
Cobra é filmada em árvore no Parque das Graças, no Recife
No domingo (10), frequentadores do Parque das Graças, no Recife, levaram um susto ao encontrar uma cobra gigante enrolada numa árvore (veja vídeo acima). O animal tinha acabado de comer e, por isso, não pode ser resgatado pela brigada ambiental. Depois, “deu um perdido” e, quando os agentes foram ao palco, a jiboia tinha sumido.
Mas, afinal, por que não se pode manejar cobras que estão “de barriga cheia”? Segundo Paulo Braga, doutor em biologia animal e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), se os agentes tivessem prosseguido com o resgate, a jiboia podia ter regurgitado o alimento, e sofrido grande estresse.
✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE
“Não é recomendado fazer manipulação, contenção ou captura de serpentes depois que ela se alimenta, porque o animal ele pode regurgitar como uma estratégia de defesa. Ela se alimentou, então está mais pesada. Quando você submete um animal ao estresse de captura, ele pode colocar para fora o alimento para tentar fugir, para ficar mais leve”, explicou o especialista.
O encontro inusitado com a cobra aconteceu à tarde, mas a tentativa de resgate aconteceu por volta das 19h30. Ao retornarem ao local na manhã da segunda-feira (11), as equipes da prefeitura não encontraram mais o animal, que tem quase dois metros.
Mesmo que inesperada, a “fuga” pode ter ocorrido de várias formas, segundo o especialista.
“Ela pode ter escapado se movimentando entre os galhos da vegetação da mata ciliar do manguezal e foi embora para outra árvore. Pode ter ido por terra mesmo, durante a noite, e ter cruzado o parque. Elas têm uma capacidade de natação muito boa. Então, uma das hipóteses é que ela pode ter entrado na água, nadado e cruzado a margem e procurado outro ambiente”, afirmou.
Cobra jiboia no Parque das Graças, no Recife
Kleber Mendonça Filho/Instagram
Jiboia não ameaça humanos
Pelas imagens da tentativa de resgate, o biólogo conseguiu identificar que a jiboia é adulta e pertence à espécie Boa constrictor. O animal é nativo da fauna de Pernambuco e ocorre em locais de mata, como a região do parque onde foi encontrada.
“A presença das pessoas, geralmente, pode afugentar a serpente, mas eventualmente vai acontecer de uma ou outra aparecer. É provável que existam várias outras serpentes ali, de outras espécies, mas os encontros são muito raros, porque não são animais que gostam de interação com pessoas”, contou o professor da UFPE.
Família de capivaras e jacaré são flagrados descansando juntos no Rio Capibaribe
Segundo o biólogo, as jiboias não apresentam riscos aos humanos, pois não são peçonhentas e se movimentam lentamente. Esses animais matam por constrição, apertando as presas com o corpo, e não por veneno.
Serpentes dessa espécie costumam predar animais de pequeno porte, como aves, ratos e morcegos. Quando a cobra foi vista no Parque das Graças, havia rumores de que ela tinha comido uma capivara. O g1 questionou o especialista sobre essa possibilidade.
“Não dá para confirmar sem [avaliar] o conteúdo estomacal [da cobra]. Se for uma capivara muito pequena, é até possível, mas é muito improvável. Um animal daquele tamanho é muito improvável que tenha pegado uma capivara”, pontuou o biólogo.
Resgate de animais silvestres
Caso cobras ou outros animais silvestres sejam encontrados, a recomendação é acionar o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) da Polícia Militar, por meio do telefone 190. Alguns municípios contam, ainda, com uma brigada ambiental especializada, que pode ser notificada.
Os animais resgatados no Grande Recife são encaminhados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), na Guabiraba, Zona Norte da capital.
No centro, eles passam por avaliação veterinária e, caso necessário, são reabilitados. Depois é feita a soltura, de preferência em locais próximos de unidades de conservação.
*Estagiária sob supervisão do editor Pedro Alves.
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias