Do teleteatro ao jornalismo comunitário com entretenimento: como evoluiu a programação da TV Bauru até a TV TEM


Como evoluiu a programação da TV Bauru até a TV TEM
Arquivo/TV TEM
Em 1º de agosto de 1960, quando a TV Bauru entrou no ar pela primeira vez, o desafio não era apenas transmitir, mas inventar televisão. Sem videotape, que permite a reprodução de conteúdos gravados, e sem modelo a seguir, o que se via no ar era feito ao vivo, no improviso, com criatividade e coragem.
Esta reportagem é parte de uma série especial produzida pelo g1 e a TV TEM em comemoração aos 65 anos da TV Bauru.
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Nesta terceira reportagem, será abordada a evolução da programação da emissora do teleteatro ao jornalismo comunitário com entretenimento, e sua transformação em TV TEM.
“Era programa ao vivo. Se errou, está errado. A programação começava às 14h e ia até 0h”, lembrou Paulo Simonetti, neto de João Simonetti, criador da TV Bauru.
Eram justamente as transmissões 100% ao vivo que atraíam a curiosidade da população de Bauru (SP). Abel Fernando, um dos primeiros apresentadores da emissora e também seu diretor artístico, foi uma das figuras mais marcantes dessa fase.
Natural de Portugal, chegou a Bauru em 1951. Apesar de ter se formado contador por exigência do pai, encontrou sua vocação nos microfones. Na TV Bauru, comandou o programa social “Alto Relevo”, exibido aos sábados, durante três anos e meio. Nele, políticos locais costumavam ser os principais convidados.
Abel Fernando, um dos primeiros apresentadores da TV Bauru
Reprodução/TV TEM
Ele se recorda de uma das primeiras ações da emissora para conseguir vender televisores, que parou um dos principais centros comerciais da cidade:
“Trânsito impedido! Por quê? Porque ia ser feita uma demonstração para o povo que não conhecia a televisão. Aquele povo todo que frequentava as vitrines da Batista de Carvalho se concentrou ali para ver o que era a televisão. ‘Ó, o senhor vai aparecer ali naquele aparelho, está vendo? Não assusta, não…’. Quando acenderam o painel de mil velas, o homem arregalou os olhos. Assim que viu sua imagem se mexendo no aparelho, mexeu no chapéu, viu o chapéu se mexer na tela e saiu correndo, assustado, sob gargalhadas do povo.”
Abel Fernando lembra demonstração dos primeiros aparelhos de TV em Bauru
Os primeiros formatos misturavam jornalismo, entretenimento e cultura. O teleteatro, os programas musicais e até apresentações de bandas ao vivo faziam parte da grade diária.
Foi nesse contexto que o baterista Sérgio de Souza Gomes, de Jaú (SP) e integrante da banda Os Intocáveis, se apresentou pela primeira vez nos estúdios da emissora.
Baterista aposentado de Jaú (SP) lembra de quando se apresentava na TV Bauru – Canal 2
Reprodução/TV TEM
“Nós fomos para lá em uma Kombi e chegamos lá para tocar. Montamos a aparelhagem no estúdio e ele nos falou: ‘Aqui é na raça. Não tem nada de tape, não tem nada de ensaio’. Foi uma conquista e tanto, foi como se tivéssemos vencido um concurso”, contou à TV TEM, hoje aos 78 anos.
O estúdio improvisado surgiu no mesmo espaço onde funcionava a Rádio Bauru Clube (PRG-8), no bairro Bela Vista. O antigo auditório foi transformado em estúdio, com câmeras limitadas e soluções criativas para luz e cenário.
“Lá na Bela Vista, onde era a rádio, tinha o auditório. Então, nós acabamos com o auditório e passou a ser a TV ali mesmo”, lembra Paulo Simonetti.
Teleteatros encenados ao vivo faziam parte da programação da TV Bauru – Canal 2
Arquivo/TV TEM
Grandes nomes da música brasileira lembram dos estúdios da TV Bauru. Ao lado de bandas locais, esses artistas tinham presença marcante na programação. O cantor e compositor Moacyr Franco foi um deles e se apresentou na emissora na década de 1970.
“O estúdio era bem rudimentar, bem “simplinho”, com aqueles panelões de luz. Então, o estúdio era um forno, era quente, uma barbaridade. A gente suava, ensopava, mas aquela televisão foi muito emblemática. Não tinha gravação, era ‘na marra’, né?”, lembrou o compositor em entrevista à TV TEM.
Moacyr Franco se apresentou na TV Bauru – Canal 2
Reprodução/TV TEM | Arquivo pessoal
Luis Henrique Pinke, que entrou na emissora em março de 1961, quando a TV já estava sob o comando das Organizações Victor Costa, também teve papel fundamental. Começou ainda menino e atuou como cinegrafista, engenheiro, diretor artístico e até cantor, quando necessário.
Luiz Henrique Pink foi cinegrafista e responsável pelo controle mestre da TV Bauru e Rede Globo Oeste Paulista. Hoje continua no mercado como diretor artístico da TV Unesp
Arquivo pessoal | Reprodução/TV TEM
“Para mim, era um verdadeiro sonho. Todos os cantores que eu gostava de escutar no rádio, eu via de cara. Tive o privilégio de ver Nelson Gonçalves cantando à minha frente, o Orlando Silva, o Gerry Adriani. E, depois disso, eu passei a cantar também. Às vezes, eu estava fazendo um programa, o cantor contratado não vinha, aí um câmera pegava o meu lugar, eu já trocava de roupa e ia lá cantar. Eu já gostava de cantar desde menino, então fui para a televisão e vivi isso aqui”, lembra.
Outro nome marcante foi o de Leonardo de Brito, que trabalhou na emissora de 1968 a 1975, já sob a administração da Globo, como redator de esportes.
Frase icônica do jornalista Leonardo Brito, de Bauru (SP), sobre a paixão da cobertura do E. C. Noroeste
Reprodução/TV TEM
“O Noroeste subiu para a primeira divisão em 1970. O time todo ia lá no estúdio. Não tinha outro jeito. Eu pegava nas rádios o que elas diziam, resumia no lápis e botava no ar”, recorda.
Leonardo de Brito à esquerda, na redação da TV Bauru
Arquivo/TV TEM
Hiato na programação local
No final de 1973, houve um hiato na programação local da emissora que durou sete anos. Alonso Campoi, já falecido, apresentou o último telejornal local exibido na época. Seus filhos também recordam os múltiplos papéis exercidos pelo pai na programação:
“Havia gincanas com jovens. Eu participava pessoalmente, inclusive amigos meus faziam parte da produção. Meu pai reunia as pessoas e ali celebrava aniversário, fazia gincanas. Era um dos programas no sábado à tarde, ao vivo. E ele tinha um outro programa de notícias”, lembra Alonso Campoi Padilha Júnior.
“Eu fui várias vezes com ele fazer o jornal, então eu ficava por trás. Eram uns cartazes que eram colocados para ele poder ir lendo. Escritos à mão. E ele ia lendo e eu falava assim: ‘Nossa, que desenvoltura a dele, de estar contando, de estar falando… Ele só leu algo que estava ali e dali já desenvolvia’”, completa a filha, Carmem Lúcia Campoi.
Alonso Campoi Padilha foi apresentador da TV Bauru
Reprodução/TV TEM
Carlos Torrente entrou na emissora no fim dos anos 70 como auxiliar de cinegrafista, no momento em que não havia mais programação local. Ele fazia parte da única equipe que cobria todo o interior e enviava as fitas gravadas para São Paulo.
“Eu entrei na TV em 75 ou 76. Nessa época, a equipe de reportagem era eu, o repórter e o cinegrafista. Eu auxiliava o repórter cinematográfico. Éramos três pessoas e a gente trabalhava com o carro”, lembra o cinegrafista, que ainda atua na TV TEM.
Carlos Torrente continua atuando como repórter cinematográfico na TV TEM de Bauru (SP)
Reprodução/TV TEM
Jornalismo consolidado com a Rede Globo Oeste Paulista
Com a criação da Rede Globo Oeste Paulista, em 1984, a emissora passou a integrar oficialmente a Central Globo de Jornalismo (CGJ) e se consolidou como produtora de conteúdo jornalístico regional.
A programação da emissora foi ao ar em 24 de outubro de 1984. Foi nesse ambiente de inovação que muitos talentos surgiram, como o atual diretor dos Estúdios Globo, Amauri Soares.
