Homem é condenado a 48 anos de prisão por estuprar, dar 18 facadas em jovem e abandoná-la em roda de caminhão em Santos, SP


Jovem sobrevive após levar 18 facadas e ser abandonada em roda de caminhão em Santos
Israel Gonçalves de Souza foi condenado a 48 anos e 8 meses de prisão por estuprar, roubar e esfaquear 18 vezes a jovem Vitória Raquel Celeste. O júri popular ocorreu, nesta quarta-feira (23), no Fórum de Santos, no litoral paulista. O crime aconteceu em 20 de maio de 2021, na Zona Noroeste da cidade. Em 2023, a vítima tirou a própria vida.
O ataque ocorreu durante a madrugada, quando Vitória, com 23 anos na época, foi abordada por dois suspeitos após sair de um estabelecimento comercial. Segundo a investigação, ela foi agredida e abandonada dentro do pneu de um caminhão. A jovem ficou internada por 12 dias.
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Na decisão, obtida pelo g1, nesta quinta-feira (24), o Tribunal do Júri condenou Israel Gonçalves à pena de 48 anos e 8 meses de reclusão em regime inicialmente fechado e ao pagamento de 100 dias-multa.
O advogado Mário Badures, que representa a família de Vitória, celebrou a sentença. Porém, ele lamentou a postura do réu que chegou a ameaçar e ofender, por meio de gestos, o pai da vítima, sendo retirado do plenário.
“Fez-se, em memória da vítima e em prol da sociedade ordeira, Justiça, aliviando a exemplar condenação o fardo e o peso do luto que acomete seus familiares e amigos”, afirmou o advogado, que considera o crime “de surreal bestialidade e violência atroz”.
De acordo com Badures, a vítima já havia apontado Israel como um dos autores das diversas formas de violência que sofreu. “Além das idas e vindas do processo, Vitória Raquel demonstrou uma coragem extrema ao apontar, em audiência judicial, todos os detalhes da selvageria a que foi submetida, mais uma vez reconhecendo o réu como autor desses crimes”, disse.
Ainda segundo o advogado, apesar da mulher ter sobrevivido ao crime, o caso teve relação direta com a morte dela, pois causou traumas que a fizeram tirar a própria vida.
“Como se sabe toda essa violência descomunal (a saber o atentado contra a sua vida e o crime sexual) deixam marcas internas que diariamente impactam na saúde mental por conta do stress pós-traumático”, disse ele.
O g1 não localizou a defesa de Israel até a publicação desta reportagem.
Vitória Raquel levou golpes na região da garganta durante o crime; (à dir.) O advogado Mário Badures e Raquel, em 2021
Arquivo pessoal
Relembre o caso
Vitória Raquel Celeste sobreviveu após ser atacada com 18 facadas no bairro Rádio Clube, em Santos. Badures destacou que ela demonstrou “coragem extrema ao apontar, em audiência judicial, todos os detalhes da selvageria a que foi submetida”, reconhecendo o réu como autor.
Em entrevista ao g1, na época do crime, Vitória relatou que estava de mudança do bairro e havia vendido móveis como sofá, armário da cozinha, fogão e geladeira. Na madrugada do ataque, ela e a companheira tentaram pedir comida por aplicativo, mas não conseguiram. Ela, então, foi até um estabelecimento comprar um salgado.
“Na volta, a duas quadras de casa, próximo a um colégio, escutei um assobio e olhei para ver se enxergava alguma coisa. Estava bem escuro e jogaram areia molhada nos meus olhos. Aí, os dois homens vieram com um pano na minha direção. Nessa hora, falei: ‘pode me roubar, pode levar’. Mas o que eles usaram no pano queimou demais meus olhos e meu nariz. Fechei o olho e senti meu corpo sendo arrastado. Depois, minha mente apagou”, contou à época.
Vitória afirmou que despertou algum tempo depois sendo enforcada por um dos agressores. “Ele dizia que eu não era ninguém, e eu não conseguia nem respirar. Enquanto isso, o segundo homem filmava. Depois, ele me falou ‘agora eu vou te mostrar o que é ser mulher'”, relembrou.
A vítima disse que falava “pode levar meu celular, meu dinheiro”, mas entendeu que a dupla queria abusar dela. “Eu estava em cima de um colchão, olhei para o lado e vi uma faca preta, que eu fiquei olhando para tentar pegar e me defender”, contou.
Vitória Raquel relata que chegou a levar golpe de faca na região da garganta e passou por cirurgia
Arquivo Pessoal
Ao tentar se proteger com a faca, ela foi dopada novamente. “Eu me lembro que esse homem, que estava quase nu, mandou o outro pegar meu dinheiro e ir comprar drogas para eles. Depois disso, apaguei de novo e não lembro com clareza se ele chegou a me violentar”.
Ela complementou: “Quando acordei de novo, os dois [suspeitos] estavam brigando. O que estava filmando foi embora, e o outro ficou. Eu apaguei de novo, já estava um pouco machucada”, disse Vitória, que acordou em estado de choque e coberta de sangue.
Uma mulher que trabalhava em uma banca de jornal próximo ao local viu Vitoria caída em uma roda de caminhão e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
“Ela achou que eu estava morta. Até então, eu não sabia que tinha levado 18 facadas, fui saber disso no hospital. Eu ter sobrevivido, acredito que foi um milagre, foi Deus mesmo. Porque uma das facadas atingiu minha garganta, eu achei que nem voltaria a falar”.
Dias internada e agradecimento
Vitória chegou a escrever carta em agradecimento a equipe de hospital que a tratou após crime
Arquivo pessoal
Vitória ficou internada por cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outros sete em um quarto da Santa Casa de Santos. Segundo ela, o bom atendimento recebido no hospital, aliado ao apoio da família e à mobilização de centenas de pessoas que doaram sangue, foram fundamentais para sua recuperação.
A campanha de doação aconteceu após a família compartilhar o caso nas redes sociais. A solidariedade dos internautas levou dezenas de pessoas ao hospital, e Vitória chegou a escrever uma carta de agradecimento à equipe médica.
Em entrevista ao g1, a jovem relatou que, aos poucos, começou a lidar melhor com o trauma e a recuperar a rotina. Ela falou que aprendeu a respeitar suas emoções e a compreender que não teve culpa pelo que aconteceu.
“Passei por um crime brutal por ser mulher, mas sei que não tive culpa de nada. Isso tudo me mostrou que Deus é amor, porque eu sobrevivi. É ainda muito difícil, mas eu resolvi falar para ajudar mulheres e outras vítimas, sejam homens, crianças, a serem fortes. Temos que respeitar nossa dor, mas também fazer algo para que essa dor não cresça, ou seja, ter esperança na Justiça”, afirmou ela, na época.
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