Disputa por nomeações deflagra crise entre ministro da Previdência e presidente do INSS e atinge Planalto

Em maio, o presidente Lula trocou a cúpula do Ministério da Previdência após o esquema de fraudes do INSS vir à tona. Dois meses depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trocar a cúpula da previdência em meio ao escândalo do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), o ministro da pasta, Wolney Queiroz, e o presidente da autarquia, Gilberto Waller Júnior, entraram em rota de colisão, numa crise que tem como centro a disputa em torno de indicações políticas.
No início de maio, logo após tomar posse, Wolney assinou uma portaria delegando ao presidente do INSS a decisão de nomear os superintendentes regionais, diretores e outros cargos comissionados da autarquia. A medida deu mais autonomia a Waller Júnior para fazer uma limpeza no órgão, missão que lhe foi dada pelo presidente Lula.
Até então, as nomeações estavam centralizadas na figura do ministro da Previdência, graças a uma decisão do antecessor de Wolney, o ex-ministro Carlos Lupi.
A autonomia de Waller para as trocas durou pouco: ontem (3), Wolney assinou outra portaria, delegando novamente ao ministro da Previdência o poder para escolher diretores, superintendentes regionais e outros cargos de confiança na cúpula do INSS.
Trocas irritam PDT e Centrão
As nomeações para estes cargos, tradicionalmente, são feitas para atender a interesses políticos. O estopim para a decisão de Wolney de centralizar novamente as indicações foi a troca na Superintendência Regional de São Paulo: Waller substituiu Hermenegildo Pires Alves, que é ligado ao ex-presidente do INSS José Carlos Oliveira.
Oliveira foi ministro da Previdência e do Trabalho no governo de Jair Bolsonaro e tem relação antiga com partidos de centro, como o PSD, de Gilberto Kassab, e o MDB, de Baleia Rossi. Oliveira é citado nas investigações da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) sobre o escândalo no INSS.
A CGU investiga o superfaturamento em contratos de vigilância eletrônica na Superintendência Regional de São Paulo. A troca teria sido motivada porque um novo contrato, ainda mais vultoso, seria assinado com a mesma empresa. Para o lugar de Hermenegildo, Waller escolheu Michelle Reis Moreira, ligada ao PT de São Paulo.
O presidente do INSS também exonerou o superintendente regional de Minas Gerais, Thiago Albertoni Prata, que também pertence ao grupo de Oliveira. Também há suspeitas de superfaturamento de contratos na Superintendência de Minas.
Waller também exonerou o superintendente regional do Rio de Janeiro, Marcos de Oliveira Fernandes, ligado ao ex-ministro Carlos Lupi e investigado na Justiça Eleitoral por suposta prática de caixa dois de campanha.
As trocas foram feitas sem que Wolney fosse avisado antes, o que provocou irritação no ministro. Da mesma forma, Waller só tomou conhecimento hoje da portaria que retirava sua autonomia para nomeações, após publicação no Diário Oficial da União.
As mudanças também irritaram o PDT e os partidos do Centrão, que decidiram envolver o Palácio do Planalto na crise. Representantes das siglas procuraram ministros próximos a Lula para reclamar desta situação. O Planalto, então, pediu a Waller que avisasse a ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann, sempre que decidisse trocar nomes da cúpula do órgão.
No meio da crise também há disputa por protagonismo: aliados de Wolney se queixam do excesso de exposição e de entrevistas dadas por Waller. Reclamam, ainda, que o presidente do INSS anunciou a data de 24 de julho para ressarcir os aposentados sem ter combinado com o ministro nem com o Palácio do Planalto.
Já no entorno de Waller há uma percepção de que Wolney atua para desgastá-lo. Há dúvidas se ele continua muito tempo no cargo. Um exemplo mencionado foi o constrangimento ocorrido durante uma comemoração do aniversário do INSS, no dia 27 de junho. Wolney teria dito, em tom de brincadeira, que avisou Lula que Waller era “frio e lava-jatista”. A fala causou mal-estar e ajudou a azedar a relação entre os dois.
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