Alvin não é esquilo: conheça os verdadeiros roedores por trás dos personagens


O caxinguelê é um dos esquilos mais comuns no leste do Brasil
Leonardo Vilela/TG
Seja em parques ou florestas, uma coisa é certa: a imagem dos esquilos ganhou o mundo. A variedade de comportamentos e a aparência simpática transformaram o animal em personagem carismático de animações.
Para a pesquisadora Claire Pauline Röpke Ferrando, pós-doutoranda na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), não existe uma resposta única para essa popularidade em filmes de animações, mas o jeito hiperativo e as situações atrapalhadas rendem boas histórias e surpreendem o público.
O professor da Universidade Regional do Cariri (URCA) Fernando Heberson Menezes explica que nem sempre o personagem é um esquilo de verdade. O icônico “Scrat”, da série de filmes “A Era do Gelo”, por exemplo, é inspirado em um grupo de mamíferos extinto chamado multituberculado, que lembram roedores, mas não são esquilos.
Os personagens Simon, Alvin e Theodore no filme “Alvin e os Esquilos”
Divulgação
Já em desenhos como “Branca de Neve” ou “Alvin e os Esquilos” (Alvin and the Chipmunks), os famosos bichinhos são, na verdade, chipmunks, conhecidos em português como tâmias. Esses pequenos roedores são parentes próximos dos esquilos e se parecem com as marmotas.
Mesmo assim, o comportamento obcecado por uma noz gigantesca eternizou o estereótipo do esquilo colecionador, reforçando a fama de “bagunceiro” simpático.
Esquilo-cinzento-oriental
Quem nunca viu um esquilo ao vivo pode até achar que esses pequenos roedores são exclusivos de filmes e desenhos animados. Mas, em cidades como Filadélfia, nos Estados Unidos, eles fazem parte da paisagem urbana: vivem nos parques atrás de alimento, correm pelas árvores e não se intimidam com a presença de pessoas.
O esquilo-cinzento-oriental (Sciurus carolinensis) é uma das espécies mais comuns nos centros urbanos norte-americanos
João Vicente Peixoto
João Vicente Peixoto, um brasileiro de Vitória (ES) que vive há mais de duas décadas nos Estados Unidos, enviou ao Terra da Gente uma série de fotos e vídeos mostrando de perto o famoso esquilo-cinzento-oriental (Sciurus carolinensis), uma das espécies mais comuns nos centros urbanos norte-americanos. Ele mantém um olhar atento à natureza local e acompanha o programa pela Globo Internacional.
O mais curioso é que essa presença tão marcante não é por acaso. A Filadélfia foi pioneira nos Estados Unidos a introduzir esquilos em espaços públicos, ainda no século XIX, como projeto de transformação das praças públicas em um lugar encantador e divertido aos moradores.
“Em 1847, três esquilos foram soltos na Franklin Square, ganharam caixas para nidificação, comida e, aos poucos, conquistaram o coração dos moradores. A iniciativa se espalhou por outras cidades da Costa Leste, como Boston e New Haven, transformando os esquilos em verdadeiros ‘símbolos vivos’ dos parques”, conta João Vicente.
A Filadélfia foi pioneira nos Estados Unidos a introduzir esquilos em espaços públicos como projeto de transformação das praças públicas em um lugar encantador
John Martin/iNaturalist
“Na época, alimentar os animais era até incentivado, algo que hoje já se sabe não ser recomendado”, completa João.
Essa convivência tão próxima trouxe mudanças profundas. Segundo Claire, a urbanização do esquilo-cinzento nos Estados Unidos foi um processo ecológico e cultural, que moldou o modo de vida dos animais e também a forma como as pessoas viam a natureza na cidade.
Hoje, o esquilo-cinzento-oriental está espalhado em várias regiões do planeta. Fora dos Estados Unidos, ele é considerado uma espécie invasora, competindo com espécies nativas, como o esquilo-vermelho, também chamado de esquilo-vermelho-eurasiático (Sciurus vulgaris), que sofre com a disputa por alimentos e ainda é vulnerável a doenças transmitidas pelos “primos” norte-americanos.
O esquilo-vermelho é uma espécie muito comum por toda a Europa e Ásia
Aleksandra B./iNaturalist
Esquilos no Brasil
Diferente dos Estados Unidos, os esquilos brasileiros são menos acostumados à vida urbana. Segundo Heberson, no Brasil existe oito espécies conhecidas de esquilos diurnos e arborícolas.
Entre eles, destacam-se o quatipuru (Hadrosciurus spadiceus), com pelagem avermelhada e orelhas felpudas, e o caxinguelê (Guerlinguetus brasiliensis), de cores mais terrosas.
Esses animais habitam principalmente a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, mas podem ser encontrados também no Cerrado, na Caatinga e até no Pantanal. Embora mais ariscos, podem ser observados em algumas áreas de preservação, como no Parque Estadual da Cantareira, em São Paulo.
O quatipuru (Hadrosciurus spadiceus) tem pelagem avermelhada e orelhas felpudas
João Vitor Andriola
Além de encantadores, os esquilos desempenham papel essencial para a saúde das florestas.
“Podemos dizer que eles são jardineiros florestais, mesmo que não intencionalmente, porque algumas espécies de esquilos têm o hábito de enterrar frutas e sementes no solo para ‘guardar para mais tarde’, mas acabam esquecendo onde enterraram e as sementes acabam germinando, dando origem a novas plantas”, explica Heberson.
A convivência tão próxima entre esquilos e pessoas em áreas urbanas também pode trazer alguns problemas. Quando entram em contato com fezes ou urina dos animais, ou são mordidas ou arranhadas por eles, as pessoas podem contrair doenças.
Além disso, os esquilos carregam parasitas que também podem transmitir doenças aos humanos. Outro ponto é que, em grandes cidades, esses animais podem causar prejuízos ao roer cabos de energia, danificar jardins e até interromper o fornecimento de eletricidade em alguns bairros.
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