
Lucas da Silva Santos, de 19 anos, morreu no domingo (20) após dez dias de internação no Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo. O padrasto Ademilson Ferreira dos Santos é o principal suspeito do crime.
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo e Redes Sociais
A mãe de Lucas da Silva Santos, jovem de 19 anos que morreu depois de comer um bolinho de mandioca supostamente envenenado, passou a ser investigada pela Polícia Civil. As autoridades descobriram que ela foi a responsável pela compra da substância tóxica a pedido do padrasto, que está preso e é considerado o principal suspeito do crime.
No entanto, não há indícios de que ela soubesse da suposta intenção criminosa por parte do companheiro.
Ademilson Ferreira dos Santos, padrasto de Lucas, está preso preventivamente desde quarta-feira (16).
A Secretaria da Segurança Pública (SSP), informou que o comerciante responsável por vender o produto foi preso em flagrante no dia 17, mas já foi liberado.
“O caso é conduzido pelo 8º Distrito Policial do município. Segundo a autoridade responsável, o inquérito está em fase final e aguarda a conclusão do laudo pericial para o completo esclarecimento dos fatos”, disse a pasta.
O velório e o sepultamento do jovem acontecem nesta terça-feira (22), no Cemitério do Bairro dos Casa, em São Bernardo do Campo.
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Os policiais também informaram que o comércio localizado na Rua Agepê, em Diadema, não tinha qualquer controle técnico sobre a origem, destinação ou composição da substância usada para matar Lucas.
Foram encontrados no local seis frascos contendo o chumbinho que era comercializado ilegalmente.
“Durante a vistoria no ponto comercial, foram localizadas porções do chumbinho armazenadas de maneira rudimentar e irregular, sem rótulo, procedência, registro técnico, ou qualquer controle sanitário, representando risco concreto à saúde humana”, informou o registro policial da prisão.
O delegado chegou a estipular uma fiança de dez salários-mínimos para o comerciante, que não pagou o óbice e foi encaminhado para o Centro de Detenção Provisória de São Bernardo do Campo.
Vicente de Paulo disse na delegacia que conhecia Rosemeire, a mãe do jovem Lucas, e que ela e o marido – Ademilson Ferreira – eram clientes do local. Mas ele negou que soubesse do intuito criminoso do padrasto de Lucas ao comercializar o chumbinho.
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Morte de Lucas e doação de órgãos
Lucas da Silva passa mal após comer bolinho e é internado no Hospital de Urgência, em São Bernardo.
Montagem g1/Reprodução/Prefeitura de São Bernardo
A família de Lucas da Silva Santos, de 19 anos, decidiu autorizar a doação dos órgãos do jovem, que morreu no domingo (20) após dez dias de internação no Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. A polícia acredita que ele tenha comido um bolinho de mandioca envenenado.
Como Lucas sofreu uma parada cardiorrespiratória, alguns de seus órgãos ficaram comprometidos. Ainda assim, as córneas e os rins podem ser doados.
Até junho deste ano, em todo o estado de São Paulo, já foram realizados 4.229 transplantes de órgãos e tecidos, mas ainda há mais de 26 mil pessoas na lista de espera por um transplante.
Em estado grave, Lucas estava em leito de terapia intensiva e teve a morte encefálica confirmada pela Secretaria de Saúde de São Bernardo.
“Durante todo o período de internação, o município prestou a melhor assistência possível”, afirmou a pasta, em nota.
“A prefeitura lamenta a morte do jovem e seguirá colaborando com as autoridades. O município ainda aguarda resultados de exames do IML (Instituto Médico Legal) para mais detalhes sobre o que provocou o quadro clínico”, disse a prefeitura.
Prisão do padrasto
Na quarta (16), a Polícia Civil prendeu temporariamente Ademilson Ferreira dos Santos, padrasto do jovem. Para as autoridades, ele é o principal suspeito de ter envenenado Lucas.
Ele teria agido em razão de ciúmes, controle e sentimento de rejeição, segundo investigação da Polícia Civil.
