
O chocante caso da britânica ligada à realeza e condenada por morte de bebê
Metropolitan Police Handout via Getty Images e BBC
No início da noite de 5 de janeiro de 2023, a polícia foi chamada por conta de um carro em chamas abandonado no acostamento da rodovia M61, perto de Bolton, na Inglaterra.
Dentro dos destroços, os policiais encontraram 2 mil libras (cerca de R$ 15 mil) em espécie, 34 celulares baratos e o passaporte de uma mulher.
Uma placenta enrolada em uma toalha foi encontrada no banco de trás. Ela revelou à polícia a existência de um bebê recém-nascido.
A dona do passaporte e seu parceiro, como viria à tona, eram bem conhecidos dos serviços sociais. Teve início então uma busca nacional para encontrá-los, que rapidamente ganhou destaque no noticiário.
Mas pelos dois meses seguintes, durante um inverno rigoroso, o casal fez de tudo para evitar ser pego. Apesar de ter acesso a muito dinheiro, eles viveram de forma precária em uma barraca barata, revirando lixeiras.
Quando acabaram sendo presos no fim de fevereiro, a bebê não estava mais com eles — e se recusaram a dizer à polícia onde ela estava.
O casal estava tentando desesperadamente ficar fora do alcance das autoridades porque não era seu primeiro filho. Eles tinham outros quatro filhos — todos eles haviam sido retirados da tutela deles pela assistência social.
Poucos dias depois, a polícia fez uma descoberta terrível em um galpão em Brighton, perto de onde os dois haviam sido presos. Dentro de uma sacola reutilizável de supermercado, coberta de terra e lixo, foi encontrado o corpo de uma menina, com apenas algumas semanas, enrolado em um lençol rosa.
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A BBC vem investigando a vida de Constance Marten e Mark Gordon, assim como os acontecimentos que levaram à morte de Victoria, quinto filho do casal.
Marten é de uma família rica com fortes conexões com a realeza — ela contou a amigos que brincava com os príncipes William e Harry quando era criança. Gordon é filho de uma enfermeira que emigrou do Caribe para o Reino Unido.
Na adolescência, ela viajou para a Nigéria para se juntar a uma igreja evangélica, enquanto ele foi enviado para uma prisão na Flórida por estupro.
A história de como as vidas de Constance Marten e Mark Gordon se cruzaram, depois mergulharam no caos e, por fim, levaram a uma tragédia, começa logo após a Segunda Guerra Mundial.
No fim de novembro de 1949, um casamento deslumbrante da alta sociedade, com a presença do rei e da rainha, foi realizado no Palácio de St James.
A noiva era afilhada da rainha, uma herdeira fascinante que possuía uma das mais belas casas de campo da Inglaterra, a Crichel House.
Uma década depois, ela deu à luz um filho, Napier. Educado no Eton College, ele serviu como pajem de honra da rainha Elizabeth 2ª — uma distinção concedida aos filhos adolescentes de membros da nobreza.
Napier se casou com uma socialite chamada Virginie Camu em 1986 e, posteriormente, teve três filhos. A mais velha, chamada Constance, nasceu em maio de 1987 — e logo ficou conhecida por quase todo mundo pelo apelido “Toots”.
A mãe de Mark Gordon, Sylvia, chegou ao Reino Unido como parte da geração Windrush. Ela se casou com Luckel Satchell, também da Jamaica, com quem teve quatro filhos. Mas o casamento terminou quando ela estava grávida de Gordon, seu quinto filho, que deu à luz em 1974.
Karen Satchell, irmã de Gordon, disse à BBC que seu irmão mais novo era um garoto tímido que podia ser “um pouco travesso”.
“Eu nunca vi ele brigar”, ela afirmou. “Não mesmo, nunca.”
Quando Gordon ainda era pequeno, Sylvia deixou seu emprego como enfermeira na fábrica de automóveis Chrysler, em Midlands, e se mudou para os EUA, se estabelecendo na Flórida. Foi lá, aos 14 anos, enquanto crescia não muito longe do centro de Miami, que Gordon, na foto abaixo, cometeu um crime brutal.
Mark Gordon cometeu um crime brutal aos 14 anos
Florida State Attorney
Os crimes
Os documentos judiciais nos EUA mostram que, nas primeiras horas de uma manhã de abril de 1989, ele invadiu a casa da vizinha de 30 anos, armado com uma tesoura de jardinagem e uma faca de cozinha.
