
Artista carioca foi entrevistado no g1 Ouviu, o podcast e videocast ao vivo de música do g1, nesta quarta-feira (10). BK’ relembra disco tirado do ar por causa de sample não autorizado
BK’, um dos maiores rappers do Brasil hoje, foi entrevistado no g1 Ouviu, o podcast e videocast ao vivo de música do g1, nesta quarta-feira (10). A conversa fica disponível em vídeo e podcast no g1, no YouTube, no TikTok e nas plataformas de áudio.
Entre samples da MPB (Milton Nascimento, Djavan) e batidas originais criadas por produtores como Deekapz, JXNV$ e Nansy Silvvz, BK’ se tornou um dos artistas mais ouvidos no Brasil no streaming. Ele mistura rap com diversos estilos, incluindo MPB, funk, R&B e rock. Além da própria discografia, colaborou com nomes como João Gomes.
O fato de se misturar tanto com artistas de outros estilos, claro, gera críticas de alguns fãs de rap mais puristas, que não gostam tanto disso. “Estamos sampleando tudo, desde que o rap é rap… pra mim, isso é normal, só tem que ficar maneiro”, resumiu.
Na entrevista, ele falou sobre a importância de sua mãe para a consolidação de sua carreira. “Ela foi minha escola real. Ela me ensinou a escrever. Primeiros contatos que tive com música, minha mãe que botava em casa pra gente ouvir. E é muito doido, minha mãe é minha maior fã hoje em dia. No começo foi meio complicado.”
BK’ no g1 Ouviu
Rafael Leal/g1
O cantor ainda contou que a mãe analisa suas letras, vê o que ele está escrevendo e sugere leituras. “Ela é um dos pilares da minha vida, tanto pro Abebe (nome de batismo do cantor) quanto pro BK’.”
Abebe Bikila Costa Santos, nome real do artista, ainda relembrou o momento que ficou conhecido como ano lírico do rap, em 2017. “Foi uma mudança do que estava rolando e da competitividade. Aparece muita gente rimando muito. É caneta, caneta… foi um período bem maneiro. Estava todo mundo com muita fome de fazer, porque todo mundo enxergava um norte no cenário do rap. O ano lírico foi o momento da fome.”
BK’ começou o bate-papo comentando como o disco “Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer”, lançado em janeiro deste ano, foi pensado. O quinto álbum dele chamou atenção por misturar vários ritmos. “O mais doido é que no começo a gente não queria que tivesse essa variedade de estilos. Mas foi começando a aparecer produções e beats diferentes e a gente foi curtindo.”
Ele comemorou o fato de ter recebido a “benção” de Djavan para incluir samples do cantor no álbum. “Ele é o gênio máximo”, elogiou. A voz do ícone da MPB está em “Só eu sei”, que usa trecho de “Esquinas” (1984).
Uma das vozes mais marcantes do rap nacional, o carioca de 36 anos começou a carreira como produtor de vídeos, mas já escrevia versos desde criança. Em 2013, com amigos, formou o coletivo Nectar Gang.
O rapper BK’
Divulgação
O rapper também falou sobre a influência do álbum. “Quando a gente lança, cada um entende de uma forma. Mas para mim, é um disco sobre partida. Sobre ir, próximo passo.” Ele citou coisas que aconteceram em sua vida que o levaram ao disco. “O momento de sair do empresário que trabalhava. Amizades… quem é da cena tá ligado. Já vem também um lugar mais familiar, de romance, coisas da vida. Vivências, coisas minhas, histórias que a gente vai ouvindo.”
No podcast, ele analisou o motivo do crescimento dos samples nacionais. “Hoje em dia, ainda mais com muita IA [Inteligência Artificial] é muito fácil você cair na malha do sample gringo”, afirmou o artista, que relembrou que teve seu álbum tirado do ar por causa de um sample gringo. “O disco saiu do ar inteiro por causa de um sample de menos de um segundo.” Ele ainda afirmou que sentia mais liberdade de mexer com as músicas quando o sample não era legalizado.
O artista ainda revelou como foi a viagem para a Etiópia. No país africano, gravou um curta que fazia parte do lançamento de seu álbum mais recente. “Fui para lá com o disco fechado. Se estivesse fazendo um disco ainda, nossa entrevista seria no ano que vem. Porque sou muito de pegar as experiências dos lugares e passar pra música.”
O rapper explicou também como ele se transforma em outro BK’ a cada álbum. “A mente muda, as ideias mudam. Além de ter a marra do MC, desse lugar competitivo de MC, de querer se provar, provar que é versátil no estilo, tem também a mudança de ideias, de visão do mundo.”
Tentar “olhar o mundo cada hora com uma perspectiva diferente” é um dos segredos para fazê-lo ser tão ouvido em um estilo com tantos bons nomes. Para ele, a cena do rap é unida, mas muito competitiva. “O rolê do MC é um rolê bem competitivo. Você vai querer sempre ser melhor do que seu amigo. É normal.”
BK’ afirmou ainda se considerar um artista pé no chão e explicou como faz para não se perder no meio artístico e com a fama. “No começo, você dá uma emocionada. Mas se você quer pensar no longo prazo, você tem que ser sóbrio com as coisas que acontecem. É necessário você se filtrar, porque é muito fácil você se deslumbrar e se perder.”
“Evito deixar que qualquer tipo de cobrança fique na minha cabeça martelando”, afirmou o cantor, que disse só usar as redes sociais para “ver besteira”. “Artista é muito egocêntrico, qualquer coisa já fica ‘ai meu Deus’.”