
A heroína da Independência do Brasil na Bahia nasceu em Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, onde recebe diversas homenagens dos conterrâneos. Maria Quitéria
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A Independência do Brasil na Bahia é celebrada nesta quarta-feira (2). Há 202 anos, 10 meses após o grito de independência do imperador Dom Pedro I, as tropas portuguesas que permaneciam no estado finalmente foram expulsas, após perderem batalhas para heróis populares que enfrentaram uma guerra em defesa do território nacional.
Entre os nomes que se destacam nessas lutas, o mais ilustre é o de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, a primeira mulher reconhecida como militar no Brasil. A baiana nasceu na antiga Fazenda Serra da Agulha, onde hoje existe o distrito que leva o nome dela, na zona rural de Feira de Santana, segunda maior cidade do estado.
O orgulho dos feirenses em terem como conterrânea uma figura tão ilustre pode ser notado em várias partes do município. Na “Princesa do Sertão”, Maria Quitéria dá nome a escola, ao Paço Municipal, a uma das principais avenidas da cidade. Além disso, a pia onde ela foi batizada, ainda na infância, é preservada, e um memorial tem um setor dedicado a valorizar e preservar o soldado da heroína.
O g1 reuniu alguns locais que reverenciam Maria Quitéria. Confira abaixo:
📍Avenida Maria Quitéria e Monumento
Monumento de Maria Quitéria está Instalado no cruzamento entre as avenidas Maria Quitéria e Getúlio Vargas
Jorge Magalhães
A Avenida Maria Quitéria foi criada na década de 1950 como parte de um projeto de integração urbana e desenvolvimento comercial em Feira de Santana. O objetivo era conectar diferentes regiões da cidade e impulsionar o setor comercial, tornando-se uma via de tráfego estratégico.
A meta foi atingida e, atualmente, esta uma das principais avenidas da cidade, simbolizando o crescimento urbano do município, que tem a terceira maior economia do estado, de acordo com dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021.
Em 2002, foi erguido um monumento em homenagem a Maria Quitéria no cruzamento da avenida homônima com a Getúlio Vargas, representando o resgate da memória local.
📍 Distrito de Maria Quitéria
Praça de São José, distrito de Maria Quitéria
Izinaldo Barreto
O distrito de Maria Quitéria, onde ela nasceu, é o segundo maior do município, em termos populacionais. São quase 14 mil moradores, só perde para a localidade de Humildes, entre as oito comunidades rurais.
Quando foi fundada, a localidade era chamada São José das Itapororocas. O nome foi alterado em 1938, em homenagem à heroína Maria Quitéria, através de decreto estadual nº 11.089. A mudança foi uma forma de homenagear a filha ilustre.
📍Escola Maria Quitéria
Antiga Escola Maria Quitéria, na Praça Eduardo Fróes da Mota, no Centro de Feira de Santana
João Mascarenhas/ Tv Subaé
Feira de Santana já teve ao menos duas unidades escolas públicas que levam o nome da heroína. Uma delas é o Colégio Estadual do Campo Maria Quitéria, que fica na estrada da Pedra Ferrada, próximo ao distrito com o nome dela. O espaço oferece ensinos fundamental e médio, além de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Outra unidade era a Escola Maria Quitéria, uma das primeiras da cidade. Fundada no início do século XX, o prédio onde a escola funciona foi construído em 1917, mas a denominação atual foi oficializada em 1930.
Esta foi a primeira escola da rede pública municipal ter instalações próprias. Instalada na Praça Eduardo Fróes da Mota, no Centro da cidade, em 2018, um ano após completar 100 anos, a escola Maria Quitéria deixou de funcionar. Em abril deste ano, a prefeitura municipal informou que o prédio será utilizado para abrigar a Secretaria de Municipal de Cultura.
📍Paço Municipal Maria Quitéria – Sede da Prefeitura
Prefeitura de Feira de Santana
Izinaldo Barreto
O prédio da Prefeitura Municipal foi inaugurado em 1926. A construção possui características arquitetônicas ecléticas, com influências clássicas, barrocas e neoclássicas. O edifício histórico de dois pavimentos também foi batizado em homenagem à Maria Quitéria e fica entre as Avenidas Getúlio Vargas e Senhor dos Passos.
Preservação do legado
O legado de Maria Quitéria pode ser conferido no Casarão Olhos D’Água, localizado na Rua Araújo Pinho, em Feira de Santana. O imóvel marca o surgimento da cidade, entre os anos de 1832 e 1833, quando tudo o que havia era um arraial.
No local existe um memorial que homenageia a filha mais ilustre da antiga “Sant’Ana dos Olhos d’Água”. Além disso, há uma cópia da pia do batismo de Maria Quitéria, livros e cordéis sobre a vida dela, peças de arte, a medalha da Comenda que leva o nome da heroína, entregue anualmente pela Câmara Municipal.
Memorial em homenagem à Maria Quitéria está situado no Casarão dos Olhos D’água
Maylla Nunes/ g1
No dia 16 de julho, será inaugurada uma tela, A obra, criada em 2023, que evidencia as figuras de Maria Quitéria, Joana Angélica e Maria Filipa, as mulheres mais conhecidas da Independência do Brasil na Bahia.
A pintura de Graça Ramos se chama “Surra de Cansanção”, em referência ao episódio histórico em que mulheres da Ilha de Itaparica, lideradas por Maria Felipa, expulsaram os invasores aplicando neles uma surra com folhas popularmente conhecidas como “urtiga”.
