
Promotoria diz que Elizabete Arrabaça preparava alimentos com chumbinho e que o médico Luiz Antonio Garnica impediu que a esposa, Larissa Rodrigues, procurasse hospital. Os dois foram denunciados. MP denuncia médico por atrapalhar cena do crime em caso Larissa
A denúncia do Ministério Público que acusa o médico Luiz Antonio Garnica e a mãe dele, Elizabete Arrabaça, de matar a professora de pilates Larissa Rodrigues envenenada em março deste ano em Ribeirão Preto (SP) aponta que os dois agiram de forma premeditada.
O envenenamento, segundo a denúncia, foi progressivo, com doses diárias visando debilitar a vítima até causar a morte e dar a impressão que ela havia sofrido uma complicação decorrente de intoxicação crônica.
“A Larissa foi sendo envenenada ao longo de 10, 15 dias, em doses menores. Mas naquela sexta-feira a Larissa manifestou desejo de já na segunda-feira procurar um advogado. Ali seria o final do relacionamento e a consequente partilha de bens comuns ao casal. A Elizabete vai até o apartamento e, lá, dá uma nova dose, presumimos, mais forte porque a Larissa vem a morrer na madrugada”, diz o promotor do caso, Marcus Túlio Nicolino.
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Segundo o MP, em algumas ocasiões, Garnica chegou a buscar a sopa envenenada preparada pela mãe para oferecê-la à esposa. Além disso, ele medicou Larissa em pelo menos duas ocasiões com substâncias providenciadas pela mãe, sem que a vítima soubesse o que estava ingerindo.
Em consequência da intoxicação causada pela administração progressiva do veneno, Larissa começou a manifestar sintomas como náuseas, vômitos e diarreia.
“Em um desses episódios de mal-estar, Larissa chegou a pedir para ser levada ao hospital, mas Luiz Garnica além de se recusar a levá-la, proibiu a ofendida de ir ao hospital, em clara intenção de impedir Larissa na busca por socorro médico adequado, optando por acionar sua mãe para que trouxesse os “remédios”. A vítima, em meio à sua agonia, chegou a confidenciar que sentia que iria morrer, evidenciando o sofrimento prolongado e a progressão do envenenamento”, afirma a promotoria na denúncia.
Luiz Antônio Garnica, Larissa Rodrigues, Elizabete Arrabaça, Ribeirão Preto, SP
Reprodução/g1
Dias antes de ser morta, Larissa havia descoberto que o marido mantinha um relacionamento extraconjugal. Na véspera, ela chegou a enviar uma mensagem a Garnica mencionando que veria um advogado no início da próxima semana para começar a tratar da separação.
Na mesma noite, segundo a denúncia, Garnica entrou em contato com a mãe, que esteve no apartamento da nora por cerca de quatro horas.
O promotor destaca que o crime foi praticado por motivo torpe, impulsionado pelo desejo de Garnica de evitar a partilha de bens e de viver seu relacionamento com a amante, com a colaboração de Elizabete, que também tinha interesse financeiro na não divisão dos bens, principalmente um apartamento financiado pelo casal.
A administração do veneno de forma dissimulada, aproveitando-se da confiança de Larissa e da ausência de testemunhas, dificultou a defesa da vítima, que sequer desconfiava das intenções da sogra.
Mãe e filho estão presos temporariamente desde o dia 6 de maio. Nesta terça-feira (1º), eles foram denunciados por feminicídio com três qualificadoras: uso de veneno, motivo torpe e cruel mediante simulação e uso de recursos que dificultaram a defesa de Larissa.
Garnica também foi denunciado por fraude processual, por ter alterado a cena do crime no dia em que a professora foi encontrada morta no apartamento dela, ainda de acordo com o MP.
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Relacionamento extraconjugal
O Ministério Público descreve Garnica como alguém obcecado por seu relacionamento extraconjugal e pela eliminação de Larissa para viver o romance.