Vestido de preto, com uma máscara de meia sobre o rosto, Gordon disse à mulher, conforme foi informado no julgamento, que não gritasse ou mataria seu filho e sua filha, que estavam dormindo no quarto ao lado. Durante as quatro horas e meia seguintes, ele a estuprou sob a ameaça de uma faca.
“Ele me disse para me despedir dos meus filhos porque esse era o dia em que eu iria morrer”, contou a vítima ao tribunal durante o anúncio da sentença.
Nos dias que se seguiram ao ataque, um policial que patrulhava a vizinhança encontrou uma meia-calça de náilon com furos para os olhos e nariz, do lado de fora da casa de Gordon, que foi levado para interrogatório.
Gordon inicialmente se declarou culpado, mas depois voltou atrás, e foi a julgamento.
Na audiência para anúncio da sentença em 1990, a mulher que ele havia estuprado implorou ao juiz para impor uma pena severa a Gordon, que já estava com 15 anos.
“Peço que você garanta que esse homem não tenha a oportunidade de destruir mais vidas”, ela disse. “Não tenha misericórdia.”
Mark Gordon foi condenado a 40 anos de prisão.
Enquanto Gordon estava atrás das grades na Flórida, Marten — 13 anos mais nova — estava crescendo em Dorset, na Inglaterra.
Ela frequentava a St Mary’s, em Shaftesbury, uma escola particular para meninas, onde tinha a reputação de ser um pouco rebelde. Aos sete anos, seus pais se separaram. Seu pai teria deixado a família para uma jornada de descoberta espiritual na Austrália, enquanto a mãe de Marten estava grávida do quarto filho. Mais tarde, ela se casou novamente.
A BBC apurou que, depois de concluir os estudos na escola em 2006, Marten e a mãe viajaram para a Nigéria para visitar uma igreja chamada Sinagoga de Todas as Nações (Scoan, na sigla em inglês), em Lagos.
A mãe de Marten, agora conhecida como Virginie De Selliers, voltou para o Reino Unido, enquanto a filha ficou por lá para se tornar discípula.
Uma investigação da BBC Africa Eye encontrou evidências de abuso e tortura generalizados na Scoan sob a liderança de TB Joshua, incluindo alegações de estupro cometidos pelo próprio Joshua e abortos forçados, durante quase 20 anos. O pregador morreu em 2021.
Vários ex-discípulos disseram à BBC que foram abusados física e sexualmente por Joshua, na foto abaixo em 2014, a quem chamavam de “daddy” (“papai”). A BBC não tem motivos para acreditar que Marten — que tinha 19 anos na época — tenha sido submetida a qualquer tipo de abuso no local.
T.B. Joshua é um dos evangelistas mais influentes da África, com políticos importantes entre seus seguidores
AFP
Enquanto estava na Scoan, Marten conheceu uma discípula chamada Angie, que desde então já deixou a igreja.
Ela se lembra de Marten como “brilhante, espirituosa, compassiva, engraçada, gentil e muito independente”.
Angie diz que todas as discípulas do sexo feminino — inclusive Marten — moravam no mesmo dormitório. Solicitadas a denunciar umas às outras em reuniões públicas humilhantes, elas muitas vezes passavam fome e eram privadas de sono.
“É muito difícil explicar como aquele lugar era assustador”, diz Angie, que passou 10 anos na igreja enquanto era liderada por Joshua. “Era um lugar de tortura e abuso psicológico, abuso físico, abuso espiritual e abuso sexual.”
A BBC entrou em contato com Virginie de Selliers para comentar o assunto, mas ela não respondeu.
Depois de quatro meses, Marten foi expulsa da Scoan, e retornou ao Reino Unido, onde se matriculou no curso de Estudos Árabes e do Oriente Médio na Universidade de Leeds, e passou um ano no Cairo.
Ainda estudante, Marten apareceu na revista Tatler, aos 21 anos, sendo apresentada como “babe of the month”, algo como “garota do mês”. No artigo de janeiro de 2009, ela fala sobre uma festa organizada por um visconde como “um banquete libertino da Grécia antiga”, e diz que planeja fazer uma tatuagem de tartaruga.
Seis anos depois de deixar Lagos, Marten entrou em contato com Angie no Facebook. Nas mensagens, às quais a BBC teve acesso, ela fala sobre sua temporada na igreja de Tb Joshua.
“Eu não falei com ninguém sobre o que aconteceu na sinagoga”, ela escreve em outubro de 2012. Ela nunca quis acreditar que Scoan era uma seita, ela continua.
“Levei anos para voltar ao normal.”
