
Nesta terça-feira (5), véspera do início da cobrança de sobretaxa sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, o presidente Lula descartou a possibilidade de se engajar pessoalmente em negociações com Donald Trump sobre o tarifaço.
No mesmo local, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, integrantes do governo repetiam discursos sobre a importância do diálogo. E representantes do setor produtivo manifestaram preocupação com os impactos das tarifas sobre as exportações e os empregos. Eles ainda esperam as medidas de proteção prometidas pelo governo.
O “Conselhão” reúne representantes da sociedade civil, movimentos sociais, trabalhadores e empresários. E nesta terça-feira deu respaldo ao governo na defesa da soberania. Mas o presidente da Fiesp, Josué Gomes, reiterou a necessidade de uma resposta do governo.
Lula e Alckmin em evento com setores produtivos nesta terça-feira (5).
Reprodução/TV Globo
“Estamos à véspera, as coisas mudam tão rápido que talvez nem seja véspera, de entrada em vigor de um tarifaço contra o Brasil. O que fazer diante de uma agressão injusta de uma potência que aprendemos a admirar e que inspirou a construção de muitas das nossas instituições, que foram criadas à imagem e semelhança das instituições constituídas pelos pais fundadores da América?”, disse Josué Gomes, da Fiesp.
No dia 9 de julho, Donald Trump ameaçou cobrar 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. O governo brasileiro declarou várias vezes que queria negociar, mas não tinha abertura. A possibilidade de uma negociação se tornou mais próxima na sexta (1º). Em resposta à repórter Raquel Krähenbühl, Trump se disse aberto ao diálogo com Lula.
Raquel Krähenbühl: Você está aberto a negociar com o Brasil? O presidente Lula disse que gostaria de ligar. Se ele pedisse para conversar, você falaria com ele agora?”
Donald Trump: “Ele pode conversar comigo quando quiser.”
Raquel Krähenbühl: “Você está aberto a negociar as tarifas?”
Donald Trump: “Sim, ele pode conversar comigo quando quiser.”
No mesmo dia, logo após a fala de Trump, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que teria um encontro com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
“Hoje, mais uma vez, eu tive contato com a equipe do Scott Bessent para a gente fazer uma reunião na semana que vem. Então, finalmente nós vamos ter uma reunião mais longa e mais focada na decisão, até aqui unilateral, dos EUA em relação ao Brasil. Tenho certeza que uma conversa com o secretário vai pavimentar o caminho, eventualmente, de um encontro, se for da conveniência dos dois presidentes”, afirmou Haddad.
Já se passaram quatro dias e não houve nenhum avanço concreto em busca desse diálogo. A reunião de Haddad com o secretário americano ainda não tem data. Segundo o Ministério da Fazenda, ainda estão em tratativas.
No Conselhão, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que foi por conta das negociações que o governo americano excluiu cerca de 700 produtos da tarifa de 50% e prorrogou a implantação do dia 1º para o dia 6 de agosto.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, vem coordenando a interlocução com os setores afetados e insiste no caminho da negociação. Quase 36% das exportações brasileiras continuam sob a ameaça do tarifaço.
“A orientação do presidente Lula tem sido negociação, diálogo e nós vamos trabalhar para reverter esse processo e, além disso, apoiar as empresas, apoiar o emprego e apoiar o setor produtivo e abrir mercado”, disse Geraldo Alckmin.
Na contramão, a declaração mais enfática sobre o tarifaço foi do próprio presidente Lula . Ele descartou a possibilidade de fazer um telefonema para Trump.
“Eu não vou ligar para o Trump para comercializar não, porque ele não quer falar, mas pode ficar certa, Marina, eu vou ligar para o Trump para convidá-lo para vir para a COP, que eu quero saber o que ele pensa na questão climática.”
O governo ainda não anunciou detalhes do plano de ajuda aos setores mais afetados. No início da noite, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que espera um reposicionamento do governo americano e que a proteção aos setores e empregos pode ser nos moldes do plano de contingência da Covid.
“O plano de contingência está acontecendo. As equipes estão trabalhando. Uma série de medidas estão nesse cardápio. É uma questão de tirar ou não tirar, a depender das exceções serem estendidas ou não. Cada caso, cada setor, vai ter um determinado tipo de benefício, a depender do quanto e como ele foi atingido. Vamos aguardar amanhã. A gente ganha antecipadamente um presente de Natal, vai que tem prorrogação de 90 dias, do tarifaço de 50, redução de 50 para 30, vamos aguardar…”, afirmou Simone Tebet.
Lula disse que vai convidar Trump para a COP 30
Reprodução/TV Globo
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