Quem era Brenda Bulhões? Empresária morta pelo ex pode dar nome projeto de lei sobre prevenção à violência


Brenda Bulhões foi morta a tiros em Guarujá (SP)
Arquivo pessoal
Mãe, filha, irmã, amiga e empreendedora do ramo de beleza. Brenda Bulhões foi assassinada a tiros em frente ao próprio salão de beleza pelo ex-namorado no dia 29 de novembro de 2024. Ela deixou uma filha de 9 anos, na época. O ex-namorado dela Bruno dos Santos Campos foi preso dois meses depois na fronteira com o Paraguai. O caso dela, agora, serviu de inspiração para um projeto de lei (PL) sobre um novo programa estadual para falar sobre violência nas escolas.
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O caso aconteceu na Rua Pará, no bairro Paecará, por volta das 8h20 do dia 29 de novembro de 2024. Uma câmera de monitoramento flagrou o crime. As imagens mostram que Brenda estacionou uma motocicleta em frente ao salão de beleza. Depois, um homem com um capacete caminhou na direção dela. O criminoso atirou e fugiu. Brenda caiu no chão e morreu no local (veja o vídeo abaixo).
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‘Previu’ a morte
Em entrevista ao g1, na época, a cabelereira Elisangela da Silva, mãe da de Brenda, disse que a filha ‘previu’ a própria morte 15 dias antes do crime. Ela pediu para a mãe cuidar da filha dela, alegando que não teria muito tempo de vida.
“Ela falou: ‘Mãe, eu acho que eu não vou viver muito’. Eu respondi: ‘Filha, por que está falando isso? Pelo amor de Deus, não fala isso'”, lembrou a mulher.
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Prisão
Bruno dos Santos Campos foi localizado e preso em Ponta Porã (MS) na fronteira com o Paraguai, para onde tentava fugir. O Departamento de Investigação da Polícia Nacional do Paraguai participou da ação que resultou na detenção do homem. Ele foi transferido do Mato Grosso do Sul (MS) a São Paulo em um avião.
Responsável pela defesa do Bruno, o advogado Marcos do Nascimento Jesuino Junior enviou uma nota dizendo que Bruno nega qualquer envolvimento com o crime e que desde o início, tem colaborado com as autoridades. “Os indícios apontados são frágeis e insuficientes para justificar qualquer medida contra Bruno, evidenciando que ele está sendo alvo de uma verdadeira caça às bruxas”.
Ainda segundo a defesa, não foram apresentados elementos concretos que sustentem a hipótese acusatória. “Confiamos que a verdade prevalecerá e que a Justiça não permitirá que conjecturas infundadas prejudiquem um inocente”, disse a defesa, em nota.
Brenda Bulhões planejava festa de 27 anos quando foi assassinada
Arquivo pessoal
Quem era Brenda Bulhões
Brenda nasceu no mesmo dia do irmão dela, mas sete anos depois. Por isso, a dupla costumava celebrar junto os aniversários. Em 2024, a mãe dela contou que Brenda, apensar de receber ameaças do ex, mantinha os preparativos para uma festa.
A jovem pretendia comemorar o aniversário no dia 8 de dezembro. Na ocasião, familiares e amigos escolheram a data para organizar uma passeata pedindo justiça pela morte dela.
“Era aquela pessoa que se estivesse feliz, ela estava feliz demais. Se ela estivesse amando, estava amando demais. Se estivesse triste e brava, também era demais”, disse a mãe dela. A cabelereira ainda falou que desde o nascimento da neta, Brenda lutou pela filha. “Criou [a menina] e trabalhava muito para dar tudo. Tudo não é só dinheiro, mas amor”, explicou.
Carreira
Brenda trabalha como cabelereira há 20 anos, mas entrou no ramo somente após ter a filha, pois era contratada em regime CLT e queria se dedicar aos cuidados com a bebê.
“Ela começou a fazer [cabelos] e publicar. Então ficou conhecida por causa dos cabelos que fazia. Falava que brilho era tudo no cabelo”, relembrou Elisangela.