A Scoan não respondeu às alegações na investigação da BBC Africa Eye, mas disse que as alegações anteriores eram infundadas e: “Fazer alegações infundadas contra o profeta TB Joshua não é uma ocorrência nova … Nenhuma das alegações foi jamais comprovada”.
Depois da universidade, Marten trabalhou como pesquisadora no canal de notícias da Al Jazeera, e tentou fazer um documentário sobre TB Joshua. Mas em 2015, ela havia deixado o jornalismo, e estava estudando para se tornar atriz.
Ade Oshineye estudou com ela na East 15 Acting School.
“Ela é uma daquelas pessoas que se destacam na multidão”, diz Ade. “É uma pessoa marcante.”
Outra amiga de Marten na época era SHNO — hoje atriz e artista musical.
“Ela era uma pessoa muito legal”, afirma SHNO. “Era muito especial, sempre via o melhor nas pessoas.”
Marten dizia aos amigos da escola de teatro que era a ovelha negra da família. E, segundo ela, havia se afastado dos pais, mas ainda era muito amiga de um de seus irmãos. SHNO também se lembra de Marten falando sobre aspectos de sua infância que revelavam sua origem privilegiada.
“Ela me disse que costumava brincar com o príncipe Harry e o príncipe William”, conta SHNO. “Ela dizia isso como se fosse bastante normal.”
Tanto Ade quanto SHNO presumiram que Marten teria uma carreira de atriz bem-sucedida pela frente.
Mas no início de 2016, Marten desapareceu. Ela não aparecia mais nas aulas, não retornava as ligações, e ninguém conseguia entrar em contato com ela nas redes sociais.
“Foi um salto enorme de ser muito sociável para, de repente, você não conseguir entrar em contato com ela”, diz Ade.
“Ela simplesmente desapareceu sem deixar rastros”.
Gordon havia sido libertado da prisão no início de 2010, após cumprir 20 anos. Ele foi deportado de volta para o Reino Unido, onde foi colocado no registro de criminosos sexuais.
Sua irmã, Karen Satchell, afirma que ele sempre foi reservado sobre o tempo que passou na prisão.
“Até hoje, ele nunca falou sobre isso”, diz ela. “Essa é a maneira dele de lidar com isso — ele guardou para si toda a turbulência e o trauma que passou lá dentro.”
Marten diz que seu primeiro contato com Gordon foi em uma loja de incensos em Tottenham, no norte de Londres. Sua família o conheceu logo no início, eles dizem, e ficou muito apreensiva com o relacionamento. Mas, em 2017, Marten e Gordon estavam fazendo mochilão pela América do Sul e, quando retornaram ao Reino Unido, Marten — agora com 30 anos — estava grávida do primeiro filho.
Havia preocupações com o bebê mesmo antes do nascimento.
Marten não compareceu aos exames pré-natais até os seis meses de gestação, e disse às parteiras que morava em um trailer. Quando ela parou de comparecer às consultas, a equipe médica preocupada emitiu um alerta nacional, pedindo a outros hospitais que ficassem atentos a ela e Gordon. Mas eles já haviam deixado Londres.
Mais tarde, Marten disse que eles se mudaram para o País de Gales para se afastar da família dela, que, segundo ela, havia contratado detetives particulares para segui-la, pois não aprovavam Gordon.
À medida que a data prevista para o parto de Marten se aproximava, ela e Gordon estavam vivendo em uma barraca perto de um estacionamento de supermercado em Carmarthen.
Ao chegar ao hospital após entrar em trabalho de parto, Marten apresentava sinais de paranoia crescente. Ela deu um nome falso e falou com um sotaque irlandês — dizendo à equipe que era da comunidade nômade.
Mas a equipe não ficou convencida e, lembrando-se do alerta nacional emitido em Londres, chamou a polícia.
Houve confronto, e os policiais, auxiliados por outros pais que estavam na ala da maternidade, tiveram que usar gás lacrimogêneo para conter Gordon. Ele foi preso e posteriormente condenado a 20 semanas de prisão por agredir duas policiais, perdendo as primeiras semanas de vida do filho recém-nascido.
Com o parceiro atrás das grades, Marten foi para uma casa de acolhimento para mães e bebês que precisam de apoio extra. Mas logo surgiram dúvidas sobre sua capacidade de cuidar do filho de forma segura.
Assistentes sociais encontraram garrafas de vinho no quarto dela, e alertaram Marten sobre os riscos de adormecer com o bebê no peito. Em seis meses, foi emitida uma ordem de supervisão, permitindo que os serviços sociais monitorassem a criança.
