
Mulheres acusam homens de vazarem fotos e vídeos íntimos após encontros em casas de forró
Mulheres que frequentam casas de forró e festivais do ritmo musical denunciaram homens que as expuseram em grupos no Telegram. Fotos e vídeos íntimos dessas mulheres foram compartilhados sem autorização no aplicativo de mensagens, segundo a denúncia.
O g1 conversou com duas dessas mulheres. As vítimas aceitaram falar sem que fossem identificadas. As entrevistas foram gravadas em vídeo (veja acima). Veja reportagem completa aqui.
Os grupos eram fechados e, para participar de alguns deles, como o “Cremosinhas da Putaria” era preciso “enviar conteúdo adulto, com perfil, telefone, endereço” e prints das conversas com cada forrozeira, chamada de “presa” pelos homens. O grupo também exige informações das vítimas como “fragilidades” delas, se têm “filhas, como é a transa, se faz anal, se transa na saída do forró e quais lugares a presa frequenta”.
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Mulher recebeu na rede social print com foto dela em página de grupo de forrozeiros no Telegram. Segundo denunciante, homens postavam imagens nuas de mulheres com as quais tiveram relacionamento
Reprodução
De acordo com a denúncia feita por um um grupo de feministas, que levou essas e outras denúncias ao Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, os grupos têm objetivo explícito de se aproximar dessas mulheres para fazer sexo com elas.
Pelo menos 12 mulheres que frequentam casas de forró procuraram o grupo. Sete delas relataram que tiveram suas imagens íntimas divulgadas sem consentimento nas redes sociais. As outras cinco denunciaram casos de assédio sexual e agressões.
Ainda segundo os relatos dessas vítimas, que o g1 teve acesso, além da capital paulista, os casos ocorreram em Cotia, na região metropolitana, no Rio de Janeiro e em Turim, na Itália. As mulheres contaram ter conhecido os abusadores em casas de shows, escolas de dança e em festivais de forró.
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O Ministério Público Federal (MPF) acompanha o caso. A Procuradoria recebeu as denúncias e as encaminhou para a Polícia Federal (PF), que irá investigar os forrozeiros por eventuais crimes, como revenge porn (pornografia de vingança), assédio sexual, lesão corporal e ameaça. Alguns desses homens foram identificados pelas vítimas, outros não.
“Após análise preliminar dos fatos relatados, o MPF solicitou à Polícia Federal a instauração de um inquérito. Devido ao teor sigiloso do caso, não haverá concessão de entrevista ou fornecimento de outras informações neste momento”, informa nota do Ministério Público Federal ao g1.
Questionada, a PF não quis comentar o assunto. Por meio de sua assessoria de imprensa, o órgão informou que não se manifesta “sobre eventuais investigações em andamento”.
O MPF pediu para a PF abrir inquérito policial para investigar os forrozeiros por eventuais crimes, como revenge porn (pornografia de vingança), assédio sexual, lesão corporal e ameaça. Alguns desses homens foram identificados pelas vítimas, outros não.
As vítimas identificadas pela Bancada Feminista do PSOL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) citam também o “Vazadinhas Inéditas” como grupo no Telegram em que imagens delas foram ou podem ter sido compartilhadas. Ao menos um dos grupos existe há quase uma década.
Reportagem do g1 mostra casos de mulheres que acusam homens por assédio no forró
g1 Design
Além da divulgação de imagens íntimas, mulheres relataram agressões físicas, ameaças e episódios de assédio por parte de músicos, professores e frequentadores das festas. Algumas afirmam que deixaram de frequentar os bailes com medo de novas violências.
A Bancada Feminista afirma que os relatos sugerem a existência de uma rede criminosa com atuação internacional. Para combater a misoginia nesses espaços, foi criada a Frente Fulô (Forró Unido Livre de Ódio), que promove uma campanha com distribuição de flores de crochê para incentivar a denúncia e estimular ações por ambientes seguros para mulheres.
Casas de forró citadas pelas vítimas — como Remelexo, Canto da Ema, Baile dos Ratos e Giramundo — foram procuradas pelo g1. Algumas se manifestaram com notas de repúdio, enquanto outras não responderam. As denúncias não afirmam que os crimes ocorreram dentro dos estabelecimentos, mas apontam que os abusadores frequentavam esses locais.
A ONG SaferNet identificou mais de 1,25 milhão de usuários no Brasil em grupos do Telegram que compartilham imagens íntimas vazadas, incluindo material de abuso e pornografia gerada por inteligência artificial. O relatório foi enviado ao MPF, à PF e a autoridades internacionais.
O Telegram foi procurado pelo g1, mas não respondeu até a última atualização da reportagem. Denúncias anônimas podem ser feitas pelo site da SaferNet ou pela página da Frente Fulô.