“Você faz televisão para quem você encontra na fila do banco, no supermercado. Você sabe o nome da pessoa, conhece o bairro”, define Amauri, que iniciou a carreira nessa fase.
Amauri Soares e o jornalista Celso Pelosi, na Rede Globo Oeste Paulista
Arquivo/TV TEM
Neusa Rocha foi a primeira editora regional da Globo Oeste Paulista e ajudou a implantar o projeto na região.
“A gente começou a montar toda a parte de edição em Bauru. Foi bem complicado, porque não tinha editor na cidade. Então, a gente tinha que importar gente do Paraná, de São Paulo, do Mato Grosso…”, recorda.
Gilberto Barros, que entrou na emissora ainda na década de 80, foi o primeiro apresentador fixo do jornal local após anos sem produção regional. Participou da estreia dos blocos regionais do SPTV e acompanhou o nascimento das novas sedes do projeto.
“O teleprompter era uma manivela. A gente inventou com bobina de Telex”, conta Gilberto.
Gilberto Barros apresentando o SPTV na Rede Globo Oeste Paulista em Bauru (SP)
Arquivo/TV TEM
Além disso, fazia reportagens fora do estúdio, e as câmeras usadas em externas muitas vezes eram as mesmas do estúdio.
“Fiz a reportagem, corri para Bauru, editamos a matéria, fui guiando a Veraneio, cortando Bauru. Entrei correndo, jogava a fita na mão do supervisor e sentava no estúdio: ‘Boa noite'”, lembra.
Redação da Rede Globo Oeste Paulista em Bauru (SP)
Arquivo/TV TEM
Fase comunitária com a TV Modelo
Nos anos 1990, com a transição para a TV Modelo, a emissora passou por uma mudança filosófica de maior aproximação com a comunidade. A televisão do interior falava com nomes e rostos conhecidos, com as histórias do bairro e da cidade.
“Foi um grande projeto. A TV virou mais comunitária. A gente falava com a Dona Maria, com o Seu José. As pautas ficaram mais locais”, explica Tânia Guerra, que entrou em 1996 e viveu as fases da Globo Oeste Paulista, TV Modelo e TV TEM.
Foi nessa fase que surgiram quadros voltados à comunidade, como “A Cidade Reclama”, que ficou no ar até 2005, e o “Reage Bauru”, exibido em 2002 nos telejornais da emissora.
Transição para a TV Modelo marcou consolidação dos projetos sociais na TV Bauru
Arte/TV TEM
O repórter Márcio Canuto, conhecido pelos trabalhos voltados para a comunidade, também teve participação na TV Modelo. Na época repórter da TV Globo em São Paulo, Canuto veio até Bauru para produzir episódios de um quadro chamando atenção para a quantidade de buracos nas ruas da cidade.
Repórter Márcio Canuto veio a Bauru em reportagem sobre os buracos nas ruas da cidade
A era digital e o entretenimento da TV TEM
Com a criação da TV TEM em 2003, vieram investimentos, tecnologia de ponta e o sinal digital. A emissora manteve o olhar atento para o cotidiano das cidades, mas também passou a investir em entretenimento.
J. Hawilla inaugurando o sinal digital da TV TEM em Bauru
Arquivo/TV TEM
“A ideia é estar sempre olhando para frente. O digital mudou o patamar da televisão”, diz Stefano Hawilla, atual presidente da TV TEM.
“A gente busca sempre a identificação com o nosso público. O que eles vivem, o que querem ver, o que consomem nas cidades onde moram. Nosso papel é mostrar o interior do jeito que ele é, com sotaque, cultura, histórias reais e personagens que fazem a diferença”, reforça Francine Ramagnoli, diretora de programação da TV TEM.
A emissora passou a exibir programas como Revista de Sábado, De Ponta a Ponta e, mais recentemente, Tô na Várzea, Tá em Tempo e Muito Mais.
“É onde o pai, a mãe, os filhos e a avó assistem juntos. Isso é único. E é por isso que continuamos apostando em uma televisão que une, informa e diverte com qualidade, proximidade e, acima de tudo, com a cara do nosso interior”, completa Francine.
TV TEM tem grade de programação para o entretenimento
Reprodução/TV TEM
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