
“Na foto, fornecida pelo Hakai Institute, a pesquisadora Alyssa Gehman, do Hakai Institute, conta e mede estrelas-do-mar-girassol no canal Burke, na costa central da Colúmbia Britânica, no Canadá, em 2023.”
Bennett Whitnell/Hakai Institute via AP
Cientistas dizem ter finalmente resolvido o mistério por trás da morte de mais de 5 bilhões de estrelas-do-mar ao longo da costa do Pacífico da América do Norte durante uma epidemia que durou uma década.
As estrelas-do-mar — também chamadas de estrelas do mar — normalmente têm cinco braços, mas algumas espécies podem ter até 24. Suas cores variam do laranja sólido a misturas vibrantes de laranja, roxo, marrom e verde.
A epidemia começou em 2013, com uma misteriosa doença que leva à decomposição dos tecidos (em inglês, sea star wasting disease), provocando uma mortandade em massa desde o México até o Alasca. Mais de 20 espécies foram devastadas — e a doença ainda continua. A mais afetada foi a estrela-do-mar girassol (sunflower sea star), que perdeu cerca de 90% de sua população nos primeiros cinco anos do surto.
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“É realmente horrível”, disse a ecologista marinha Alyssa Gehman, do Hakai Institute, no Canadá, que ajudou a identificar a causa. Segundo ela, estrelas saudáveis têm “braços gordinhos e esticados”, mas a doença faz com que desenvolvam lesões e, eventualmente, percam os braços.
Agora, os cientistas dizem ter identificado o culpado: uma bactéria que também infecta mariscos, segundo estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution.
“Essas descobertas resolvem uma questão de longa data sobre uma doença muito grave nos oceanos”, afirmou Rebecca Vega Thurber, microbiologista marinha da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, que não participou da pesquisa.
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O processo de descoberta levou mais de uma década, com diversos caminhos falsos e reviravoltas. Pesquisas iniciais sugeriram que o causador seria um vírus, mas o densovírus — foco inicial dos cientistas — acabou sendo apenas um residente comum nas estrelas-do-mar saudáveis, sem relação com a doença, explicou Melanie Prentice, também do Hakai Institute e coautora do estudo.
Outros estudos falharam por analisarem tecidos de animais já mortos, que não continham mais o fluido corporal responsável por envolver os órgãos. Foi esse fluido, chamado fluido celômico, que finalmente revelou a presença da bactéria Vibrio pectenicida.
“É extremamente difícil rastrear a origem de doenças ambientais, especialmente em ambientes submarinos”, disse Blake Ushijima, microbiologista da Universidade da Carolina do Norte, que não participou da pesquisa. Ele classificou o trabalho da equipe como “realmente inteligente e significativo”.
Agora que a causa foi identificada, os cientistas têm mais chances de intervir para ajudar as populações de estrelas-do-mar. Prentice explicou que será possível testar quais indivíduos ainda estão saudáveis e considerar estratégias como relocação ou reprodução em cativeiro para reintrodução em áreas severamente afetadas.
Os pesquisadores também pretendem investigar se há populações naturalmente imunes e se tratamentos, como probióticos, poderiam aumentar a resistência à doença.
Segundo os cientistas, esse esforço de recuperação é vital não só para as estrelas-do-mar, mas para todo o ecossistema do Pacífico. Estrelas girassol saudáveis se alimentam de ouriços-do-mar, cuja população explodiu com a redução dos predadores. Em apenas uma década, cerca de 95% das florestas de algas marinhas do norte da Califórnia desapareceram, consumidas pelos ouriços. Essas florestas são fonte de alimento e abrigo para uma diversidade de animais, como peixes, lontras e focas.
“As estrelas girassol parecem inofensivas à primeira vista, mas comem praticamente tudo que vive no fundo do oceano”, afirmou Gehman. “São comilonas vorazes.”
Os pesquisadores esperam que, com a nova descoberta, seja possível restaurar as populações de estrelas-do-mar e, com isso, recuperar as florestas de algas — que Thurber comparou às “florestas tropicais dos oceanos”.