A planta que causa forte irritação na pele devido aos seus pelos urticantes, que liberam substâncias irritantes como o ácido fórmico. Essa irritação se manifesta como vermelhidão, coceira, bolhas e dor intensa na região afetada.
O local está disponível para visitação das 8h às 12h e das 14h às 17h.
Obra “Surra de Cansanção”, de Graça Ramos, no memorial à Maria Quitéria em Feira de Santana
Maylla Nunes/ g1
No distrito de Tiquaruçu, distante cerca de 30 km do local onde a Maria Quitéria nasceu, está a pia batismal em ela foi batizada. Registros históricos apontam que o ato religioso ocorreu em 27 de julho de 1798, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que ainda existe.
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Pia onde Maria Quitéria foi batizada está localizada no Distrito de Tiquaruçu em Feira de Santana
Gerson Figueredo
Sobre a heroína
Maria Quitéria de Jesus Medeiros nasceu em 1792, na Fazenda Serra da Agulha, em Feira de Santana. Filha de pai português e mãe brasileira, ela cresceu em um ambiente rural, onde desenvolveu habilidades incomuns para as mulheres de sua época.
“Por viver no campo, em uma fazenda, Maria Quitéria tinha habilidades com montaria, cuidado com animais. Ter esse contato com a natureza desde a infância certamente influenciou algumas escolhas dela na vida adulta”, disse a historiadora Márcia Suely Oliveira, que pesquisa a vida da baiana ilustre.
Conforme Márcia Suely, Maria Quitéria aprendeu com o pai a manejar armas. Órfã de mãe com apenas 10 anos, precisou assumir cedo a responsabilidade da casa e passou a cuidar de seus irmãos, o que contribuiu para forjar sua personalidade determinada. (Veja detalhes abaixo)
“Todo esse conjunto deve ter incentivado esse espírito livre, disposto a exercer novos papéis na sociedade que não fossem apenas os ligados à vida doméstica e seus afazeres”, considera a historiadora.
Conheça a história de Maria Quitéria, uma das heroínas do Dois de Julho
Em 1822, Maria Quitéria decidiu alistar-se no Regimento de Artilharia da Vila de Cachoeira para lutar contra as tropas portuguesas. Com a ajuda da irmã, disfarçou-se de homem e alistou-se no Exército com o nome de “Soldado Medeiros”, iniciando sua trajetória no Batalhão dos Periquitos, em Cachoeira, no Recôncavo. A “cidade monumento” foi o mais importante palco da luta pela Independência do Brasil na Bahia.
Durante sua atuação militar, Maria Quitéria se destacou em batalhas decisivas e mesmo após ter a identidade ser revelada, decidiu permanecer na tropa, ainda que contrariando a vontade do pai, que a renegou.
“Maria Quitéria representa a força, a perseverança e a contribuição das mulheres para os principais marcos históricos do país. Sua história é um exemplo de coragem e determinação que inspira gerações”, disse Marcia Suely.
Linha do tempo
👉 Aos 10 anos, Maria Quitéria testemunhou a morte da mãe e passou a assumir a gestão da casa e cuidar dos irmãos. Ela caçava, pescava, fazia os afazeres domésticos, criando, assim, responsabilidade de modo precoce.
👉 Com a morte da mãe de Maria Quitéria, o pai dela se casou outras duas vezes. A primeira madrasta morreu de forma prematura, e a má relação com a segunda companheira do pai foi o estopim para o início trajetória independente da jovem heroína.
👉 A jornada para se tornar Soldado Medeiros contou com roupas emprestadas pelo cunhado e estratégias para se entrosar, em meio aos disfarces, com as equipes de guerrilha, começando no Batalhão dos Periquitos, em Cachoeira, berço da Independência do Brasil na Bahia, até chegar em Salvador.
👉 A feirense conseguiu se destacar, principalmente, em três batalhas decisivas: em Pirajá, na defesa de Ilha da Maré e na de Piatã, onde ela entrou em uma trincheira, rendeu os portugueses e os levou, sozinha, para o acampamento.
👉 A partir desse feito ela foi condecorada a cadete. Após ter o disfarce reconhecido, a heroína escolheu continuar nos combates, a contragosto do pai. A coragem de Maria Quitéria foi reconhecida pelos colegas e também pelo então imperador Dom Pedro I.
👉 Maria Quitéria recebeu várias honrarias, incluindo um convite para ir pessoalmente ao Rio de Janeiro, visitar o imperador e ganhar a insígnia de “Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro”.
👉 Apesar de tudo, a relação familiar ficou estremecida, pois o pai não aceitava as escolhas da filha. Ela então pediu uma carta de conciliação a Dom Pedro, quando foi ao Rio de Janeiro para ser condecorada.
👉 Dom Pedro escreveu uma carta onde ressaltou a bravura e a importância da participação de Maria Quitéria nos combates na Independência da Bahia. Depois disso, os dois se reconciliaram.
👉 A heroína passou a morar em Feira de Santana e depois se mudou para cidade de Coração de Maria, vizinha à terra natal.
👉 Só depois da morte do pai é que ela casou com o companheiro, Gabriel de Brito, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição, e passou a morar em anonimato, em Salvador.
👉 Já na velhice, Maria Quitéria foi diagnosticada com uma inflamação no fígado. A doença deixou a heroína quase cega.
👉 Em agosto de 1853, aos 61 anos, Maria Quitéria morreu na capital baiana. Ela foi enterrada em uma cova rasa, como indigente, em um cemitério que era contíguo à Igreja de Santana.
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