Tecnologia revoluciona saúde no Brasil e já atinge 92% dos hospitais


A ascensão tecnológica tem qualificado o cenário de saúde no mundo: da telemedicina ao uso de dados, é possível acompanhar essa transformação. Dados da pesquisa TIC Saúde 2024 mostram que 92% dos estabelecimentos de saúde do Brasil já utilizam sistemas eletrônicos para registro de informações dos pacientes, enquanto médicos (17%) e enfermeiros (16%) já adotam inteligência artificial em suas rotinas profissionais.
Além de números, a transformação alia aparelhos tecnológicos ao acesso à saúde e a diagnósticos mais precisos. Relógios inteligentes monitoram pressão arterial, algoritmos auxiliam diagnósticos oncológicos e mais de 30 milhões de consultas foram realizadas por telemedicina em 2023, conforme pesquisa publicada pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), um aumento de 172% em comparação ao período de 2020 a 2022.
A professora Diretora de Pesquisa e Pós-graduação da Faculdades Pequeno Príncipe, Rosiane Guetter Mello, avalia que a tecnologia já é uma realidade inerente da área de saúde. “A gente vive essa era da inovação da saúde, que é a Saúde 5.0, e a principal questão aqui é a integração do que temos de desenvolvimento tecnológico”. Segundo ela, a combinação entre inteligência artificial e conhecimento médico aumenta significativamente a precisão dos diagnósticos, conforme comprovado por estudos da Universidade de Harvard.
Inteligência artificial ganha espaço nos diagnósticos
Ainda conforme a pesquisa TIC Saúde, a adoção de IA tem se fortalecido em instituições voltadas à área. Em estabelecimentos privados chega a 20% enquanto nos públicos o percentual é de 14%. O estudo também mostrou que a utilização é mais significativa (20%) entre médicos que atuam em hospitais com mais de 50 leitos. Os principais usos identificados incluem o suporte às pesquisas (69%) e o auxílio na elaboração de relatórios médicos (54%).
O professor da Faculdades Pequeno Príncipe, Sandro Marques, especialista em análise de dados em saúde, destaca que a IA tem revolucionado especialmente a radiologia, a oncologia e a cardiologia no Brasil. “Algoritmos treinados em imagens de tomografia têm auxiliado na triagem de casos suspeitos de câncer de pulmão ou enfisema pulmonar, como o ChestFinder, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense”, exemplifica.
Medicina personalizada já é realidade
Na área oncológica, os avanços são concretos. “Principalmente na parte de câncer, a gente já tem um avanço grande na medicina preditiva e personalizada. Na hora que você faz uma avaliação do tipo de câncer, você já consegue ver qual o melhor tratamento de acordo com a genética”, afirma a professora Rosiane.
Para o professor Sandro, o Brasil possui vantagem única: as bases de dados do SUS integram informações de 75% da população brasileira. “Tem um potencial gigantesco e único no mundo para desenvolvimento de estudos observacionais e geração de evidências personalizadas”, destaca.
Telemedicina se consolida após pandemia
A pandemia acelerou a adoção da telemedicina no país. Atualmente, um terço dos estabelecimentos de saúde oferece serviços de telessaúde, com alta adesão: 87% dos pacientes aderem às primeiras consultas virtuais. As especialidades de saúde mental representaram 82% dos agendamentos de teleconsulta em 2024.
Desafios da transformação digital
Apesar dos avanços, obstáculos persistem. Apenas 23% dos médicos e enfermeiros realizaram capacitação em informática em saúde nos últimos 12 meses. “Temos desafios relativos à legislação, falta de padronização das bases de dados e nem sempre os profissionais estão preparados para usar adequadamente os prontuários eletrônicos”, alerta Marques.
Entre os principais obstáculos para a adoção da IA nos estabelecimentos estão a percepção de falta de necessidade (59%), a baixa priorização da tecnologia (61%) e os altos custos envolvidos (49%).
A incorporação de tecnologias é essencial para enfrentar “os desafios crescentes do setor, como aumento da complexidade clínica, envelhecimento populacional e custos crescentes”, segundo o professor.
Preparo de profissionais para o novo mercado da saúde
Diante da crescente presença da tecnologia no setor da saúde, o preparo dos estudantes deve incluir o desenvolvimento de competências analíticas e digitais. Para esse novo mercado, uma competência essencial é a analítica. “Ser capaz de entender e interpretar análises estatísticas e resultados de estudos que usem grandes volumes de dados, conseguindo avaliar inclusive a qualidade e validade daqueles resultados publicados”, afirma o professor Sandro Marques.
Ele também destaca o uso estratégico da inteligência artificial no dia a dia dos atendimentos: “Com ferramentas que resumem grandes volumes de dados rapidamente, o segredo está em saber fazer a pergunta de forma adequada e interpretar a validade e aplicabilidade desses resumos”. Para o professor, utilizar a tecnologia de forma crítica e eficiente será um diferencial para os profissionais da saúde do futuro.
Futuro promissor com redução de custos
Para os especialistas, o futuro é otimista. “Embora as tecnologias possam ser inicialmente caras, depois começam a diminuir o custo porque a gente avança com as pesquisas”, projeta a professora Rosiane. O governo estabeleceu a Estratégia de Saúde Digital para consolidar a digitalização até 2028, com 98% dos estabelecimentos já conectados à internet.
A transformação digital da saúde brasileira caminha para um modelo de assistência mais eficiente, acessível e personalizado, mantendo o paciente no centro do cuidado.
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