
EUA são segundo maior destino do etanol brasileiro, depois Coreia do Sul, mas indústria nacional já vinha buscando outros mercados. Usina de etanol e açúcar em Pitangueiras, SP
Jefferson Severiano Neves/EPTV
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador do etanol brasileiro, depois da Coreia do Sul, mas com a taxação de 50% que Donald Trump impôs ao Brasil, o biocombustível nacional vai perder espaço.
“A tarifa pode representar um acréscimo de US$ 200 a US$ 250 por mil litros, tornando o etanol brasileiro praticamente não competitivo no mercado americano”, diz Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios.
➡️ Mas não é que vai faltar etanol nos EUA. Eles são os maiores produtores globais do biocombustível – o Brasil é o segundo – e, por lá, o produto até sobra.
Mas eles precisam importar o etanol brasileiro – que é menos poluente – para cumprir metas de redução de gases de efeitos de estufa de programas federais e estaduais, e ganharem créditos por isso (entenda abaixo).
O g1 procurou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) para entender quais serão os impactos aos produtores do Brasil, mas a entidade disse que ainda estuda a medida.
Em uma entrevista concedida ao g1, em maio, o presidente da associação, Evandro Gussi, disse que o Brasil já vinha se voltando a outros mercados, como a própria Coreia do Sul, além do Japão, que vem construindo uma política pública de mistura de etanol na gasolina.
🔎O importador americano paga, tradicionalmente, 2,5% para comprar o etanol brasileiro. Em abril, Trump impôs uma tarifa de 10% a todos os produtos nacionais, o que fez essa taxa subir para 12,5%. Mas, a partir de 1º de agosto, os importadores devem começar a pagar 52,5% pelo bicombustível brasileiro.
Por que os EUA compram etanol do Brasil?
“Os EUA têm programas de incentivo aos biocombustíveis, tanto a nível nacional, como o Renewable Fuel Standard, quanto estaduais, como é o caso da Califórnia”, explica o analista da StoneX Brasil Marcelo Di Bonifacio Filho.
E o etanol brasileiro é considerado o mais sustentável dentre todos os países produtores, inclusive em relação ao americano. E isso acontece por vários motivos, segundo o presidente da Unica.
Um deles é que a indústria brasileira usa o bagaço da própria cana-de-açúcar para produzir energia elétrica e vapor dentro das usinas, o que gera uma emissão de dióxido de carbono (CO2) muito menor em relação ao gás natural e à rede elétrica que abastece as usinas dos EUA.
“Para você ter uma noção, o etanol brasileiro emite 21 gramas de CO2 (dióxido de carbono), enquanto o americano emite 60 gramas para cima”, comentou Gussi.
Como o etanol deve encarecer muito para o americano, a tendência é que eles importem menos e deixem de cumprir metas de descarbonização.
Até porque não existe outro país que produz etanol com baixa emissão de poluentes como o Brasil, diz o presidente da StoneX Brasil.
“Esse cenário vai resultar em uma menor remuneração para os participantes no mercado americano que dependem desses programas de incentivo a biocombustíveis”, diz Filho.
“O setor que mais vai perder nos EUA é o programa nacional de incentivo aos biocombustíveis”, acrescenta.
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