
Federação das Indústrias, Centrorochas, representantes do café e economistas veem ameaça à economia capixaba caso medida seja mantida. Exportações para os EUA somaram bilhões em 2024. Espírito Santo é o líder no País em exportação de rochas naturais.
Findes
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil gerou forte reação no setor produtivo capixaba. O governador Renato Casagrande (PSB) classificou, nesta quinta-feira (10), a medida como ‘insana’. A taxação deve entrar em vigor em 1º de agosto.
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Em 2024, os Estados Unidos representaram 28,6% das exportações capixabas, segundo dados do Observatório da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).
Os principais setores potencialmente atingidos com a medida são aço, rochas ornamentais, papel e celulose, minério e café – todos com forte impacto na geração de empregos e arrecadação no estado.
“Nós vamos ter um custo maior para a exportação de produtos como aço, café, petróleo, pedras ornamentais, macadâmia gengibre, frutas. […] Isso poderá gerar desemprego, redução da atividade econômica, por isso a nossa preocupação e de todos do Brasil, na verdade, com essa medida insana, sem nenhum bom senso, sem nenhum amparo, uma medida política ideológica que precisa ser de fato observada e conduzida com cautela”, falou o governador, em entrevista ao vivo, no Gazeta Meio Dia..
Estados Unidos representaram 28,6% das exportações capixabas, em 2024.
TV Gazeta
Abertura econômica do ES está em risco
Pesquisadores do Espírito Santo apontaram que o ideal é produtor de café realizar a colheita com os frutos maduros, vermelhos
Reprodução/TV Gazeta
A Findes classificou a medida como ‘extremamente severa’ e tomada com base em interesses político-partidários. Em nota, a entidade afirmou que a decisão rompe com os princípios do comércio internacional e ameaça diretamente o desenvolvimento regional.
“O Espírito Santo possui uma das economias mais abertas do Brasil. Essa abertura, que é uma força do nosso desenvolvimento socioeconômico, nos torna também mais vulneráveis a decisões unilaterais e protecionistas como esta”, destacou.
A federação ressaltou que os EUA são o principal parceiro comercial do estado, com US$ 3,06 bilhões em exportações no último ano.
O anúncio, segundo a entidade, pode gerar instabilidade, queda nas vendas e perda de postos de trabalho, especialmente nos setores mais expostos, como aço, granito, papel e celulose, minério e café.
“Reafirmamos a importância do diálogo diplomático e da construção de soluções que respeitem as regras do comércio global”, disse a federação, que também colocou sua equipe técnica à disposição para propor alternativas e reduzir os impactos.
Risco para empregos no setor de rochas
Espírito Santo é o líder no País em exportação de rochas naturais.
Centrorochas
A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) também manifestou preocupação com a nova tarifa, apontando que os EUA são o principal destino das exportações brasileiras de rochas, especialmente do Espírito Santo, que responde por mais de 82% da receita nacional do setor.
“Essa taxação é muito preocupante, todo o setor está inseguro. Essa medida é como se fosse um embargo. É como se o Brasil ficasse fora do jogo, porque os concorrentes terão condições melhores de venda”, afirmou o presidente do Centrorochas, Tales Machado.
Em 2024, o mercado norte-americano respondeu por 56,3% das exportações brasileiras do setor, totalizando US$ 711,1 milhões. Desse montante, o Espírito Santo concentrou 82,3%, com US$ 672,4 milhões destinados aos Estados Unidos.
Machado apontou que a cadeia produtiva gera 25 mil empregos diretos no estado e cerca de 100 mil indiretos.
“Esperamos que o governo entre nas tratativas para reverter essa situação. Temos uma janela de um mês para negociação. A indústria capixaba é altamente competitiva, mas pode ser prejudicada de forma severa”, completou.
Taxação inviabiliza exportações de café para os EUA
Produtores de café estão preocupados com anúncio de taxa de 50% feito por Trump
Para o vice-presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), Jorge Nicchio, o impacto no setor cafeeiro também pode ser significativo. Segundo ele, os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de café e o Brasil é o maior exportador.
“Essa taxação praticamente inviabiliza as exportações de café para os EUA. Só do Espírito Santo, 10% do café exportado em 2024 foi para lá”, disse Nicchio.
A nível nacional, os EUA consumiram cerca de um terço do café brasileiro no último ano, gerando US$ 2 bilhões em receita. Nicchio afirmou que, com a tarifa, os principais concorrentes, como Colômbia, Vietnã e países da América Central, poderão avançar no mercado americano.
“O consumidor dos EUA vai sentir no bolso. Se houver café mais barato, ele vai preferir. Vamos tentar redirecionar a produção para Europa e Ásia, mas é uma situação delicada”, indicou.
Economista destaca a importância de diversificar mercados
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Em entrevista ao Bom Dia ES, o economista Rafael Furlanetti avaliou que o impacto da taxação pode variar conforme o produto. Segundo ele, o petróleo, que é um item do mercado global, tem maior possibilidade de ser redirecionar para outros mercados, mas itens como aço e granito, especialmente os feitos sob medida para o mercado dos EUA, não têm o mesmo destino imediato.
“Produtos mais específicos, como por exemplo, uma bobina de aço feita para o mercado americano produzida no estado, o que eu faço com isso? Não tem o que fazer, é esperar um pouco esse desdobramento das negociações para ver o que vamos fazer com a destinação desses produtos”, disse.
Furlanetti também mostrou preocupação com a cadeia de fornecedores de aço, especialmente os que atendem grandes empresas exportadoras, como a ArcelorMittal.
“É preciso pensar em um colchão para segurar esses fornecedores, que empregam milhares de capixabas.”
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Sobre o granito, o economista destacou a vulnerabilidade e ressaltou a importância do setor.
“Cerca de 80% do granito capixaba vai para os EUA. É um setor muito relevante, estratégico, que gera muito emprego, paga muito imposto. E no granito a gente tem uma concorrência internacional de outros países. Com a tarifa, perdemos competitividade e espaço”, avaliou o economista.
Para Rafael Furlanetti, o momento exige cautela, mas deixa um aprendizado sobre a importância de diversificar mercados e pensar alternativas.
“Jamais colocar todos os ovos em uma cesta só, sempre olhar diversificação de mercado, sempre estar atento, pensar outras alternativas. Em um mundo com tensões geopolíticas, fatos como esse podem ocorrer. […] Temos até agosto para negociar. Situações como essa vão se repetir”.
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