
Sidney Oliveira é dono da rede Ultrafarma
Ultrafarma/Divulgação
Garoto-propaganda da própria empresa, o empresário Aparecido Sidney de Oliveira, o famoso Sidney Oliveira, de 71 anos – preso na terça-feira (12) numa operação de fraudes fiscais no Fisco paulista – é dono de um império de farmácias – a Ultrafarma – que, em 25 anos, chegou a faturar mais de R$ 800 milhões por ano.
Depois de uma experiência malsucedida com a Drogavida – engolida pela concorrência forte das grandes redes – Oliveira abriu a primeira unidade da Ultrafarma no bairro da Saúde, Zona Sul de São Paulo, no início dos anos 2000, na esteira da introdução dos medicamentos genéricos no Brasil.
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A Ultrafarma se apresentou ao mercado logo de cara como especialista em medicamentos genéricos, que custavam mais barato que os de marca e caíram no gosto de no bolso dos brasileiros.
Rapidamente, as lojas na região do Metrô Saúde foram crescendo, graças também às campanhas agressivas de marketing que tinham o foco principalmente em idosos e consumidores de baixa renda.
Com presença massiva de merchandising em programas populares de televisão, onde o próprio Sidney Oliveira se apresentava ao consumidor falando dos preços baixos das suas lojas – ao lado de artistas populares como Lima Duarte, Carlos Alberto de Nóbrega, Agnaldo Rayol e Hebe, por exemplo – o empresário foi popularizando seu negócio, alardeando os preços baixos de suas lojas e atraindo mais clientela, principalmente, de idosos.
Atualmente, o bairro da Saúde, na capital paulista, tem nove unidades da Ultrafarma. Em 2022, a empresa adquiriu até o naming rights da estação Saúde do Metrô, principal referência de acesso dos clientes às lojas.
Estação Saúde – Ultrafarma, da Linha 1-Azul do Metrô de São Paulo, que ganhou o nome da empresa de Sidney Oliveira em 2022.
Reprodução/CMSP
Por cerca de R$ 72 mil por mês, a empresa DSM – Digital Sports Multimedia adquiriu o direito de expor o nome de suas empresas em três estações do metrô pelo prazo de 10 anos. Uma das estações foi repassada à Ultrafarma, na Linha 1-Azul.
Nascido em um município minúsculo, que não existe mais no Paraná, chamado Juciara, o empresário era o filho mais velho de nove irmãos. O pai era serralheiro e trabalhava na roça. Com sete para oito anos, começou a trabalhar na rodoviária da pequena cidade como engraxate e, aos domingos, vendia salgadinho.
Ele foi alfabetizado por meio do programa Movimento Brasileiro de Alfabetização para Jovens e Adultos (antigo Mobral), criado pelo educador Paulo Freire durante a ditadura militar.
Apesar de não ter frequentado nenhuma universidade, conseguiu montar um império que tinha a ambição de conquistar mais de 350 lojas franqueadas em todo o Brasil.
Quem é Sidney Oliveira, fundador da Ultrafarma preso nesta terça (12) em SP
A empresa foi uma das pioneiras em São Paulo na construção de uma rede de vendas pelo telefone e pela internet que fortaleceu a carteira de clientes da companhia, que diz ter atualmente mais de 1 milhão de clientes ativos.
A estratégia de participação massiva na mídia levou o empresário a criar, em 2015, a TV Ultrafarma, que transmitia por internet e antena parabólica uma programação de entrevistas e histórias de clientes – geralmente idosos – comprando produtos em suas farmácias.
As lojas apareciam sempre lotadas na região da Saúde, onde os clientes contavam histórias de vida e de doenças superadas com a ajuda dos medicamentos da empresa.
A TV Ultrafarma foi substituída por patrocínios diretos em programas de televisão em emissoras com SBT e RedeTV, que criaram programas de entretenimento com o nome da empresa.
Ao longo de 25 anos, Sidney Oliveira buscou proximidade com artistas mais velhos para consolidar empresa entre idosos, como Lima Duarte e Carlos Alberto de Nógrega.
Montagem/g1/Divulgação/Ultrafarma
Embora bem próximos da data de vencimento, a venda de medicamentos mais baratos e com descontos na Ultrafarma incomodou a concorrência, que também começou a ter que aplicar descontos e reduzir as margens de lucro para manter os clientes – prática utilizada atualmente em todas as farmácias de rede da capital paulista.
Em entrevista à Jovem Pan em 2023, Oliveira disse que o segredo do preço baixo era “negociar até secar as lágrimas” com os fornecedores.
Outro passo determinante para o empresário foi a entrada no ramo de suplementos alimentares, por meio da empresa Ultranutrientes. A marca de vitaminas e minerais, como ômega 3 e colágeno hidrolisado, de fabricação própria, passaram a ser o carro-chefe do empresário por causa da alta rentabilidade.
Na entrevista de 2023, ele chegou a falar em expectativa de faturamento de até R$ 3 bilhões em todos os seus negócios naquele ano.
Nos últimos anos, além de aparecer ao lado de artistas, ele iniciou uma empreitada junto a políticos, principalmente depois da eleição de Jair Bolsonaro (PL), onde foi recebido por alguns ministros da Esplanada.
Na eleição municipal de 2024, Sidney Oliveira gravou vídeo que espalhou para os clientes e seguidores de suas redes sociais defendendo o voto em Ricardo Nunes (MDB).
Além de proximidade com artistas, Sidney Oliveira buscou proximidade com políticos paulistas e ex-prefeitos, como Gilberto Kassab (PSD) e Ricardo Nunes (MDB), pra quem pediu votos na eleição municipal de 2024.
Montagem/g1/Divulgação/Ultrafarma
Operação do MP
Operação do MP mira esquema de corrupção de mais de R$ 1 bilhão
Sidney Oliveira foi preso em uma operação do Ministério Público de SP para desarticular um esquema de corrupção envolvendo auditores fiscais tributários da Secretaria de Estado da Fazenda. No total, seis pessoas foram presas.
O advogado Fernando Capez, que faz a defesa do empresário, disse que estava se inteirando dos motivos que levaram a Justiça a decretar a prisão de seu cliente.
Recentemente, ele tinha fechado um acordo com o MP, no valor de R$ 32 milhões, para não ser mais alvo de outro processo que apura um suposto esquema de fraude fiscal.
A Secretaria da Fazenda e Planejamento informou em nota que “está à disposição das autoridades e colaborará com os desdobramentos da investigação do Ministério Público por meio da sua Corregedoria da Fiscalização Tributária (Corfisp)”.
A investigação identificou um auditor fiscal estadual de alto escalão acusado de comandar um esquema de fraudes em créditos tributários que teria arrecadado em propinas, segundo promotores, cerca de R$ 1 bilhão de reais desde 2021. Ele também foi preso na operação.
De acordo com a apuração, o fiscal manipulava processos administrativos para facilitar a quitação de créditos tributários às empresas.
Em contrapartida, recebia pagamentos mensais de propina por meio de uma empresa registrada em nome de sua mãe.
Segundo investigação, um auditor fiscal facilitava o processo de ressarcimento de créditos para favorecer empresas em troca de propinas de mais de R$ 1 bilhão.
Arte/g1