
Documentário conta histórias das mulheres indígenas brasileiras do grupo Guarani-Kaiowá
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O documentário “Ava Kuña, Aty Kuña: mulher indígena, mulher política”, da produtora Z&S Filmes, de Jundiaí (SP), conquistou o Silver Award no SmallRig Awards, festival chinês dedicado a obras audiovisuais com temas sociais. O curta retrata a resistência cultural e política das mulheres indígenas brasileiras, com foco na etnia Guarani Kaiowá.
O g1 conversou com a equipe do filme, construído de forma coletiva e com forte participação indígena. A direção é de Guilherme Sai e Julia Zulian, com roteiro da pesquisadora e roteirista indígena Yvoty Rendyju.
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Guilherme conta que conheceu Fabiane Medine Yvotu Rendyju durante o Festival Delas, realizado em Jundiaí (SP). E, segundo ele, foi a partir dessa troca de vivências e saberes que surgiu a ideia para a construção do curta-metragem, que documenta a Kuñangue Aty Guasu, a Grande Assembleia de Mulheres Guarani Kaiowá, entrelaçando as percepções, emoções e narrativas de duas mulheres: uma branca e uma indígena.
“Percebemos uma afinidade estética e ética. Aquela experiência nos uniu e plantou a semente para desenvolvermos trabalhos em conjunto”, conta Guilherme.
O documentário ‘Ava Kuña, Aty Kuña’, conquistou a premiação no festival chinês de Silver Award no SmallRig Awards
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O diretor conta que a produtora tem outras quatro obras em colaboração com lideranças indígenas. São elas: “Respeita Nossa História”, “Vermelho Urucum”, “Preto Jenipapo”, além do inédito “Yvoty Mbarete”, atualmente em produção.
“Ava Kuña, Aty Kuña: mulher indígena, mulher política” foi premiado em festivais ImagineNATIVE (Canadá) e Latino & Native American Film Festival (EUA). A obra também foi exibida no Festival de Cinema Indígena de Barcelona. Para Guilherme, o reconhecimento reforça a importância das histórias e memórias dos povos indígenas.
“É uma vitória simbólica contra o apagamento. A força política, estética e poética dessas histórias atravessa fronteiras. Estarmos em júris com vencedores do Oscar, Grammy e obras exibidas em Berlim e Sundance nos mostra que estamos no caminho certo”, afirma.
Segundo os diretores, a construção coletiva entre a produtora e os povos Guarani Kaiowá foi um diferencial. “O filme foi construído em diálogo constante nas aldeias, seguindo o ritmo comunitário. A técnica se coloca a serviço das pessoas. A câmera dialoga com a oralidade, com os sons do cotidiano e com a subjetividade dos encontros”, diz Guilherme.
Diretor Guilherme Sai foi um dos responsáveis por trabalhar no curta
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Para Julia, o processo também exigiu preparo emocional e escuta ativa. “Construímos tudo horizontalmente, garantindo que cada decisão fosse tomada em conjunto. O cinema é um campo de tensões políticas, espirituais e comunitárias”, explica.
Cinema como ritual de cura
Julia define o cinema como um “ritual de cura” quando realizado em diálogo com os saberes indígenas. “Esse processo cria um espaço onde memórias dolorosas podem ser revisitadas e a resistência se manifesta. O cinema, assim, preserva e revitaliza expressões culturais profundas”, diz.
Para Yvoty Rendyju, assumir o papel de roteirista e cocriadora foi uma virada pessoal e profissional. Ela encontrou no cinema um novo caminho para recomeçar. “No começo eu não conhecia nada de roteiro. Aprendi com a equipe, com leituras e longas conversas. Me inspirei em obras como ‘As Vinhas da Ira’, e pedi que o filme conversasse com as cores da terra e os céus do território”, relata.
“Foi uma cura. Eu renasci. O cinema me libertou e me devolveu uma profissão digna. Me vi como liderança, influenciadora, uma agente ativa”, afirma.
Diretora Julia Zulian
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Fabiane Medine Yvotu Rendyju acredita que o cinema é uma ferramenta poderosa de resistência e afirmação da identidade. “A estética do cinema favorece a percepção da magnitude da identidade indígena e deixa aparecer a poética que foi apagada pelo estigma”, conta.
Hoje, como roteirista e pesquisadora, ela se vê mais consciente de sua potência política: “A experiência me deu visão do que eu estava fazendo. Me deu força para reestruturar uma identidade mais genuína e maravilhosa da nossa existência cosmológica, social e política”, explica Fabiane.
Fabiane Medine Yvoty Rendyju, do povo AVÁ-Guarani
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*Colaborou sob supervisão de Júlia Martins
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