Haddad nega retaliação ao tarifaço de Trump e diz que Brasil não avalia taxar dividendos


Montagem mostra Haddad e Trump
TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO; ROBERTO SCHMIDT/AFP
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou neste sábado (19) que o governo brasileiro esteja avaliando retaliações contra os Estados Unidos em resposta à tarifa de 50% imposta pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos brasileiros. Em publicação nas redes sociais, Haddad afirmou que a adoção de medidas mais rígidas de controle sobre dividendos “não está em consideração”.
A declaração do ministro ocorre após uma semana de intensa pressão diplomática e forte repercussão política do chamado “tarifaço de Trump”, anunciado no último dia 9 de julho.
O presidente americano justificou publicamente a medida com motivação política. Em entrevista na Casa Branca, Trump afirmou que impôs a tarifa por considerar “uma desgraça” o que está sendo feito com o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.
“Conheço o ex-presidente. Ele lutou muito pelo povo brasileiro… o que estão fazendo com ele é terrível”, disse Trump. A retórica foi reforçada na carta enviada a Lula, em que o republicano classificou o julgamento de Bolsonaro como “uma vergonha internacional” e o chamou de “Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”.
O republicano afirmou, sem apresentar provas, que o Brasil também tem promovido “ataques insidiosos” contra eleições livres e violado a liberdade de expressão de americanos. O argumento econômico, ao qual Trump recorreu em outras ocasiões, também foi distorcido: ele alegou que os EUA têm déficit comercial com o Brasil, quando, na realidade, dados de ambos os países mostram que os norte-americanos compram mais do que vendem para o Brasil desde 2009.
Apesar do tom agressivo da carta e das falas de Trump, o governo brasileiro tem evitado responder com medidas de confronto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil é um país soberano e que “não aceitará ser tutelado por ninguém”, mas reforçou a disposição de buscar diálogo com os Estados Unidos.
Uma nova carta foi enviada nesta semana à Casa Branca, assinada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O documento manifesta “indignação” com a tarifa e cobra resposta a uma mensagem enviada anteriormente, ainda em maio. Até agora, não houve retorno.
No campo legal, o governo avalia a possibilidade de acionar a Lei da Reciprocidade Econômica, regulamentada nesta semana, que autoriza o Brasil a impor medidas similares contra países que adotem sanções unilaterais.
Lula já afirmou que o uso da lei será feito “quando necessário”, e indicou que o Brasil buscará apoio de outros países afetados pelas tarifas para levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
“A partir daí, se não houver solução, nós vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto, quando ele começa a taxar o Brasil”, disse o presidente em entrevista.
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