
Jeffrey Epstein e Donald Trump mantinham relação próxima em 1997.
Getty Images via BBC
A Casa Branca reagiu à notícia de que o presidente americano, Donald Trump, foi informado em maio de que estava entre as centenas de nomes mencionados nos documentos do Departamento de Justiça relacionados a Jeffrey Epstein — o magnata financeiro acusado de comandar uma rede de tráfico sexual de menores, encontrado morto na prisão em 2019.
O Wall Street Journal publicou que o presidente foi informado do fato pela procuradora-geral, Pam Bondi, durante uma reunião de rotina. E observou que aparecer nos documentos não era sinal de qualquer irregularidade por parte de Trump.
Em resposta, um porta-voz da Casa Branca classificou a reportagem como “notícia falsa”.
O governo Trump tem enfrentado uma pressão cada vez maior para divulgar mais informações sobre o caso Epstein — de quem Trump era amigo até, segundo o presidente, eles se desentenderem em 2004.
Durante a campanha para a presidência no ano passado, Trump prometeu divulgar esses arquivos sobre o criminoso sexual bem relacionado.
Mas, desde então, seus apoiadores ficaram frustrados com a maneira como o governo lidou com a questão, incluindo o fato de não ter entregado uma suposta “lista de clientes” de Epstein. Em comunicado no início deste mês, o Departamento de Justiça e o FBI, a polícia federal americana, disseram que não havia tal lista.
Epstein morreu em uma cela de prisão em Nova York em 2019, enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual, após uma condenação anterior por aliciamento de uma menor para prostituição. Sua morte foi considerada suicídio.
Seus crimes e a natureza da sua morte têm sido objeto de teorias de conspiração há muito tempo.
Em paralelo, na quarta-feira (24/07), uma juíza na Flórida negou o pedido do Departamento de Justiça para tornar públicos os arquivos do tribunal relacionados ao processo contra Epstein.
Mais tarde, no mesmo dia, uma subcomissão da Câmara dos Representantes votou a favor de intimar o Departamento de Justiça para obter seus arquivos. A ordem legal deve ser assinada pelo presidente da comissão antes de ser emitida oficialmente.
Durante sua reunião com Trump em maio, Bondi disse ao presidente que os arquivos continham boatos sobre muitas pessoas, inclusive Trump, escreveu o Wall Street Journal.
Isso contradiz um relato feito no início deste mês pelo presidente, que respondeu “não, não” quando perguntado por um jornalista se Bondi havia dito que seu nome aparecia nos arquivos.
Bondi também teria dito ao presidente que os registros de Epstein incluíam pornografia infantil e informações sobre vítimas que não deveriam ser divulgadas, informou o Wall Street Journal na quarta-feira.
Ser mencionado nos documentos não é evidência de qualquer atividade criminosa, e Trump jamais foi acusado de irregularidades em conexão com o caso Epstein.
A reportagem foi posteriormente confirmada por outros meios de comunicação dos EUA, mas não foi verificada de forma independente pela BBC.
Steven Cheung, porta-voz de Trump, classificou a reportagem como “nada mais do que uma continuação das notícias falsas inventadas pelos democratas e pela imprensa liberal, assim como o escândalo Russiagate de Obama, sobre o qual o presidente Trump estava certo”.
A procuradora-geral afirmou: “Nada nos arquivos justificava mais investigações ou processos”.
O diretor do FBI, Kash Patel, declarou: “Os informantes criminosos e a mídia de fake news tentam incansavelmente minar o presidente Trump com difamações e mentiras, e essa história não é diferente”.
Mas um funcionário não identificado da Casa Branca disse à agência de notícias Reuters que eles não estavam negando que o nome de Trump aparecesse nos documentos.
O funcionário apontou para os arquivos de Epstein divulgados meses antes pelo Departamento de Justiça que incluíam Trump.
