Com sonho de infância realizado, maestro leva banda marcial do interior de SP ao bicampeonato interestadual: ‘Sem palavras para descrever’


Projeto social realizado pelo maestro João Luis Rodrigues Siqueira, o Cuca, em parceria com a Prefeitura de Campina do Monte Alegre (SP), tem 75 crianças e jovens e ganhou campeonato interestadual por dois anos seguidos. Musicista que sonhava ser maestro desde os 7 anos é bicampeão com banda marcial
O trabalho do maestro João Luis Rodrigues Siqueira, o Cuca, à frente da banda marcial de Campina do Monte Alegre (SP) oferece a 75 crianças e jovens da cidade, que tem menos de seis mil habitantes segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a chance de um futuro melhor e também realiza o seu sonho de infância.
Pela segunda vez consecutiva, ele ganhou o campeonato interestadual de fanfarras, realizado em junho deste ano, no Paraná.
A banda marcial foi fundada em fevereiro de 2023, com apoio da Prefeitura de Campina do Monte Alegre, que contribui com alimento durante os ensaios, além de disponibilizar instrumentos às crianças e jovens.
“Sem palavras para descrever. Emoção única, sempre, como se fosse a primeira”, afirma o maestro Cuca.
João Luís Rodrigues Siqueira, maestro Cuca, da banda marcial de Campina do Monte Alegre
Arquivo pessoal/João Luís Rodrigues Siqueira
Apoio da comunidade
Os uniformes são confeccionados pelo Fundo Social de Solidariedade. A prefeitura oferece também o transporte, quando necessário, em apresentações. “É um projeto social com objetivo do culto cívico, elevação de autoestima, cultura do município através da música e a socialização dos jovens na formação de cidadãos”, conta.
“Fomos recepcionados como heróis na cidade, com direito a carreata parando a cidade na noite de sábado, 28 de junho. Foram mais de 50 veículos, além do apoio da Guarda Municipal e Polícia Militar”, relembra o maestro.
Banda marcial de Campina do Monte Alegre
Reprodução/Francyne Amad Campos
Cuca é natural de Itararé (SP) e atua como maestro há 29 anos. Ele já realizou projetos parecidos de bandas marciais em cidades da região de Itapetininga (SP), como Capão Bonito, Cesário Lange e Ribeirão Grande.
Mas o sonho de se tornar maestro ele carrega desde criança. “O meu contato com a música é desde os sete anos. Eu morava em Itararé e eu tinha uma fanfarra de lata no porão da minha casa. Eu já era maestro com sete anos”.
Início de um sonho: deu tudo certo
“Na verdade, eu era apaixonado, eu ia à igreja com a minha mãe e ficava sentado no primeiro banco, vendo a banda tocar. Com nove anos, eu comecei a aprender música e aí nunca mais parei. Fui para o Exército, fiquei dois e depois que saí, fui desenvolver meu primeiro trabalho com música na cidade de Ribeirão Grande”, recorda-se.
Agora, Cuca vivencia o amor pela música a partir do trabalho que realiza com as crianças. “Não tenho palavras. É uma sensação mais do que única, se você pegar como base um concurso, que é o julgamento do seu trabalho, e ter esse resultado”.
Os ensaios e aulas da banda marcial ocorrem duas vezes por semana, no ginásio municipal de Campina de Monte Alegre. O desempenho da equipe resultou em 396 pontos no campeonato deste ano.
“A banda competiu na categoria ‘Marching Band Banda Show’ e, para o concurso, foram realizados ensaios específicos e técnicos, trabalhando critérios existentes, tais como afinação, percussão, corpo musical, regência, repertorio e afins”, destaca Cuca.
Banda marcial de Campina do Monte Alegre
Arquivo pessoal/João Luís Rodrigues Siqueira
Musicista nato
Seguindo os passos do maestro, um pequeno musicista de Campina do Monte Alegre já se destaca pelo seu grande talento. Ruan Amad Ramos, de seis anos, entrou para a banda como mascote e, em pouco tempo, já se destacou.
