28 em Israel, a maioria civis, segundo balanços oficiais dos dois países —organizações independentes dizem haver mais vítimas no Irã, e falam em mais de 900 mortes.
Desde o início da guerra, forças israelenses bombardearam alvos militares e nucleares em território iraniano. Em resposta, o Irã prometeu vingança e lançou mísseis contra Tel Aviv, Haifa e Jerusalém.
Israel alega que o regime de Teerã está próximo de obter uma bomba atômica. Por isso, o governo de Benjamin Netanyahu justificou os ataques como uma tentativa de neutralizar o que considera uma ameaça à existência do país.
Após o cessar-fogo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reivindicou vitória e disse que Israel “atingiu seu objetivo de eliminar a ameaça nuclear e de mísseis balísticos do Irã”.
No fim de semana, os Estados Unidos lançaram um ataque contra instalações nucleares iranianas. O principal alvo foi a usina de Fordow — uma instalação subterrânea a 80 metros da superfície, onde funcionavam centrífugas para enriquecimento de urânio.
Nesta segunda-feira, o Irã retaliou e lançou mísseis contra uma base militar americana no Catar. Autoridades norte-americanas e catarianas afirmaram que os projéteis foram interceptados e que os danos foram mínimos. Não houve registro de mortes ou feridos.
Segundo a imprensa americana, o Irã avisou os EUA e o Catar com horas de antecedência. O objetivo seria realizar uma resposta simbólica, que evitasse uma escalada no conflito.