Esses arquivos, distribuídos a influenciadores conservadores em fevereiro, incluíam os números de telefone de alguns membros da família de Trump, incluindo sua filha.
Trump havia instruído Bondi a buscar a liberação de todos os documentos do grande júri, o que levou o Departamento de Justiça a solicitar aos tribunais na Flórida e em Nova York que tornassem públicos os arquivos relacionados ao caso em ambas as jurisdições.
Mas a juíza Robin Rosenberg decidiu na quarta-feira que a liberação dos documentos do processo de Epstein na Flórida violaria as diretrizes estaduais que regem o sigilo do grande júri.
“As mãos do tribunal estão atadas”, afirmou a juíza nomeada por Obama em seu despacho de 12 páginas.
As transcrições em questão são resultado da investigação da Flórida sobre Epstein em 2006, que o levou a ser acusado de aliciar uma menor para prostituição.
A juíza Rosenberg também se recusou a transferir a questão para Nova York, onde dois juízes estão decidindo separadamente se devem liberar as transcrições relacionadas à investigação de Epstein sobre tráfico sexual de 2019. Essa solicitação ainda está pendente.
Os últimos desdobramentos acontecem no momento em que os holofotes voltam a se concentrar em Ghislaine Maxwell, condenada por tráfico sexual, que está cumprindo uma pena de 20 anos de prisão por ajudar Epstein a abusar de meninas.
Um alto funcionário do Departamento de Justiça está planejando se encontrar com a ex-socialite britânica para discutir seu conhecimento sobre o caso, confirmou seu advogado à BBC.
Além da intimação para obter os arquivos do Departamento de Justiça, os republicanos da Comissão de Supervisão da Câmara haviam enviado anteriormente uma intimação legal para que Maxwell compareça perante o órgão, remotamente a partir da prisão, em 11 de agosto.
Seu advogado, David Oscar Markus, disse à BBC que, se ela decidir testemunhar, em vez de invocar seu direito constitucional de permanecer em silêncio, “ela testemunharia com sinceridade, como sempre disse que faria”.
“Quanto à intimação do Congresso, Maxwell está dando um passo de cada vez”, acrescentou ele.
“Ela aguarda ansiosamente a reunião com o Departamento de Justiça, e essa discussão vai ajudar a determinar como ela vai proceder.”
O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, advertiu que não se pode confiar em Maxwell para prestar um depoimento preciso.
O republicano da Louisiana afirmou: “Quero dizer que essa é uma pessoa que foi condenada a muitos e muitos anos de prisão por atos terríveis, indescritíveis, conspiratórios e contra jovens inocentes.”
Bondi disse no início deste mês que o Departamento de Justiça dos EUA não havia descoberto nenhuma “lista incriminadora de clientes” de Epstein.
Ela também afirmou que ele tirou a própria vida em uma prisão de Nova York em 2019 — apesar de teorias da conspiração sobre sua morte.
Bondi havia sugerido anteriormente que faria grandes revelações sobre o caso, dizendo que tinha “muitos nomes” e “muitos registros de voos”.
A mudança de postura da procuradora-geral provocou a ira de alguns dos mais fervorosos apoiadores de Trump, que pediram sua renúncia.
Os democratas aproveitaram a briga interna dos republicanos para acusar o governo Trump de encobrimento.
Na terça-feira, o presidente da Câmara dos Representantes decidiu antecipar o recesso parlamentar em um dia, em uma tentativa de adiar os esforços legislativos para forçar a divulgação de documentos relacionados a Epstein.
Mas os rebeldes republicanos da Comissão de Supervisão da Câmara votaram na tarde de quarta-feira para forçar o Departamento de Justiça a liberar os arquivos.
Três republicanos — Nancy Mace, Scott Perry e Brian Jack — se juntaram a cinco democratas para votar a favor da intimação. Dois republicanos votaram contra.
Mas James Comer, o presidente republicano da Comissão de Supervisão da Câmara, precisa assinar o documento para que a intimação legal prossiga.