
Com a globalização, a internacionalização na educação se tornou uma tendência, mas existe a necessidade de dar acesso a experiências internacionais para aqueles que não possuem condições de realizar mobilidade. Uma pesquisa inédita, realizada por pesquisadores das Faculdades e do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, revela que 89,7% das faculdades de saúde já desenvolvem ações de “internacionalização em casa” (IeC) – modalidade que oferece experiências internacionais sem deslocamento físico dos estudantes.
O estudo, conduzido por Regina Toazza, pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ensino nas Ciências da Saúde, com a colaboração de Elaine Sotta, Diancarlos Pereira e da estudante Yasmin Comerlato, ouviu mais de 68 representantes de relações internacionais de instituições de ensino superior brasileiras com cursos da saúde. A pesquisa aponta que a IeC tem se tornado uma alternativa viável e acessível à internacionalização tradicional, baseada na mobilidade ao exterior, presente em 98,5% das instituições consultadas.
“Com a IeC nós abrimos oportunidades para estudantes, especialmente voltados para a questão da inclusão social, porque envolve custos menores e facilidade de acesso. Isso abre a possibilidade de exposição à internacionalização, conteúdos e potenciais oportunidades para esses estudantes sem que eles precisem sair do campus. Eles são expostos a uma nova cultura, a um novo idioma, webinars, cursos virtuais, podendo transformar sua visão de mundo e acadêmica, sem a necessidade do deslocamento e investimento”, afirma a pesquisadora.
Benefícios superam desafios na educação internacional
A pesquisa revelou que 92,7% dos participantes concordam que a internacionalização em casa traz benefícios para as instituições, com média de concordância de 4,79 pontos de 5. Entre as principais vantagens identificadas estão a redução de custos, maior inclusão social e linguística, e a possibilidade de atender estudantes com deficiências e neurodivergências que enfrentariam mais dificuldades em programas de mobilidade tradicional.
No entanto, o estudo também identificou desafios. Apenas 58,2% dos gestores consideram as ações de internacionalização em casa efetivas em suas instituições, com média de concordância de 3,63 pontos, indicando necessidade de aprimoramento. Os principais obstáculos apontados incluem limitações de infraestrutura tecnológica e necessidade de investimento na organização de eventos internacionais e treinamento de pessoal.
Regina também destaca que os profissionais apontam que o desconhecimento da comunidade acadêmica sobre essas possibilidades dificulta a adesão. “Há um certo desinteresse e não tanto engajamento da comunidade acadêmica nas atividades de Internacionalização em Casa. Por desconhecimento, por eles não compreenderem bem o conceito da IeC, acabam tendo essa visão que é um pouco mais limitada, em acreditar que a internacionalização é só mobilidade. Esses são alguns desafios, mas que são superáveis”, ressalta.
Diversidade de ações implementadas
As instituições brasileiras têm implementado uma ampla gama de iniciativas de internacionalização em casa. Entre as mais frequentes estão: ensino de línguas estrangeiras no campus (85,3%), pesquisas e publicações em parceria com universidades internacionais (86,9%) e participação em conferências e congressos internacionais realizados no Brasil.
Outras ações incluem disciplinas ministradas em inglês ou outros idiomas, uso de materiais internacionais em disciplinas de graduação e pós-graduação, atividades com participação de docentes e discentes estrangeiros, programas de mobilidade virtual, como COIL (Collaborative Online International Learning), e organização de eventos internacionais no próprio campus.
Conhecimento dos conceitos de internacionalização
A pesquisa mostrou que 83,8% dos profissionais de relações internacionais concordam totalmente ter conhecimento sobre internacionalização no ensino superior, com média de 4,81 pontos. No entanto, sobre o conceito específico de “internacionalização em casa”, apenas 68,7% concordaram totalmente conhecer o tema, com média de 4,54 pontos.
“Pode-se inferir que há necessidade de desenvolvimento de propostas de formação. Compreender e conhecer ações de internacionalização pode munir os profissionais de instrumentos para trazer novas ideias”, aponta o estudo
Impacto específico nos cursos de saúde
Na área da saúde, a internacionalização em casa ganha relevância especial devido à necessidade de formar profissionais capazes de lidar com desafios globais. O estudo mostra que essas ações promovem o intercâmbio de conhecimentos, tecnologias e práticas para a promoção do bem-estar local e global, permitindo que estudantes conheçam sistemas de saúde de outros países sem deixar o Brasil.
A pesquisa destaca que a internacionalização nas ciências da saúde promove maior competitividade e capacidade de produção e inovação, aproximando a oferta científica e tecnológica nacional da pesquisa mundial. “A internacionalização em casa é muito ampla, então ela permite que as universidades desenvolvam não só como instituição, mas principalmente o valor do capital humano que é transformado. E isso é um grande diferencial”, explica a pesquisadora.
Com levantamentos inéditos para a área da saúde, a orientadora do trabalho e Diretora de Pesquisa de Pós-graduação da FPP, Rosiane Guetter Mello, destaca que é possível olhar para educação em saúde com novas perspectivas. “É importante entender as suas ações, suas estratégias, saber se elas têm políticas de internacionalização. São pontos importantes para trabalharmos com o avanço na formação de um profissional da saúde de forma globalizada e intercultural”.
Perspectivas futuras
Por ser um campo novo, ainda em exploração, oferece diferentes oportunidades. Regina Toazza enfatiza: “a internacionalização em casa pode se configurar como um canal significativo para trazer o mundo para mais perto, incluir, educar, abrir portas e janelas para novos sonhos e caminhos”.
Fortalecer o debate sobre o tema está nos próximos passos da pesquisadora que vão desde propor implementações inovadoras a parcerias entre instituições. “A ideia é que a gente possa desenvolver estudos com a perspectiva de outros atores na educação internacional. Ampliar a pesquisa para outros públicos e aprofundar os estudos e publicações científicas na área, aliado à formação de docentes para poder implementar essas iniciativas, com treinamentos especializados, acesso à literatura direcionada e participação em eventos de internacionalização”, explica.