
Nome científico da noz-moscada é Myristica fragrans
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Você já viu uma noz-moscada recém-colhida da árvore? Ao contrário da semente seca e marrom que conhecemos nas prateleiras, a noz in natura é cercada por um véu vermelho vivo que parece uma rede.
Esse tecido fino de cor vibrante é chamado de macis, uma parte da planta que também é utilizada como especiaria e que guarda um aroma delicado, com notas que lembram canela e pimenta-do-reino.
“Aquele vermelho que envolve a semente é, na verdade, um arilo, uma estrutura que ajuda na dispersão por animais”, explica o botânico Milton Groppo, professor da Universidade de São Paulo (USP). “É esse visual marcante que muitas vezes surpreende quem nunca viu a planta no pé.”
Originária das Ilhas Banda, no arquipélago das Molucas (Indonésia), a noz-moscada foi por séculos um tesouro exclusivo da região. Até o século XIX, as ilhas eram a única fonte mundial da especiaria – o que a transformou em peça-chave nas rotas comerciais, disputada por portugueses, holandeses e árabes.
“Os portugueses foram os primeiros europeus a localizar a origem da noz-moscada, no século XVI, quebrando o monopólio da República de Gênova, que atuava como intermediária”, conta Groppo.
Fruto possui uma membrana vermelha que reveste a semente, chamada de macis
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Além de seu uso culinário, a noz-moscada carrega uma longa história de usos medicinais e místicos. Na Idade Média, por exemplo, era usada como amuleto contra a peste negra, pendurada no pescoço. E, ainda hoje, continua presente em pomadas, xaropes, perfumes e até pastas de dente.
Uma planta tropical exigente
A moscadeira se desenvolve melhor em regiões de clima quente e úmido, como no sul da Bahia, onde há cultivo comercial. A produção começa cerca de quatro anos após o plantio e pode durar por décadas, desde que respeitadas as condições ideais de solo e clima.
Outro detalhe interessante é que a planta é dioica: existem árvores “femininas” e “masculinas”. Apenas as femininas produzem os frutos, mas é preciso ter cerca de 10% de plantas masculinas por perto para garantir a polinização.
Efeitos tóxicos em grandes doses
Apesar de amplamente utilizada como tempero, a noz-moscada pode ser tóxica em grandes quantidades. “Doses acima de 5 gramas podem causar alucinações, taquicardia e até convulsões, por causa de um composto chamado miristicina”, alerta Groppo.
Esse mesmo composto, porém, é responsável por algumas das propriedades medicinais da planta, incluindo efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e analgésicos.
Myristica fragrans registrada no Caribe
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Parentes brasileiras
Embora a Myristica fragrans seja a mais conhecida do grupo, o Brasil abriga diversas espécies da mesma família botânica, especialmente na Amazônia. “Aqui temos gêneros como Virola, com usos tradicionais por comunidades locais”, diz Groppo. No interior paulista, por exemplo, é comum encontrar a Virola sebifera, também chamada de bicuyba-preta, em áreas de cerradão.
Noz-moscada ou macis?
Ambas as partes da planta – a semente (noz-moscada) e o arilo (macis)- podem ser utilizadas na culinária, mas têm perfis de sabor diferentes. A noz é mais amadeirada e levemente picante, enquanto o macis tem um sabor mais suave e refinado.
Por ser mais raro e difícil de extrair, o macis costuma ser mais caro e menos conhecido do público geral.
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