Esse foi o início de uma longa jornada pelas varas de família.
Documentos obtidos pela BBC revelam a extensão das interações do casal com os serviços sociais.
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Eles também mostram que Marten e Gordon muitas vezes se representavam, em vez de usar advogados, contavam mentiras, às vezes não compareciam às audiências, e pareciam evitar deliberadamente fornecer evidências.
No fim de 2018, o casal estava de volta a Londres. Eles moraram em vários endereços, e saíram sem pagar o aluguel mais de uma vez, de acordo com os proprietários.
Ex-vizinhos dizem que Marten e Gordon não pareciam ter emprego, raramente saíam e, às vezes, tinham brigas acaloradas.
Após o nascimento do segundo filho, os serviços sociais foram novamente envolvidos.
Mas um juiz da vara de família ficou especialmente preocupado depois que Marten caiu de uma janela do primeiro andar, quando estava grávida de 14 semanas do terceiro filho. Quando uma equipe de ambulância chegou, Gordon inicialmente se recusou a deixá-los entrar, e a polícia foi chamada.
Marten passou oito dias no hospital, mas o bebê que estava no útero não se machucou.
Quando saiu do hospital, Marten fugiu para a Irlanda com os dois filhos, mas eles foram levados para um abrigo assim que ela voltou. Marten e Gordon nunca conseguiram recuperá-los.
Marten disse à polícia que estava tentando consertar a antena da televisão quando caiu da janela, mas um juiz determinou mais tarde, com base no princípio de preponderância de provas, que foi Gordon quem “causou” a queda.
O casal colocou seu relacionamento acima de “todas as outras considerações”, escreveu o juiz da vara de família em fevereiro de 2021, e considerou “todas as ofertas de apoio como hostis”.
Os vizinhos se lembram de policiais passando por lá várias vezes antes da chegada do terceiro filho do casal, e de serem solicitados a “nos avisar se ouvirem o som de um bebê”.
Duas semanas após o nascimento, essa criança também foi retirada da tutela deles.
Marten e Gordon podiam visitar os filhos — eles tocavam música ou levavam presentes para eles. Também consolavam as crianças quando estavam chateadas, cantavam e dançavam com elas. Gordon plantou sementes de maçã no jardim do centro de contato — uma para cada membro da família.
Até que ele e Marten começaram a perder as sessões de contato com os filhos.
Eles não deram nenhuma explicação às crianças sobre as ausências e, por fim, pararam de comparecer completamente.
Em maio de 2021, Marten deu à luz um quarto filho, que foi removido da tutela delas depois de apenas uma semana. Oito meses depois, em janeiro de 2022, um juiz da vara de família decidiu que, embora houvesse “imagens vívidas do que poderia, se fosse o panorama completo, ser uma família amorosa e integrada”, todas as quatro crianças — todas elas com menos de 10 anos — deveriam ser removidas permanentemente da tutela do casal.
No último minuto, Marten ofereceu se separar de Gordon a fim de obter a custódia dos filhos — mas o juiz simplesmente não acreditou que ela realmente faria isso.
“Quando foi dada a eles a opção de considerar o que é certo para as crianças, e o que é certo para eles mesmos, eles escolheram a si mesmos”, diz Samantha Yelland, promotora que trabalhou no caso.
“Eles são obcecados um pelo outro — a ponto de priorizarem um ao outro em vez dos filhos.”
Em setembro de 2022, Marten estava grávida novamente. Temendo que esse bebê fosse levado embora, ela e Gordon deixaram sua casa no sudeste de Londres —novamente sem pagar o aluguel —, e se prepararam para desaparecer.
Marten estava juntando dinheiro e, nos quatro meses seguintes, ela e Gordon viveram em vários AirBnBs, se mudando com frequência para evitar serem descobertos.
Ela escondeu a gravidez com tanto cuidado que, se o carro deles não tivesse pegado fogo na rodovia em janeiro de 2023, a existência do novo bebê poderia ter permanecido em segredo.
Sem o passaporte de Marten, que havia ficado no carro, eles não podiam deixar o país. Em vez disso, ela e Gordon seguiram para o sul, chegando ao litoral perto de Brighton, onde viveram em uma barraca pequena e frágil no auge do inverno inglês.
À medida que a busca pela família desaparecida continuava, e a cobertura da imprensa se intensificava, Marten e Gordon foram avistados com o bebê, e foram capturados por câmeras de segurança.
