
Conheça a história do Clube da Viola, movimento precursor do sertanejo universitário
Nos anos 1990, a música sertaneja passava por uma virada de chave com nomes como Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano e João Paulo & Daniel dominando as rádios e os programas de TV com composições românticas e um contexto mais urbano, ao invés do rural.
Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, um grupo de amigos, fã do estilo, começou a se reunir para fazer moda de viola em um bar. O sucesso da ‘Terçaneja’, como foi chamado o evento, acabou contagiando mais gente.
Duplas em começo de carreira e apaixonadas pelo estilo de vida caipira acabaram criando um movimento que tinha como objetivo tornar o sertanejo a música mais ouvida do país.
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E foi aí que nasceu o Clube da Viola. Em 1994, a dupla Fred & Pedrito e o empresário Matheus Calil miraram na popularização do sertanejo, mas acertaram em uma nova vertente do gênero.
De olho em um público mais jovem, o Clube da Viola acabou sendo pioneiro no estilo universitário, lançando a tendência.
“É o pioneirismo da música universitária. É quando a música sertaneja saiu de algumas bolhas de alguns públicos e penetrou em todas as classes sociais, faixas etárias. O Clube da Viola teve e tem essa responsabilidade da amplificação da música sertaneja”, diz Calil.
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Visibilidade
Não foi difícil conquistar essa fatia em uma cidade referência na formação acadêmica no interior do país. Mas o agito não ficou restrito territorialmente, percorreu o restante do estado de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
A proposta era dar uma forma mais descontraída ao sertanejo, atrair uma nova geração de ouvintes, mas sem perder a essência da boa moda.
“Foi algo que nós queríamos levar a música sertaneja para os mais jovens. Foi um momento de transição, não tocava tanto sertanejo nas grandes rádios. Quando criamos o Clube da Viola, havia muita rejeição. A grande imprensa não tinha esse momento que a música sertaneja vive hoje”, afirma Calil.
O empresário Matheus Calil, fundador do Clube da Viola em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Nessa empreitada, novos artistas foram agregados ao movimento: Roby & Roger, Guilherme & Gustavo, João Pedro & Cristiano, Maurício & Marcelo.
Em uma época sem celulares, internet ou streaming, músicas como “As Mocinhas da Cidade”, “Vida Cigana” e “Abre a Janela” bombaram no interior.
“Na nossa época era um pouco mais sofrido, né? Era mais tímido, era mais sofrido, a gente trabalhava muito pra você se manter”, diz o cantor Fred.
O sucesso foi registrado em oito CDs. O álbum “Clube da Viola Vol. 2”, gravado pelo selo Warner em 1999, conquistou o disco de ouro com 100 mil cópias vendidas. Um marco quando o Brasil já conhecia a pirataria, com CDs sendo vendidos em cada camelô na esquina. As músicas chegaram a programas líderes de audiência na TV aberta.
Na esteira do Clube da Viola, duplas que animavam bares, mas principalmente festas universitárias onde estavam inseridas, como João Bosco & Vinicius, César Menotti & Fabiano e Jorge & Mateus, conquistaram o mainstream.
“Uma conta que eu faço é que o que as pessoas ganharam em 30 anos, hoje estão ganhando em cinco, né? É um cenário que gira bastante, mas é um cenário que fomenta grandes eventos, com muitos empregos diretos e indiretos. Isso é muito importante”, diz o cantor Fred.
O cantor Fred, da dupla com Pedrito, é um dos fundadores do Clube da Viola
Érico Andrade/g1
Continuação do legado
Falar da história da música sertaneja desperta um clima de nostalgia, principalmente porque as pessoas tiveram suas vidas marcadas por alguma dessas fases.
Com esse sentimento, na última terça-feira (15), as duplas que fizeram parte da origem do Clube da Viola se reuniram em Ribeirão Preto para escrever um novo capítulo.
Em 2025, quando o movimento comemora três décadas, Fred & Pedrito, Guilherme & Gustavo, Maurício & Marcelo e Roby & Roger se reuniram no palco para gravar o DVD “Clube da Viola 30 Anos”. O show aconteceu na Fazenda Santa Candida, no distrito de Bonfim Paulista.
Na opinião do cantor Pedrito, a retomada do projeto chega para reviver boas lembranças e para apresentar o legado às gerações mais novas.
“A moçada muda, as crenças mudam, o linguajar muda, e você tem que estar atual. Obviamente, eles [nova geração] têm que saber de onde vieram as músicas de hoje, que foi até antes de nós, e é isso. Não tem muito segredo, é mostrar pra moçada que o que nós estamos fazendo hoje de som veio lá de trás, há 30 anos”, diz.
O cantor Pedrito, da dupla com Fred, é um dos fundadores do Clube da Viola
Érico Andrade/g1
A gravação contou com participações especiais, como a de Lourenço & Lourival, que é a dupla sertaneja mais longeva em atividade, Maria Cecília & Rodolfo e Guilherme & Benuto.
João Bosco & Vinicius, também pioneiros no estilo universitário, fizeram uma participação. A dupla, radicada em Ribeirão Preto há 16 anos e que já soma duas décadas de carreira, gravou a faixa “Bem Aos Olhos da Lua”, um sucesso de Juliano Cezar. O artista, com importante participação no Clube da Viola, morreu vítima de um infarto fulminante em 2019.
“Ter a honra de colocar a voz num sucesso do Juliano Cezar, que era daqui de Ribeirão Preto, que era nosso amigo, foi um dos primeiros caras que a gente conheceu quando estávamos começando e um cara que abraçou nosso trabalho, foi muito motivador. Muito emocionante fazer esse registro com os meninos”, diz Vinicius.
A nova fase do Clube da Viola prevê uma turnê de 50 shows que vão percorrer cidades do interior do país até 2026.
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