
Vítimas tiveram queimaduras graves devido a tortura, em Mato Grosso do Sul
Arquivo pessoal
Um pai de santo de 40 anos é investigado por tortura e ameaças durante um ritual de Candomblé em Campo Grande (MS). O caso foi denunciado à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) na terça-feira (22), seis dias após o ocorrido, na Vila Nhanhá.
A delegada Analu Ferraz informou que as vítimas acreditavam estar participando de rituais religiosos, mas os castigos aplicados não tinham justificativa dentro da tradição do Candomblé.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp
Segundo o boletim de ocorrência, o suspeito disse estar incorporado e deixou as mulheres em pé por cerca de duas horas. A esposa dele e uma jovem de 21 anos foram obrigadas a ficar ajoelhadas por mais de uma hora e meia, como forma de punição.
“Além de deixar a gente de pé, no frio, descalça e no sereno, ele deixou a esposa dele e uma outra irmã de santo, de joelhos por mais de uma hora e meia, porque teriam errado. A esposa dele ficou de joelhos porque ela teria ‘desaforado’ o pai de santo, no caso ele, e a outra irmã porque atrasou para chegar na aldeia”, relatou uma das denunciantes, de 44 anos, que não será identificada.
As vítimas também relataram à polícia que foram forçadas a tomar cachaça e segurar uma vela, enquanto ficavam ajoelhadas por mais de uma hora.
Ainda conforme relatado pelas vítimas, como forma de punição, o suspeito mandou as mulheres ficarem em fila indiana para fazer um ritual em que se coloca pólvora na mão e ascende com um charuto. À polícia, elas confessaram que a prática não é comum, mas que todas obedeceram a ordem sob “ameaça” de que se não fizesse ou se incorporasse alguma entidade seria “retirada a cabeçada”.
Após o ritual, elas foram impedidas de limpar os ferimentos, o que resultou em queimaduras de segundo e terceiro grau.
“Eu achei de uma extrema violência todas as ameaças […] lá na hora mesmo a gente foi proibido de se cuidar”, contou.
A vítima relatou que essa foi a segunda vez que viu um ritual com punições. Após o ocorrido, buscou orientação com outros praticantes, que afirmaram que esse tipo de violência não é parte da tradição das religiões de matrizes africanas.
A vítima também procurou o pai de santo após o fato. Segundo ela relatou para a polícia, ele disse que a tortura faz parte dos rituais, mas afirmou não lembrar do que fez por estar incorporado.
As vítimas foram submetidas a exames de corpo de delito na DEAM. O caso foi registrado como lesão corporal e ameaça, e será investigado pela 5ª Delegacia de Polícia.
Religiões de matrizes africanas são as mais atacadas no Rio de Janeiro, diz relatório
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul