Influenciador viraliza ao mostrar o antes e depois de locais da noite LGBT de Fortaleza


Sam de Melo Barros vivenciou os anos de boates como Meet, Donna Santa e Divine, e hoje revisita as histórias dos locais usando as redes sociais. Para a artista Lena Oxa esses locais precisam ser referência dos novos estabelecimentos. Influencer grava vídeos falando do presente e do passado de locais LGBTs em Fortaleza.
Divine, Meet, Donna Santa. Esses nomes marcaram mais do que fachadas de estabelecimentos: representaram uma era da vida noturna LGBT em Fortaleza. Essa memória afetiva foi resgatada pelo influenciador digital Sam de Melo Barros, de 45 anos, que viralizou nas redes sociais ao mostrar como estão hoje os espaços que um dia foram redutos da cena LGBT.
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Os bares e boates são frequentemente refúgios para a comunidade LGBT, onde as pessoas sentem segurança de ser quem são — desde a época em que a sigla ainda era GLS (entenda aqui a mudança). O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado neste sábado (28), inclusive, surgiu após uma rebelião no bar Stonewall Inn, em Nova York, no fim dos anos 60. No ano passado, uma iniciativa mapeou os locais seguros para a comunidade em Fortaleza.
Ao caminhar pelo Centro de Fortaleza, Sam costumava pensar em registrar o local onde funcionava a Boate Divine — hoje, um estacionamento. A casa noturna foi uma das principais referências da cena LGBT nos anos 2000, com 14 anos de funcionamento.
“Sempre que eu passava lá no Centro, em um desses locais, eu tinha essa vontade de filmar como estava no momento. Porque essa boate [Divine] era muito conhecida antigamente, era muito frequentada. Ela ainda é muito falada”, explicou Sam sobre a ideia de fazer o primeiro vídeo.
“Eu queria gravar, porque hoje lá é um estacionamento. Só que eu passava tão rápido que não gravava. Até que uma vez eu fui com mais calma e gravei. E esse vídeo viralizou, foi o primeiro. Mais de 200 mil visualizações”, complementou o influenciador.
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Local onde foi a Boate Divine, no Centro de Fortaleza, hoje funciona como um estacionamento.
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A partir desse primeiro, Sam decidiu fazer mais vídeos, mostrando outros locais — tanto os que ele frequentou, quanto pedidos que vieram nos comentários da primeira publicação.
“Fui fazendo de acordo com o que eu fui lembrando. As pessoas que me seguiam, os LGBTs, iam me dizendo: ‘filma como é que está tal canto, tal lugar, tal bar LGBT da época’. E eles mesmos me davam o endereço. Aí eu pesquisava e filmava como estava o local”, explicou.
Entre os principais locais, ele citou as boates Donna Santa, Style, Broadway, Meet e Kiss. Todos são locais que não funcionam mais hoje em dia e deram espaço para outros estabelecimentos — principalmente estacionamentos.
Diferença na noite LGBT
Influenciador Sam de Melo Barros mostra passado e presente de locais LGBTs em Fortaleza.
Redes sociais/Reprodução
Sam comentou que encara com tristeza o fechamento desses locais que marcaram décadas na cena LGBT de Fortaleza. “Eu vejo assim porque é uma opção a menos. É um local que a gente se acostuma, que a gente se familiariza e muitas vezes a gente se sente seguro. Aí, quando fecha, é como se fosse um vazio”, lamentou.
“Antigamente, o que era que acontecia? Quando fechava um [bar LGBT], colocavam outro. Por exemplo, a Broadway, veio no lugar da boate Éden; e quando saiu a Broadway, já botaram um comércio. Já começou a mudar por aí”, disse.
A percepção de perda não é só de Sam. A artista e produtora cultural Lena Oxa, um dos principais nomes da cena LGBT de Fortaleza desde os anos 1980, também lamenta o desaparecimento desses espaços.
“Os locais estão muito escassos, realmente você não tem [quantidade suficiente]. Tem muita artista que quer, que tenta fazer algum evento, que tenta se apresentar, mas está completamente diferente do cenário de como era antigamente”, disse a apresentadora.
Bares, boates e outros estabelecimentos fazem parte da cena LGBT de Fortaleza.
Louise Anne Dutra/SVM
Lena começou a acompanhar o cenário de entretenimento LGBT em Fortaleza no começo da década de 1980. Entre diversas experiências, as boates fazem parte do currículo dela. Na Divine, por exemplo, ela trabalhou durante oito anos.
“Antigamente se podia viver, tinha várias boates, e você saía de uma e entrava na outra. E tinha essa disponibilidade do artista viver, não diretamente do show, mas era um ‘bico’ extra maravilhoso que tinha como auxílio de renda. E você não vê mais isso hoje”, lamentou a artista.
“Há uma diferença muito grande da noite de antigamente. Eu diria que uns 1000% para a noite daqui de Fortaleza hoje”, declarou.
O antigo como referência
Lena Oxa falou sobre diferenças entre a cena antiga e atual da noite LGBT em Fortaleza.
José Leomar/SVM
Lena comentou que o público LGBT na cidade se transferiu para outros locais, como, por exemplo, as saunas e essa movimentação mudou também as oportunidades especialmente aos artistas da comunidade.
“O novo é bom, o novo é maravilhoso, mas a gente tem que saber o que esperar, a gente tem que buscar as nossas raízes de antigamente, porque se a gente for só buscar o novo, a gente não vai ter muita coisa daqui a uns dias mais”, declarou.
Para ela, os novos estabelecimentos (tanto os que existem quanto os que venham a ser criados) precisam olhar para o passado como referência. “As pessoas têm que colocar o antigo em prática também ainda, porque o antigo tem força, gera. Muita gente gosta do lúdico, das boates, de ver transformistas, de ver as artistas batendo cabelo”, destacou
“É importante que as pessoas valorizem, criem casas, mostrem os artistas que têm. A gente está aqui pronto para trabalhar também, a gente está pronto para poder fazer uma Fortaleza diferente, com muito mais entretenimento, muito mais shows”, reforçou a artista.
“E a gente está tentando ainda resgatar tudo isso. Eu tento muito porque eu acho que a boate é um cartão postal da nossa cidade, ela representa demais, ela representou muito a nossa cidade”, complementou.
Boate Divine funcionou nos anos 2000 em Fortaleza. Hoje, é um estacionamento.
Redes sociais/Reprodução/Street View
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