Brenda chegou a atender as clientes na garagem de casa até o público aumentar e ser necessário alugar um espaço para o salão. “A gente foi construindo tijolinho por tijolinho”.
Segundo ela, o sonho da empresária era se manter independente e proporcionar um bom futuro para os pais e para a filha. “Ela sempre falava: ‘Eu só quero ter minhas coisas, não depender de ninguém. Que minha filha estude, seja uma pessoa do bem’. Além disso, o salão era a vida dela, dizia que era a casinha”, finalizou Elisangela.
Brenda Bulhões (à esq.) foi morta a tiros em frente ao próprio salão de beleza em Guarujá (SP)
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Relacionamento com o ex
De acordo com a mãe, o relacionamento com Bruno durou aproximadamente dez meses e teve fim em setembro de 2024, após um episódio de violência. Segundo ela, ele era extremamente ciumento e tinha um histórico violento com outras mulheres, mas Brenda não acreditava nas histórias, pois o suspeito dava diversas justificativas.
“Era sempre a mesma história que a gente já conhece. Ela acabou tendo pena e foi ficando com ele”, revelou a mãe. Segundo a cabelereira, o homem chegou a ficar na casa dela durante um período em que se recuperava de um acidente de moto. “Não apareceu ninguém da família, então ajudamos. Eu fui para o hospital, dei remédio, dei comida, dei casa e ele ficou morando”, afirmou.
Apesar disso, ele voltou a ser agressivo após se recuperar, chegando a ameaçar Brenda para a mãe dela. De acordo com Elisangela, o suspeito chegou a agredir Brenda na frente da filha dela.
Brenda resolveu colocar um ponto final no relacionamento após o homem quebrar o celular dela em meados de setembro. Depois, Brenda começou um novo relacionamento e era ameaçada de morte pelo ex-companheiro por meio de ligações.
“Ela tinha pena. Ela falava: ‘Mãe, ele é um coitado, vive sozinho, ninguém está com ele’. Eu falava que se uma pessoa está sozinha, nem a família gosta, o problema está na pessoa. E ela não acreditava”, contou a mãe.
Brenda Bulhões (à esq.) criou a filha (à dir.) com a mãe Elisangela (ao centro)
Arquivo Pessoal
Projeto de lei
O caso de Brenda Bulhões foi a inspiração de um projeto de lei (PL) que pretende criar o Programa Estadual de Prevenção à Violência contra Crianças e Adolescentes no Ambiente Escolar.
A proposta, com foco na prevenção da violência doméstica familiar e de gênero, foi apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) pela deputada estadual Solange Freitas (União Brasil), que recebeu a sugestão de Elisangela da Silva, mãe da empresária.
O PL 577/2025, intitulado PL Brenda Bulhões, busca criar um programa que faça ações com crianças e adolescentes dentro das escolas para que reconheçam qualquer tipo de violência e denunciem.
“O Estado não consegue estar dentro das casas. Então vamos ajudar quem está lá. Vamos ajudar as crianças e os adolescentes a reconhecerem a violência, a saberem o que fazer quando identificar a violência, a ter um caminho também para denunciar. E o PL prevê também uma escuta sigilosa dentro das escolas”, explicou a parlamentar.
De acordo com Solange Freitas, o projeto está tramitando nas comissões da Alesp e deve ir para a votação. Ao g1, a cabeleireira e mãe de Brenda, Elisangela da Silva, contou que espera que o projeto seja aprovado e o programa comece a fazer parte das rotinas das escolas o quanto antes, pois deve fazer a diferença na vida de muitas famílias.
“Minha filha foi tirada de mim, mas ela deixou um legado, que a gente vai conseguir salvar outras vidas. É o que eu mais espero nesse momento”, disse Elisangela.
Brenda Bulhões foi baleada com disparos na região das costas em frente ao próprio salão de beleza, em Guarujá (SP)
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