Ravel Andrade se eleva como ator ao interpretar Raul Seixas em série que expõe gangorra emocional do roqueiro


Ravel Andrade É Raul Seixas (1945 – 1989) em série de oito episódios, já disponíveis no Globoplay
Divulgação
♫ OPINIÃO
♩ Menos de dois meses após Jesuíta Barbosa ter conquistado os espectadores do filme Homem com H ao interpretar Ney Matogrosso com precisão, reproduzindo olhares e expressões do cantor, outro ator se eleva no panteão nacional ao dar vida e alma a um ídolo da música brasileira.
A interpretação de Raul Seixas por Ravel Andrade é trunfo fundamental da aliciante série sobre o roqueiro baiano que estreou no Globoplay na quinta-feira, 26 de junho, dois dias antes do 80º aniversário de Raul Santos Seixas (28 de junho de 1945 – 21 de agosto de 1989), artista já envolto em aura mitológica.
Em oito episódios, a série Raul Seixas – Eu sou, produzida pela O2 Filmes, expõe a trajetória do Maluco beleza desde a infância em Salvador (BA) até a morte em São Paulo (SP), aos breves 44 anos, com o artista já corroído pelo álcool e pelas drogas.
Em ação que vai e volta no tempo, o roteiro mostra o vaivém do temperamento instável de Raul, sobretudo após o sucesso conquistado em 1972. Ator gaúcho de 31 anos, Ravel Andrade se equilibra com maestria na gangorra emocional desse grande personagem em trabalho favorecido pela perfeita caracterização do ator em todas as fases da vida adulta de Raul, mérito de Rosemary Paiva.
Por também ser cantor, Ravel está extremamente convincente nas cenas de palco que simulam (com perfeição) performances ao vivo e também na reconstituição das filmagens de clipes como o de Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974) –e há muitos números musicais ao longo dos oito episódios da série criada por Paulo Morelli, também diretor da produção em função dividida com Pedro Morelli.
Além de ter o physique du rôle para encarnar o magro autor de músicas como Mosca na sopa (1973), Ravel Andrade É Raul Seixas pela alma posta como protagonista dessa série que expõe toda a loucura e toda a lucidez do artista baiano, personagem contraditório do rock brasileiro que ascendeu como mito no imaginário popular – ainda em vida e sobretudo após a morte – pela força da obra construída entre 1973 e 1976, período marcado pela conturbada parceria com o escritor Paulo Coelho, muito bem interpretado por João Pedro Zappa.
O elenco, a propósito, resulta bem homogêneo, mas o protagonismo é mesmo de Ravel Andrade pelo fato de o ator oferecer interpretação marcada por grande entrega emocional. Ao viver Raul Seixas sem quaisquer traços caricaturais, perigo iminente sempre que artistas lendários são retratados em cena, Ravel Andrade cresce, aparece e se eleva aos olhos do Brasil como ator talentoso de grandes recursos.
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