Victoria foi vista vestida de forma inadequada para o clima frio — às vezes, sem meia, sem gorro e sem cobertor. Seus pais compraram um carrinho de bebê que não era apropriado para um recém-nascido, jogaram fora no mesmo dia, e carregavam a filha dentro do casaco de Marten, fechado com um zíper.
Marten diz que pegou no sono na barraca enquanto amamentava Victoria dentro do casaco. Ela alega ter acordado curvada sobre o bebê, com a testa no chão. Victoria não estava mais se movendo. “Ela estava completamente mole”, e seus lábios estavam azuis, contou Marten aos detetives.
Ela e Gordon tentaram ressuscitar a filha, fazendo respiração boca a boca, e massageando o peito dela. Mas não houve resposta.
“Foi uma das piores coisas que já vi na minha vida”, disse Gordon à polícia.
Constance Marten, de 38 anos, e Mark Gordon, de 51 anos, negaram ter feito mal a Victoria e ocultado sua morte
Metropolitan Police via BBC
O casal carregou o corpo dela em uma sacola de compras — e levou até para a praia em Brighton. Eles disseram que queriam enterrá-la, mas haviam comido tão pouco durante a fuga que não tiveram forças para cavar um buraco fundo o suficiente. Marten considerou cremar Victoria, e comprou uma garrafa de gasolina — mas depois teve dúvidas.
“Não acho que seja algo que eu vá superar”, afirmou ela mais tarde perante um tribunal.
Após 54 dias, os policiais localizaram Marten e Gordon, e eles foram presos. O corpo de Victoria foi encontrado dois dias depois.
Um patologista concluiu que não era possível determinar a causa da morte, mas disse que a bebê poderia ter morrido devido ao frio ou por dormir junto com eles.
Constance Marten, de 38 anos, e Mark Gordon, de 51 anos, negaram ter feito mal a Victoria e ocultado sua morte, mas agora foram considerados culpados de homicídio culposo por negligência grave. Em seu primeiro julgamento, eles foram condenados por crueldade infantil, ocultação de nascimento e obstrução da Justiça.
O comportamento do casal durante o julgamento no Tribunal Central Criminal, conhecido como Old Bailey, em Londres, demonstrou sua persistente paranoia e desconfiança em relação às autoridades. Eles causavam disrupção e pareciam ter pouco respeito pelo tribunal criminal. Em determinado momento, o juiz os acusou de tentar “sabotar” o processo.
Marten negou que a filha tenha sido exposta a condições perigosas, dizendo que a recém-nascida foi mantida aquecida dentro do seu casaco. Ela classificou os serviços sociais como uma “abominação”, e disse que seus quatro filhos sobreviventes haviam sido “roubados” dela “pelo Estado”.
Ela disse ao tribunal que sua família havia sido dilacerada por discussões sobre o testamento da avó. Ao prestar depoimento, ela se referiu a um evento “traumático” da infância envolvendo um membro da família. Ela disse que havia “denunciado um abuso grave”, e afirmou ao tribunal que sua família havia tentado tirar os filhos dela “como uma forma de se vingar de mim”.
“Você está enfrentando essas pessoas que não vão parar por nada”, ela disse.
O júri ouviu que os pais de Marten haviam contratado investigadores particulares para tentar localizá-la em três ocasiões.
O advogado de Gordon descreveu Marten como uma “leoa” que amava sua “cria”. Seu próprio advogado disse que a morte de Victoria foi “um acidente terrível e trágico”.
Gordon afirmou que a culpa pela morte da filha foi da polícia. A perseguição havia “forçado” eles a acampar em South Downs em circunstâncias que “não eram ideais”.
Mas o advogado de acusação afirmou que mentiras haviam saído da boca de Marten “como confete ao vento”. Marten e Gordon eram “indivíduos egoístas e arrogantes”, ele disse, e “no meio desse relacionamento tóxico estava um bebê que claramente não estava sendo cuidado adequadamente”.
Victoria era o quinto filho de dois pais caóticos que já haviam tido quatro filhos removidos da tutela deles. Não se sabe exatamente quando ela nasceu — ou quando morreu. Ela nunca havia sido examinada por um profissional de saúde ou recebido um lar seguro e acolhedor para viver. Seus pais tomaram decisões que colocaram sua vida em perigo e, por fim, levaram à sua morte.
Como a acusação disse no tribunal, Victoria “‘não tinha nenhuma chance”.
O Painel de Revisão de Práticas de Proteção à Criança está realizando uma análise nacional sobre a morte de Victoria, para examinar como “as agências podem proteger melhor as crianças em circunstâncias semelhantes”.
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