“Ele tem um talento, esse menininho, que é fora de série. Ele estava na meia-lua, fazendo percussão, e aí ele pediu para a mãe para entrar num instrumento. Eu dei uma corneta para ele ir aprendendo, mas é um futuro trompetista, assim, de mão cheia”, destaca Cuca.
Francyne Amad Campos, de 50 anos, se enche de orgulho do filho único. A família não possui outro músico além do avô paterno, que tocava pandeiro em festas. “No dia do concurso, em Sengés (PR), ele falou para mim: ‘mamãe, meu sonho está realizado, entrei para a banda, já estou tocando instrumento de sopro e fomos bicampeões’”.
O interesse e desenvolvimento de Ruan com a música começou bem antes, relembra a mãe. “Com seis meses, ele já assoviava e, com três anos, o levávamos à igreja. Lá, ele já mostrava interesse pelos instrumentos. Eu e o pai tínhamos que sentar sempre perto dos músicos”.
“Ele pediu uma bateria em que queria tocar rock, pois ele sempre ouve com a gente. Logo em seguida pediu um teclado musical, compramos e aí foi só ‘barulho’. Sem saber as notas no teclado musical, ele tocou a música Baby Shark”, conta Francyne.
Ruan Amad Ramos, seis anos, é o prodígio da banda marcial de Campina do Monte Alegre
Arquivo pessoal/Francyne Amad Campos
Novos prodígios
Ruan teve o primeiro contato com a banda marcial aos quatro anos. “Foi a primeira vez que ele viu a banda de Campina tocar na cidade em um evento. O suficiente para se encantar e, no mesmo instante, ele virou para nós e falou: ‘quero entrar para a banda’”.
A família conversou com o maestro, que a advertiu sobre o fato da criança ainda não ser alfabetizada na época. Por causa disso, ele não poderia fazer parte da banda. Mas apresentou uma alternativa. “Que poderíamos encontrar um instrumento para a idade dele e ele faria parte da banda como mascote”, relembra.
“Compramos o instrumento meia-lua, o levamos no primeiro ensaio e ele já participou como se tivesse há tempos tocando o instrumento. Não precisou de aulas, o maestro apenas ensinou como tocar o instrumento corretamente. A partir dali, nunca mais parou”.
O interesse de Ruan continuou crescendo. “Mamãe, meu sonho é fazer parte da banda e tocar o instrumento de sopro”, ele falava, conforme Francyne. Quando ele completou seis anos, o pequeno participou do evento com a banda e tocou trompete.
“Mostramos para o maestro, e ele já incentivou o Ruan a tocar a corneta. Agora, ele tem uma gaita de boca também, que pediu para comprarmos, pois quer tocar a música Asa Branca'(Luiz Gonzaga)”, diz a mãe, orgulhosa.
Segundo Francyne, a banda marcial proporciona um ambiente de aprendizado coletivo. “Estimula a disciplina, o trabalho em equipe e a socialização. Os benefícios para o Ruan são os de promover o desenvolvimento da concentração, coordenação motora e autoestima”.
Natã Vieira, 15 anos, faz parte da banda marcial de Campina do Monte Alegre
Arquivo pessoal/Natã Vieira
Inspiração
Natã Vieira, de 15 anos, também faz parte do grupo há mais de um ano e conta que o maestro Cuca se tornou uma inspiração para seguir na carreira musical. “Um dos ensinamentos que eu acho muito importante é ter dedicação, é algo que ele fala muito para todos na banda”.
“Enxergo ele como uma inspiração na música, pois ele me ensinou tudo que sei sobre. Espero ser igual a ele no futuro e seguir na música”.
O jovem toca trompete desde os 14 anos e tem habilidades com outros instrumentos. Ele participou da competição e pode “trazer o troféu pra casa”, junto da equipe. “Eu sempre gostei de música. Sei tocar prato, caixa, bumbo, surdo, trombone de marcha… São muitas sensações, pois com muito esforço e dedicação de todos conseguimos conquistar mais esse título”.
“Ao entrar na banda aprendi muitas lições, a superar meus limites, descobri que sozinho vou longe, mas que acompanhado de pessoas certas, vou mais longe ainda. E aprendi muito com os ‘puxões de orelha’ do nosso maestro Cuca. De uma coisa sei: o show não pode parar”, finaliza.
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