Para a polícia e a família, ele passou mal após comer um bolinho que teria sido entregue ao enteado por Ademilson Ferreira dos Santos, preso preventivamente desde quarta-feira (16). Em seus depoimentos, ele se contradisse e demonstrou diversas inconsistências. A defesa dele não foi localizada pela reportagem.
Um print obtido pela TV Globo mostra uma conversa entre Ademilson e um pastor, em que o padrasto afirma estar com depressão e revela que já pensou em matar o enteado, mas que Deus o havia livrado disso.
A delegada responsável pelo caso, Liliane Doretto, deve indiciá-lo por homicídio triplamente qualificado:
Por motivo fútil, já que o crime teria sido baseado em ciúmes da vítima;
Pelo uso do veneno no alimento, caracterizando meio traiçoeiro de execução;
E por ter utilizado recurso que impossibilitou a defesa do jovem, já que o veneno estaria escondido em um alimento.
A polícia ainda aguarda o laudo da perícia para confirmar se os bolinhos estavam, de fato, envenenados e qual substância foi usada.
O inquérito policial está em fase de conclusão — ainda devem ser realizadas perícias para a elaboração do relatório final que será entregue à Justiça.
“O que justifica o pedido de prisão temporária é que ele, o tempo todo, tentou colocar a culpa na irmã. Disse que foi ela quem ofereceu, mas na verdade ele quem pediu. Ele é a única pessoa que leva os bolinhos e entrega pontualmente para cada um da família”, afirmou a delegada responsável pelo caso na terça (15).
A mãe de Lucas contou que recebeu os bolinhos em casa na sexta (11) e que foi o próprio Ademilson quem distribuiu os alimentos para os familiares.
“Ele abriu e tirou um pedaço, comeu. Depois deu para mim. Entregou o do Tiago no banco, que estava no banho, e levou o do Lucas até o quarto. Foi ele quem entregou tudo”, disse a mãe. Pouco depois do jantar, Lucas passou mal e desmaiou.
Em entrevista à TV Globo, Ademilson tentou colocar a culpa na irmã dele. “Ela me odeia porque eu sou preto e não sou irmão dela”, afirmou. Ele também lamentou o ocorrido, dizendo que Lucas estava prestes a ser promovido no trabalho.
A polícia já ouviu a tia de Lucas, que negou ter colocado qualquer substância na comida. Ela afirmou apenas estar afastada da família, mas que não há desavenças graves. Ela depôs pela segunda vez na tarde da terça-feira (15) e saiu sem falar com a imprensa.
A polícia ainda aguarda o laudo da perícia para confirmar se os bolinhos estavam envenenados e qual substância foi usada. Um print obtido pela TV Globo mostra uma conversa entre Ademilson e um pastor, em que o padrasto afirma estar com depressão e revela que já pensou em matar o enteado, mas que Deus o havia livrado disso.
Os investigadores estiveram nas duas casas — na do jovem e na da tia — para coletar amostras da massa dos bolinhos e dos ingredientes usados. O material foi encaminhado para perícia.
Bolinho envenenado
O jovem e os pais dele comeram o presente enviado e, em seguida, jantaram. Cerca de meia hora depois, ele passou mal e precisou ser socorrido com a ajuda de um vizinho à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) União.
Na unidade, o médico afirmou que Lucas apresentava um quadro de intoxicação compatível com envenenamento. Contudo, somente o exame toxicológico poderá confirmar a substância ingerida pela vítima.
Com sintomas que levantaram suspeita de intoxicação, Lucas foi levado a uma Unidade de Pronto Atendimento. A equipe médica acionou a Guarda Municipal ao suspeitar de envenenamento. A Polícia Civil, então, iniciou uma investigação.
O rapaz foi transferido para o Hospital de Urgência, onde está internado em leito de terapia intensiva. Segundo a Prefeitura de São Bernardo, o estado de saúde dele é estável, com suporte ventilatório e vigilância neurológica.
“O paciente evoluiu com necessidade de realização de hemodiálise e são aguardados resultados de exames que identifiquem o que ocasionou esse quadro”, informou a administração em nota.