
Acidente ocorreu no início da semana no Setor Leste de Uberlândia. Motorista inabilitado, de 29 anos, se apresentou e prestou depoimento à Polícia Civil nesta quarta-feira (9). Menino de 8 anos morre atropelado por van escolar em Uberlândia
A morte do menino Noah Miguel dos Santos, de 8 anos, atropelado por uma van em Uberlândia, tem levantado questionamentos sobre a fiscalização do transporte escolar na cidade. O acidente ocorreu na noite de segunda-feira (7), no Bairro Residencial Integração, e o motorista responsável, Pablo Marques da Silva, de 29 anos, se apresentou à Polícia Civil apenas nesta quarta-feira (9).
➡️ Clique aqui e siga o perfil do g1 Triângulo no Instagram
Segundo a Polícia Militar (PM), o motorista não tinha Carteira Nacional de Habilitação (CNH), se recusou a prestar socorro e afirmou à mãe da criança que não poderia ajudar porque o veículo estava cheio de alunos.
Noah foi sepultado na manhã desta quarta-feira (9), no Cemitério Campo do Bom Pastor.
O g1 levantou as informações disponíveis até o momento para esclarecer os principais pontos sobre o caso que resultou na morte do menino Noah Miguel. Veja a seguir.
Como foi o acidente?
Segundo relato da mãe de Noah à PM, ela voltava para casa com os dois filhos após visitarem a avó das crianças. Noah atravessou a rua e, ao tentar retornar, foi atingido pela van, já nas proximidades da calçada. O impacto o deixou desacordado.
O menino foi socorrido por vizinhos e levado à Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do Bairro Morumbi, onde a morte foi confirmada.
Consta no boletim de ocorrência que o motorista chegou a descer do veículo, aparentando estar em estado de choque. Ainda conforme o relato da mãe da vítima, ela chegou a pedir que o motorista levasse Noah até a unidade de saúde. Porém, ele teria se recusado e fugiu do local do acidente sem prestar os primeiros socorros.
Quem é o motorista?
Pablo Marques da Silva, de 29 anos, era quem dirigia a van. A PM constatou que o motorista era inabilitado e fugiu após estacionar o veículo na garagem da empresa de transporte.
A proprietária da empresa, conhecida como “Transporte Escolar da Tia Fernanda”, disse aos militares que Pablo era motorista freelancer, contratado temporariamente, e que não sabia que ele não tinha CNH.
O motorista foi preso?
A Polícia Civil (PC) informou que Pablo se apresentou e prestou depoimento perante a Delegacia de Acidentes de Trânsito nesta quarta-feira (9). Ele estava acompanhado de advogado e não foi informado o que ele disse durante a oitiva.
Ainda segundo a PC, o jovem foi ouvido pelo delegado e liberado, por estar fora do período de flagrante.
Ele está sendo investigado pelo crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, previsto no artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro com a possibilidade de aumento de pena, em caso de condenação judicial, por se tratar de veículo de transporte de passageiros e por estar dirigindo sem habilitação legal.
O g1 tenta localizar a defesa do investigado.
A van estava regular?
A reportagem teve acesso à placa da van escolar envolvida no acidente e constatou que o veículo não estava credenciado para exercer a atividade de transporte escolar em Uberlândia, portanto, em condição irregular. A consulta foi feita junto ao sistema de vistorias e credenciamento da Secretaria de Trânsito e Transportes (Settran).
A empresa será responsabilizada?
Além da van envolvida no atropelamento, a polícia também apreendeu outra van na garagem da empresa, por apresentar vestígios de sangue.
Os proprietários assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e se comprometeram a comparecer ao Juizado Especial Criminal para responder pelo Art. 310 do CTB, por entregar a direção de veículo a pessoa não habilitada. A pena prevista é de detenção de seis meses a um ano, ou pagamento de multa.
Eles também devem ser ouvidos pela PC na investigação sobre o acidente.
O que disse a empresa?
O escritório Moura Advocacia, por meio do advogado Wellington Moura, informou que representa a empresa de transporte e enviou uma nota à imprensa esclarecendo que o motorista não fugiu do local do acidente. Disse ainda que ele só não levou a criança ao hospital por estar emocionalmente abalado e com alunos dentro do veículo.
Assim que souberam do ocorrido, os donos da empresa se colocaram à disposição da Polícia Militar e da Polícia Civil, e continuam colaborando com as investigações.
Ainda segundo a nota, a empresa entrou em contato com a família da vítima, oferecendo apoio. O advogado responsável foi pessoalmente à funerária e ao cemitério para ajudar com os custos, mas foi informado de que o funeral foi coberto por um seguro e que a família já havia feito os pagamentos. Mesmo assim, ficou combinado que a empresa reembolsaria os valores via Pix.
A empresa explicou que, após deixar a van no estacionamento no dia do acidente, o motorista foi embora. Quando foi confirmada a morte da criança, por volta das 22h, ele foi orientado a se apresentar à polícia, mas depois disso a empresa não conseguiu mais contato com ele.
Reforçou ainda que todas as vans da empresa são autorizadas pela Prefeitura de Uberlândia, contam com monitores treinados e motoristas habilitados. No entanto, a situação específica da habilitação do motorista envolvido no acidente está sendo investigada internamente.
Por fim, destacou que, no dia do acidente, havia duas monitoras na van: uma experiente e outra em treinamento. A van passou pelo local do acidente porque estava deixando o irmão da vítima, que ainda usa os serviços da empresa.
A empresa lamentou profundamente o ocorrido e disse que continua à disposição da família e da Justiça para colaborar com o esclarecimento dos fatos.
O que disse a família da criança?
Nas redes sociais, a mãe da criança, Jhamila Santos, expressou sua dor diante da perda do filho. Em uma das publicações, ela escreveu: “Eu te amei tanto, por que logo você”.
O jardineiro Alberto Macedo, avô de Noah, criticou a conduta do motorista que se recusou a prestar socorro ao neto e também a fiscalização no transporte escolar da cidade.
“Nada vai trazer o nosso Noah, mas uma coisa é preciso fazer. Que as autoridades prestem atenção nas concessões que eles dão para essas pessoas. Para transportar principalmente crianças pela cidade. Faz é tempo que eu venho observando isso e nada é feito. Não tem uma fiscalização, não tem nada. Eles andam aí como uma terra sem lei”, desabafou.
Avô de Noah Miguel criticou fiscalização de vans escolares
TV Integração/Reprodução
Leia também:
Vídeo mostra atropelamento de menino ao andar de bicicleta
Menino de 9 anos morre após ser atropelado
Van escolar com crianças cai em barranco
O que disse a Prefeitura de Uberlândia?
Em nota, a Prefeitura de Uberlândia, por meio da Settran, informou que realiza fiscalizações rotineiras e campanhas de conscientização, como a “Transporte Seguro, criança feliz”. A população pode consultar os veículos e profissionais credenciados no portal da Prefeitura.
Após outro acidente envolvendo van escolar e crianças, na zona rural de Uberlândia, comunicou ainda que convocará oficialmente os motoristas de vans escolares que prestam serviço à Secretaria Municipal de Educação (SME) para uma reunião geral.
A reunião deve ocorrer ainda neste mês para reforçar as regras e determinações para realizar o transporte escolar com segurança.
Noah Miguel não resistiu aos graves ferimentos e morreu
Reprodução/Redes Sociais
Atropelamento foi no Bairro Residencial Integração
Via-Drones/Divulgação
📲 Siga o g1 Triângulo no Instagram, Facebook e X
VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas