Campanha na internet com ataques ao Congresso provoca preocupação e apelos por moderação


O Jornal Nacional mostrou a escalada dos ataques nas redes sociais, com o uso de inteligência artificial, após a derrubada do aumento do IOF pelo Congresso no dia 25 de junho. Campanha em redes sociais contra Congresso preocupa políticos e analistas
Uma campanha disseminada em redes sociais com ataques diretos ao Congresso Nacional está provocando preocupação de políticos e de analistas, e pedidos de moderação em defesa do respeito entre os Poderes e da convivência democrática de diferentes correntes políticas.
Os vídeos começaram a ser publicados na internet após a derrubada do aumento do IOF pelo Congresso Nacional, no dia 25 de junho. A derrota foi uma das maiores do governo Lula.
No dia 27, o PT publicou em redes sociais um vídeo feito com inteligência artificial. Falando em cobrar mais dos super-ricos, o partido disse defender justiça tributária. O vídeo afirmou ainda que imposto é necessário, mas justiça também, e que o governo quer aprovar as mudanças no Imposto de Renda.
Mas, segundo economistas, o aumento de IOF não representa justiça tributária. Pelo contrário, já que IOF mais alto encarece o crédito e as famílias mais pobres são as mais endividadas.
“Essa história do IOF, que foi o gatilho para isso, esse é um imposto que gera relativamente pouco e de péssima qualidade. Péssima. E muito disso, no fundo, contribui para uma taxa de juros cada vez mais alta e que, em geral, tem um impacto, inclusive social, regressivo. O que que eu quero dizer com isso: quem é devedor fica muito apertado, tipicamente os pobres, e o pessoal que tem dinheiro, que tem poupança está aí ganhando essa taxa de 15%. Então, é uma confusão enorme. Falta, eu diria, um certo entendimento de causa e efeito”, diz Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.
No dia 29, a oposição respondeu com um vídeo, também feito por IA, da Federação União Progressista, dos partidos União Brasil e Progressistas, e criticou o discurso do “nós contra eles”, estimulado pelo PT, segundo a federação.
No fim de semana, sem assinatura de nenhum partido, outros vídeos, também produzidos por inteligência artificial, passaram a atacar o Congresso Nacional. Perfis que se apresentam como militantes de esquerda passaram a compartilhar publicações alegando que os parlamentares seriam inimigos do povo. O presidente da Câmara, Hugo Motta, foi um dos mais atacados.
Na segunda-feira, dia 30, o PT divulgou um segundo vídeo do partido, falando em “rachar a conta do jeito certo”, com super-ricos pagando mais. No mesmo dia, em uma rede social, o presidente da Câmara, Hugo Motta, reagiu aos ataques que estariam estimulando uma polarização social:
“Quem alimenta o ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos. A Câmara dos Deputados, com 383 votos de deputados de esquerda e direita, decidiu derrubar um aumento de imposto sobre o IOF, um imposto que afeta toda a cadeia econômica. A polarização política do Brasil tem cansado muita gente e, agora, querem criar a polarização social. Capitão que vê o barco indo em direção ao iceberg e não avisa não é leal, é cúmplice. E nós avisamos ao governo que essa matéria do IOF teria muita dificuldade de ser aprovada no Parlamento. O presidente de qualquer Poder não pode servir a um partido, ele tem que servir ao seu país”.
Na quarta-feira (2), também em uma rede social, a ministra de Relações Institucionais e o líder do governo na Câmara pediram à militância que não façam ataques pessoais . Gleisi Hoffmann disse que “o debate, a divergência e a disputa política fazem parte da democracia, mas nada disso autoriza os ataques pessoais e desqualificados nas redes sociais contra o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, o que repudio”.
José Guimarães disse que “o presidente Hugo Motta, como qualquer representante em uma democracia plena, tem o direito de defender suas convicções e que a luta do partido não se dirige contra indivíduos, mas em favor de princípios e propostas”.
Campanha na internet com ataques ao Congresso provoca preocupação e apelos por moderação
Jornal Nacional/ Reprodução
Nesta quinta-feira (3), o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, do PT, negou que qualquer tipo de ataque ao Congresso tenha partido do governo:
“Qualquer tipo de agressão desse tipo, dessa natureza, é por nós condenado. Não vem da parte nossa, da parte do Partido dos Trabalhadores, da parte dos partidos aliados qualquer intenção de agredir tanto o Congresso quanto os presidentes das Casas”.
O líder da oposição no Senado criticou o presidente Lula e o PT pelas ações. Rogério Marinho, do PL, disse que o governo não assume as suas responsabilidades:
“Há uma diferença entre a intenção e o gesto. A mesma mão que afaga, apedreja. É o presidente Lula e o PT que vão às redes sociais desqualificar e transferir responsabilidades ao Congresso Nacional que são suas. É este mesmo governo que quer sentar em uma mesa de negociação e pedir que haja bom senso de quem não deu causa”.
O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco, do PL, criticou a campanha do PT e do governo:
“O que o Partido dos Trabalhadores, o PT, está fazendo nas redes sociais é muito grave. Está usando inteligência artificial, dinheiro público e uma rede profissional de influenciadores está tentando dividir o Brasil entre ricos e pobres, colocando a culpa de tudo em quem produz, investe e gera empregos. Onde vamos parar com essa escalada de radicalismo? O Brasil precisa de paz, de equilíbrio, de responsabilidade, e não de um governo que instiga confronto social para tentar impor sua agenda fracassada”.
No meio dessa crise, o cientista político Carlos Pereira entende que o governo está atribuindo ao Congresso responsabilidades que são dele:
“O Executivo que é o responsável pela higidez tributária, pela higidez das contas públicas, pelo controle inflacionário de um país. Especialmente em regimes presidencialistas. É muito pouco crível que o eleitor mediano responsabilize o Legislativo por políticas universais, tipo controle do desemprego, controle inflacionário, controle das contas públicas. Sempre, no presidencialismo, é o Executivo que, para o bem ou para o mal, que será responsável por essas políticas. Então, não adianta o presidente Lula transferir essa responsabilidade e dizer: ‘Não, é o Congresso que não está me deixando fazer isso’, porque, para o eleitor, o eleitor sempre vai perceber o Executivo como o responsável por essas políticas”.
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