
A Flipei nasceu em 2019 como contraponto à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento literário que acontece todos os anos no Rio de Janeiro.
Divulgação
A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei) anunciou na segunda-feira (4) os novos locais que receberão a edição 2025 do evento literário periférico em São Paulo. A feira acontece entre os dias 6 e 10 de agosto em espaços culturais nos Campos Elíseos e na Bela Vista (veja abaixo).
👉 A Flipei nasceu em 2019 como contraponto à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento literário que acontece todos os anos no Rio de Janeiro.
Inicialmente, o evento ocorreria na Praça das Artes, no Centro da capital, mas foi cancelado pelo diretor-geral da Fundação Theatro Municipal, Abraão Mafra de Oliveira Lopes, no domingo (3). O cancelamento ocorreu cinco dias antes do início da Flipei.
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A fundação, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, alegou que o evento atrapalharia a retomada das aulas no local e que a suspensão aconteceu “em razão do uso político por parte de seus organizadores”.
Nas redes sociais, a Flipei afirma que o evento foi cancelado por “censura” por parte da prefeitura, uma vez que o evento prevê vários debates de esquerda e sobre a guerra na Faixa de Gaza, que tem feito milhares de vítimas palestinas.
O anúncio dos novos locais para o evento foi chamado pelo de “Plano B – Bunker Blindado”, que, segundo os organizadores, prevê a realização do festival em “espaços culturais de resistência”.
O evento começa na quarta-feira (6) e vai até domingo (9) (veja os destaques da programação abaixo) . Os horários das mesas não estavam definidos até a última atualização desta reportagem.
Confira os novos locais:
Galpão Elza Soares – Alameda Eduardo Prado, 474, Campos Elíseos
Casa Luís Gama – Rua Guaianases, 1435, Campos Elíseos
Café Colombiano – Alameda Eduardo Prado, 493, Campos Elíseos
Sol Y Sombra – Rua Treze de Maio, 180, Bixiga/Bela Vista
“O festival acontecerá em quatro locais estratégicos da cidade, sendo o três primeiros, no mesmo quarteirão, de forma a dar vazão à extensa programação que inclui, mesas e debates, feira de livros, performances artísticas, espaço para as infâncias e para pessoas com deficiência, além de shows e festas”, diz trecho de comunicado da organização.
Para viabilizar a realização do evento, a feira criou uma campanha de financiamento colaborativo e pediu apoio nas redes sociais.
Multa
O cancelamento em cima da hora da Flipeina Praça das Artes pode render uma multa milionária para a Fundação Theatro Municipal de São Paulo, da Prefeitura de São Paulo.
Segundo os documentos do processo obtidos pelo g1, o valor da multa é de cerca de R$ 1,2 milhão.
Uma das principais atrações é a participação do historiador judeu Ilan Pappé, intelectual israelense referência em história da Palestina e crítico a Israel.
A programação inclui ainda apresentações culturais com artistas, escritores e jornalistas como Rincon Sapiência, Dead Fish, Leci Brandão, Jones Manoel, Breno Altman, Milly Lacombe, Jamil Chade e Ricardo Antunes.
Procurada, a Fundação Theatro Municipal afirmou que suspendeu a realização do evento “em razão do uso político por parte de seus organizadores”.
“No lugar de um festival para promover a literatura independente, de grande valia, a feira tinha em sua programação conteúdo exclusivamente de apelo ideológico, com indisfarçável viés eleitoral. Por este motivo, a fundação suspendeu o evento por entender que seus organizadores usariam uma estrutura pública para interesses políticos e eleitorais”, disse, em nota.
A Praça das Artes é um espaço de responsabilidade da Fundação Theatro Municipal, mas é administrado pela organização social Sustenidos desde 2021.
Segundo a Procuradoria Geral do Município (PGM-SP), no entanto, o termo de parceria firmado entre as partes sem encargos para a realização da Flipei foi assinado diretamente com a Sustenidos Organização Social de Cultura, atual gestora das atividades do Teatro Municipal de São Paulo.
Portanto, qualquer multa não é obrigação da Fundação do Theatro pagar, mas sim da organização social que administra a Praça das Artes, diz a nota.
“A Prefeitura de São Paulo não participou da celebração deste contrato e, portanto, não possui obrigação legal de arcar com eventual ressarcimento de valores decorrente do cancelamento do evento”, afirmou a PGM-SP.
A direção da entidade Sustenidos rechaçou a alegação de que a Flipei “‘possui conteúdo e finalidade de cunho político ideológico”.
Praça das Artes, na Avenida São Paulo, é uma área de eventos e música de propriedade da Fundação Theatro Municipal de São Paulo.
Divulgação/PMSP
Carta da produtora Cais Produção Cultural, responsável pela montagem da Flipei, evento que foi cancelado na Praça das Artes, no Centro de SP.
Reprodução
O que diz a organização social
A organização social Sustenidos – que assinou o contrato com a produtora e, em última análise é responsável por pagar a multa de R$ 1,2 milhão – afirmou em ofício à gestão municipal que “as justificativas apresentadas pela FTM [para cancelar o evento] não se mostram sustentáveis, já que as atividades da feira não impediriam a realização das aulas da EMM e da EDASP” na Praça das Artes.
A diretora da Sustenidos também afirmou que “a alegação de que a FLIPEI ‘possui conteúdo e finalidade de cunho político ideológico, o que contraria os princípios de impessoalidade que regem a administração pública’, não resta comprovada, e tampouco ensejaria seu cancelamento”.
“Impedir a sua realização poderia ser compreendido como uma tentativa de coibir a liberdade de expressão garantida na Constituição Federal. Nesse sentido, é importante destacar que o Theatro Municipal de São Paulo sempre realizou diversas atividades que podem ser consideradas representativas de diferentes espectros políticos, a fim de garantir a expressão de diversos pontos de vista, nos termos assegurados pela Constituição Pátria”, escreveu a diretora Alessandra da Costa.
Carta enviada pela organização social que gere a Praça das Artes para a Fundação Theatro Municipal de SP sobre cancelamento do evento.
Reprodução
“Além dos fatos apresentados acima, não podemos deixar de mencionar os inevitáveis danos reputacionais à Sustenidos, à FTM, a PMSP e à Secretaria de Estado da Cultura e Indústria Criativas, que financia a atividade por meio do PROAC Cult SP. Por todo o exposto, não encontramos forma jurídica de descumprir o contrato, não sendo possível, portanto, prosseguir com o cancelamento da atividade”, declarou a Sustenidos em carta à Fundação Theatro Municipal.
Flipei anuncia atrações de 2025, em festa literária que aconteceria na Praça das Artes, no Centro de SP.
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