
Artista plástica Renata Egreja transforma casa de fazenda em ateliê, em Ipaussu
O cenário bucólico da própria fazenda em Ipaussu (SP) é a principal fonte de inspiração para as obras da artista plástica Renata Egreja, que busca valorizar a força feminina e a autêntica cultura caipira.
📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp
Nascida de uma família de agricultores do centro-oeste paulista, a artista, que estudou em Paris, na França, onde foi premiada pela Université Paris-Dauphine, agora está com as obras em cartaz em São Paulo (SP).
Renata Egreja, artista plástica natural de Ipaussu (SP), utiliza a fazenda da família como referência para criar obras abstratas que valorizam as mulheres
Roberta Tossi/Divulgação
A mostra “Montanha de Mim”, com curadoria de Marina Bortoluzzi, pode ser vista até 9 de agosto, no espaço Fonte, no bairro Vila Madalena.
“É um outro olhar sobre o agro”, destaca Renata Egreja. “Quis retratar o interior paulista, a cultura agrícola, de um jeito poético, de uma maneira positiva”, conta a artista ao g1.
“Em tempos em que o agronegócio é visto muitas vezes sob uma perspectiva de vilão dentro de cenários políticos e para a conservação de meio ambiente no Brasil, é preciso reforçar que a presença de mulheres líderes no campo faz a diferença. Elas contribuem com a humanização, sustentabilidade e segurança alimentar das zonas agrícolas”, destaca ela.
Figura feminina
Com 24 trabalhos, entre pinturas e objetos, a exposição “Montanha de Mim” é resultado de uma trajetória de 16 anos por diversos salões, porém sempre mantendo os laços com a herança rural, fortemente marcada pela figura feminina.
Renata cresceu entre as plantações agrícolas. Saiu dali aos 14 anos, retornando duas décadas depois, em 2019, junto ao marido e às duas filhas, para viver e trabalhar. A fazenda onde mora em Ipaussu é de sua avó materna.
São mais de 100 anos de história nas paredes do imóvel, que abriga o ateliê da artista. Para ela, é uma forma de se reconectar com sua ancestralidade, fazendo questão de preservar as características históricas da casa-sede da fazenda, onde atualmente também planta cana-de-açúcar e soja.
O ateliê também recebe visitas agendadas de estudantes de escolas da cidade e da região.
“Sempre pintei, desde criança. Esfregava as flores no papel para fazer o colorido. A natureza do interior paulista evoca sentimentos. O pôr-do-sol, por exemplo, apresenta cores muito próprias no céu do centro-oeste”, diz. “É uma influência também da Tarsila do Amaral”, menciona a artista na qual se inspira.
Para Renata, voltar à casa da família na fazenda também compõe o ciclo de matriarcado iniciado com a avó e concluído após o nascimento das duas filhas. “As presenças da minha avó e da minha mãe sempre foram muito fortes na minha vida”, revela.
Obra ‘Montes de Noitinha’, presente na exposição de Renata Egreja, de Ipaussu (SP), em cartaz em São Paulo
Renata Egreja/Arquivo pessoal
Expansão simbólica
Mais do que um retorno à terra, a mostra “Montanha de Mim” marca uma expansão simbólica do próprio território criativo da artista.
“Se antes a narrativa da produção da Renata era permeada por códigos íntimos da domesticidade da mulher, atravessada pelas violências do cotidiano entre paredes, agora ela se ancora em uma poética mais telúrica, que ecoa vozes silenciadas de várias épocas e abre caminho para uma identidade coletiva, extraída da sua própria ancestralidade feminina”, explica a curadora Marina Bortoluzzi, no texto da exposição.
Marina é fundadora da plataforma mundial Women on Walls (WOW), que une artistas mulheres de várias partes para destacar o trabalho feminino nas artes plásticas.
“Montanha em Mim” chama a atenção pela pintura monumental e expandida, que rege o eixo curatorial e a paleta cromática da exposição. São quatro telas de amplas dimensões, que preenchem a sala expositiva.
A mostra é composta por outras 20 obras em técnicas e materiais diversos, como pintura a óleo e acrílica, pigmentos naturais e sintéticos, purpurina, aquarelas, instalação imersiva e cerâmicas.
Renata Egreja, no ateliê montado na centenária casa da fazenda da família, em Ipaussu (SP)
Marina Bortoluzzi/Divulgação
Operária
As obras de Renata Egreja carregam na essência a marca da propriedade rural em Ipaussu. Ali, em seu ateliê, a artista se define como uma “operária das artes”.
Mantém com disciplina a rotina diária de dedicação aos estudos e ao desenvolvimento artístico. Começa no ateliê de manhã. Às 11h, faz uma pausa para preparar o almoço, levar as filhas para a escola, e retorna em seguida.
“A mulher artista também precisa conciliar a rotina de mãe no Brasil”, declara.
Renata Egreja segura uma de suas obras, em meio ao cenário da fazenda em Ipaussu (SP), onde mora e mantém seu ateliê
Roberta Tossi/Divulgação
Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília
VÍDEOS: assista às reportagens da região