A denúncia cita que o médico planejou o crime porque passava por problemas financeiros e se recusava a aceitar se divorciar da esposa e ter que fazer a divisão do patrimônio.
Amante de médico suspeito de matar esposa presta depoimento à polícia em Ribeirão Preto, SP
Aurélio Sal/EPTV
As investigações indicam que Garnica avisou a amante sobre a morte de Larissa 15 minutos antes da constatação oficial do óbito, feita pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
“A questão patrimonial tornou-se um dos pontos centrais de preocupação para Luiz Garnica, conforme ele mesmo confidenciou à amante. […] A perspectiva de Luiz Garnica de ter que partilhar o patrimônio, especialmente o apartamento do casal, e a necessidade de se reestruturar financeiramente para suportar os custos de uma nova moradia ou compensar a cota parte de Larissa, revelou uma das motivações determinantes para a eliminação da vítima”, argumenta a promotoria.
Ainda segundo a denúncia, Garnica recusou-se a conceder o divórcio, optando por manter a Larissa sob seu domínio, ao mesmo tempo em que desfrutava de sua relação paralela com a amante.
“A propósito, cumpre mencionar que, conforme consta em denúncia anônima, o denunciado, conhecido por seu temperamento instável e possessivo, teria ameaçado a vítima, afirmando que, caso ela insistisse no divórcio, ele ceifaria sua vida por meio de uma injeção letal.”
A denúncia mostra um detalhe que ilustra a intensidade da paixão de Luiz pela amante. A polícia encontrou em seu histórico de buscas online pesquisas sobre a compatibilidade amorosa dos signos “leão e aquário”, referentes a ele e à amante. Essa pesquisa por afinidade astrológica foi realizada no início de março de 2025, dias antes da morte de Larissa.
“A nítida intenção de Luiz em prosseguir com a amante livremente se tornou clara após o crime, quando, em questão de dias, ele colocou [a amante] dentro de seu apartamento onde vivia com Larissa, e, menos de um mês após a morte da vítima, apresentou sua amante formalmente à sua mãe, Elizabete, em um almoço. Essa conduta revela um desinteresse absoluto pela memória da vítima e uma frieza atroz em perseguir seus interesses pessoais em detrimento da vida de sua esposa.”
Sogra se passava por amiga e cuidadora
Testemunhas relatam que Elizabete demonstrou forte oposição à ideia de Larissa ficar com metade do apartamento em caso de divórcio, considerando a partilha injusta. Essa preocupação patrimonial, somada aos seus próprios problemas financeiros, teria motivado Elizabete a aderir ao plano criminoso.
O Ministério Público sustenta que Elizabete não só tinha conhecimento integral da infidelidade do filho como o auxiliava na ocultação, monitorando o que Larissa sabia sobre o relacionamento extraconjugal. Ela chegou a demonstrar indignação quando a vítima filmou Garnica entrando e saindo do apartamento da amante.
Segundo o MP, Elizabete se valeu da relação de confiança e da proximidade com a nora para ministrar o veneno de forma dissimulada. Enquanto Larissa se recuperava de episódios de mal-estar, a sogra, sob o pretexto de cuidado e amizade, leva alimentos e até “remédios”, que na verdade continham a substância tóxica.
“A ação de Elisabete Arrabaça, por sua vez, revelou um desvio de caráter igualmente reprovável e monstruoso. Movida por um amor doentio e possessivo em relação ao filho, e impulsionada por suas próprias dificuldades financeiras e interesse na manutenção do patrimônio do casal, a denunciada não hesitou em auxiliar Luiz na execução de seu plano macabro. A premeditação de Elizabete é ainda mais evidente pelo seu histórico de buscas online em seu celular, realizadas em fevereiro e março de 2025, por termos como ‘formas de intoxicação’, ‘veneno chumbinho’ e seus efeitos, e ‘intoxicação por organofosforados e carbamatos’, o que demonstra um estudo prévio e deliberado sobre a substância e seus modos de ação.”
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