Rastreabilidade sustentável: técnicas aplicadas no agronegócio de MT podem combater insegurança alimentar


A rastreabilidade de grãos e o monitoramento por satélite têm contribuído para garantir alimentos mais seguros
Aprosoja Mato Grosso
Mais de 64,2 milhões de pessoas enfrentaram algum grau de insegurança alimentar, segundo o último dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2024. Em Mato Grosso, a rastreabilidade de grãos e o monitoramento por satélite têm contribuído para garantir alimentos mais seguros, com origem comprovada e maior responsabilidade ambiental.
Além da falta de comida no prato, a insegurança alimentar inclui a dificuldade de acessar alimentos seguros e de qualidade. Uma análise feita pela Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) mostra que práticas de alta eficiência produtiva e foco na sustentabilidade fortalecem a qualidade da cadeia produtiva e contribuem para a segurança e transparência alimentar no Brasil e no mundo.

Entre as práticas, se destacam:
📡rastreabilidade da produção;
📋certificações socioambientais;
🛰️tecnologias de controle e transparência;
Ao g1, o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, explicou que o processo de rastreabilidade começa com a verificação das licenças e autorizações ambientais de cada produtor.
Além disso, certificações socioambientais, como o Selo Soja Plus, programa da Aprosoja para aprimorar gestão de propriedades rurais produtoras de soja, complementam essa verificação, contando com auditorias independentes reconhecidas pela Bolsa Nacional de Produtos e Títulos (BNPT).
“Além de ter um selo, o primeiro passo é o produtor estar de acordo com o nosso Código Florestal Brasileiro. Para isso, são feitas as verificações por imagem de satélite. A certificação vai além com uma segunda verificação que reforça a conformidade ambiental e social, o que abre portas para mercados internacionais como a China e a União Europeia”, explicou.
Para o presidente, que também é produtor rural, o alimento que sai do campo é essencial para manter a vida urbana saudável. Segundo ele, o uso de tecnologias como imagens de satélite e QR Codes permitem rastrear a produção com mais controle e transparência, garantindo segurança sobre o que chega na mesa da população.
Como a transparência reduz o desperdício de alimentos
A rastreabilidade sustentável contribui diretamente para a segurança alimentar e nutricional
Arthur Alves/PMM
A nutricionista Caroline Cardoso Ferreira Faria defende que a rastreabilidade sustentável, aliada a práticas de produção responsáveis, tem papel estratégico na estruturação de uma cadeia alimentar mais justa e eficiente.
“Essa prática fortalece a confiança no sistema alimentar e garante que o alimento chegue com qualidade e dignidade a quem mais precisa”, contou a especialista ao g1.
Segundo ela, essa tecnologia contribui diretamente para a segurança alimentar e nutricional ao possibilitar a detecção rápida de falhas, o que reduz a ocorrência de erros e acelera a resolução de problemas, como em casos de contaminação por bactérias como Salmonella, que causa intoxicação alimentar e pode provocar graves infecções.
“O caminho para garantir comida no prato das famílias em situação de vulnerabilidade é valorizar o pequeno produtor, organizar os canais de comercialização pública e direta, bem como assegurar acesso físico e econômico ao alimento de verdade”, ressaltou.
O combate à insegurança impulsionado pela agricultura familiar
A pesquisadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), Verônica Gronau Luz, ressaltou que os avanços tecnológicos no campo podem trazer benefícios ainda mais amplos se forem acessíveis também à agricultura familiar.
Entre as políticas públicas destacadas por ela, está o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), considerado uma das iniciativas mais antigas e abrangentes no combate à insegurança alimentar no Brasil. Criado na década de 1950 e aprimorado ao longo dos anos, o programa passou a exigir, desde 2009, que pelo menos 30% dos alimentos adquiridos para a merenda escolar sejam provenientes da agricultura familiar.
“Assim você garante que esse agricultor familiar tem escoamento de produção e que a criança coma comida de qualidade. No Brasil, temos várias políticas e programas e uma medida urgente seria fortalecer essas iniciativas e trazer cada vez mais acessibilidade para esses agricultores familiares, especialmente à população indígena e quilombola”, frisou.
Avanços tecnológicos no campo têm potencial para transformar a produção agrícola
freepik
Para ela, o fortalecimento dos pequenos produtores deve estar aliado ao uso de práticas sustentáveis, começando pela escolha de sementes não transgênicas, a fim de preservar a genética das culturas e reduzir os impactos ambientais associados ao uso excessivo de agrotóxicos. Segundo ela, isso garante uma cadeia alimentar mais equilibrada e com alimentos mais saudáveis.
De acordo com o professor Carlos Silva Júnior, que atua no mapeamento de soja por satélite e é CEO da startup de gestão de dados, SpectraX, a crescente exigência dos mercados internacionais por transparência e sustentabilidade na produção de alimentos e o uso de tecnologias avançadas no campo se tornou um diferencial estratégico.
O especialista afirmou que ferramentas digitais têm possibilitado um controle mais preciso sobre a origem dos produtos e a regularidade ambiental das áreas produtoras, favorecendo a inserção do agro brasileiro em novos mercados.
“Com o uso de tecnologias como satélites, QR Codes e blockchain, é possível monitorar propriedades em tempo real, verificar conformidade ambiental, identificar áreas embargadas e validar informações sobre o uso do solo. Isso tudo contribui para tornar o agro brasileiro mais competitivo e confiável no mercado internacional e faz o mundo ver o quão sustentável é o Brasil na produção de alimentos”, pontuou.
🌾Saldo positivo na produção de soja e milho
Com o avanço da tecnologia no campo e a consolidação de práticas mais sustentáveis, a produtividade da safra 2024/2025 em Mato Grosso apresenta números expressivos, especialmente no cultivo de milho. Os dados consideram o período desde o início da safra até o dia 4 de julho.
O estado, que se mantém como um dos maiores produtores agrícolas do país, alcançou 126,25 sacas por hectare na produção do grão. Já a soja, principal cultura mato-grossense, registrou uma média de 60,45 sacas por hectare. Confira o comparativo de produtividade dessas duas culturas na atual safra:
Indicadores da safra 2024/25 de soja e milho em MT

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