Fêmea de muriqui-do-norte sai de reserva e mobiliza operação de resgate em MG


Equipes de biólogos e ambientalistas atuam na Zona da Mata para localizar e resgatar o muriqui-do-norte
João Vitor Nunes/Inter TV dos Vales
Uma operação de resgate mobilizou biólogos, veterinários e ambientalistas na Zona da Mata mineira em busca de uma fêmea de muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) que deixou a Reserva da Mata do Sossego, em Simonésia, e circulou por uma região urbana próxima à divisa com Manhuaçu. O animal pertence a uma das espécies mais ameaçadas da fauna brasileira e precisa ser devolvido com segurança ao habitat natural.
“Quando a fêmea está prestes a se tornar apta a ter filhotes, ela migra. Mas, com a escassez de matas, acaba parando em locais isolados. E aí é preciso o resgate. E a gente só consegue fazer isso com o apoio da comunidade”, explicou o presidente do MIB, o Muriqui Instituto de Biodiversidade, Marcelo Nery.
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A travessia da fêmea surpreendeu os pesquisadores. Segundo os levantamentos realizados pela equipe, ela andou cerca de 30km desde a reserva ambiental até o local onde foi visualizada pela última vez, na RPPN Fazenda São Lourenço, que fica ao lado do bairro Pinheiro em Manhuaçu.
“Estamos impressionados com a distância que essa fêmea migrou… lavouras, estradas… e nunca tivemos um registro assim, tão próximo da cidade”, relatou a bióloga Fernanda Tabacow, que atua no monitoramento da espécie.
Ela contou que a fêmea — apelidada de Estrela — foi vista muito perto da área urbana.
“Aqui a gente estava na mata onde ela foi encontrada, e atrás dava para ver os edifícios, as casas… é uma situação inédita, e preocupante”, afirmou.
Fêmea de muriqui-do-norte foi vista em área urbana na Zona da Mata de MG, a cerca de 30 km da reserva onde vivia
Divulgação/MIB
Espécie criticamente ameaçada
O muriqui-do-norte é o maior primata das Américas e vive exclusivamente na Mata Atlântica brasileira. Segundo especialistas, existem hoje menos de mil indivíduos em vida livre. A espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção pela lista da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
A fuga de Estrela acendeu o sinal de alerta sobre o avanço urbano nas áreas de mata e reforçou a importância da preservação de pequenos fragmentos florestais.
“Aqui são só 8 hectares, mas não é menos importante. Esse caso mostrou pra nós da comunidade o quanto é fundamental preservar as pequenas ilhas de Mata Atlântica que ainda existem na nossa região”, reforça Eduardo Bazém, presidente da AMA — Associação de Proteção Ambiental.
Como funciona a operação de resgate
Equipes de biólogos e ambientalistas atuam na Zona da Mata para localizar e resgatar o muriqui-do-norte
João Vitor Nunes/Inter TV dos Vales
A equipe do MIB mapeou rotas de deslocamento com base em imagens de satélite, conectando trechos de floresta por onde o animal poderia ter passado.
“A gente abre imagens de satélite, registros, procura por conexões… elege as principais rotas ou fragmentos de floresta e começa a atuar. Não encontra no ponto zero, amplia o raio, procura em outros fragmentos e assim por diante”, detalha Leandro Moreira, diretor técnico do instituto.
No campo, o trabalho exige concentração e atenção a vestígios.
“A gente adentra na mata atrás de vestígios do muriqui… algum barulho irregular, cheiro, ou mesmo algum vestígio físico como fezes”, conta o biólogo João Vitor Faria. “É muita coisa que você tem que estar de olho. Principalmente numa região como essa, que é uma mata na borda da cidade.”
Caso a fêmea seja encontrada com segurança, ela será submetida a um processo de avaliação clínica antes de retornar ao grupo original.
“Depois da captura — que é um processo super difícil, super complexo — a gente precisa de um profissional capacitado para isso, que é o nosso anestesista e atirador”, explica a veterinária Mikaelly Frasson.
A fase seguinte é o cuidado com a saúde.
“A gente coleta sangue, investiga doenças, faz medidas… porque esse processo de translocação envolve uma série de desafios. Ela tem que voltar saudável, do jeitinho que saiu”, diz Mikaelly. “Quando a gente cuida de uma, a gente cuida da população, da espécie.”
Como a comunidade pode ajudar
A Rede Muriqui, iniciativa mantida pelo Instituto MIB, está mobilizada para receber informações da população. Qualquer pessoa que avistar o animal deve entrar em contato com a equipe e evitar se aproximar do animal.
Informações sobre avistamentos podem ser enviadas por WhatsApp para o número (33) 9 9155-7701.
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