
Morte de criança que colocou milho no nariz é investigada pela Polícia Civil
Ravi de Souza Figueiredo, de 2 anos, morreu após passar por um procedimento médico na tentativa de retirar um grão de milho de pipoca que havia ficado preso no nariz do menino, em Goiatuba, segundo a Polícia Civil. A corporação explicou que foi utilizada uma espécie de “cânula” com ar para tentar retirar o grão.
“É uma técnica que não é usual, que não é recomendável, que foi a introdução de uma cânula de ar comprimido nas vias aéreas superiores da criança. Isso fez com que o ar entrasse com muita força no pulmão e no estômago, causando o rompimento desses órgãos”, explicou o delegado Sérgio Henrique à TV Anhanguera.
Ravi morreu no dia 5 de abril de 2025, mas o caso foi divulgado pela família três meses depois, em julho. O g1 não conseguiu localizar a defesa de Daniela Carvalho até a última atualização desta reportagem. A defesa de Isabella Helena disse que vai se manifestar no decorrer do processo e que respeita o curso legal da investigação.
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De acordo com a médica otorrinolaringologista Raíssa Valletta, ao g1, o procedimento que deve ser realizado neste tipo de situação é chamado retirada de corpo estranho nasal. Ela explicou que há várias formas de fazer o procedimento, que é escolhido dependendo do caso.
“O mais comum é usarmos pinças específicas para isso, como gancho ou pinça de preensão, o procedimento é realizado pelo otorrinolaringologista e na maioria das vezes é feito no consultório mesmo, sem necessidade de anestesia”, explicou Raíssa.
Ainda segundo a médica, o procedimento utilizado no menino tem a mesma finalidade, mas é pouco utilizado. Nele, é introduzido um cateter com ar comprimido na narina contralateral para que a pressão “expulse o corpo estranho”.
“O problema é que as vias aéreas são conectadas e essa pressão vai se distribuir de acordo com fatores muito variáveis, como o calibre e a resistência das vias aéreas do paciente, tamanho do corpo estranho e o volume de ar injetado”, explicou.
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Raíssa destacou que o procedimento costuma ser realizado de forma rápida, mas, em alguns casos, pode ser necessário “usar sedação ou anestesia geral em centro cirúrgico para fazer a retirada com segurança”.
De acordo com o prontuário do Hospital Municipal de Goiatuba recebido pela família de Ravi e divulgado pela TV Anhanguera, após o uso do ar, a equipe médica utilizou um aparelho de video-otoscópio e uma pinça para retirar o milho. Documento também destacou que o hospital não dispunha de materiais adequados para realizar o procedimento.
O MP informou ao g1 que recebeu o inquérito policial no final de julho e aguarda informações técnicas complementares requisitadas ao Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego).
Morte de Ravi
Morte de criança de 2 anos é investigada após família denunciar erro médico
Segundo os pais da criança, Priscila Marta e Josenilson da Silva, após o procedimento realizado no hospital, a barriga do menino ficou inchada e ele estava inquieto e vomitando.
Segundo o pai da criança, a equipe médica afirmou que isso era normal e foi administrado um remédio para gases e a criança ficou em observação por algumas horas. Depois disso, recebeu alta.
“A gente chegou em casa, e ele piorou. Continuava inchado, com fraqueza e não conseguia falar. Ele não parecia bem, estava agoniado, e então voltamos para o mesmo hospital”, relatou Josenilson.
Novamente no hospital, a equipe aplicou uma medicação e realizou exames na criança, segundo o pai. Depois disso, um pediatra informou que seria necessário transferi-lo para Goiânia. Ele foi levado em uma ambulância, mas, a caminho da capital, passou mal, teve dificuldade para respirar e morreu no Hospital Municipal de Hidrolândia, onde foi atendido às pressas.
Ao g1, o advogado da família, Vinícius Dias, disse que vai auxiliar o Ministério Público durante o processo criminal. Em nota, a defesa disse que “será firme, técnica e combativa, com o propósito de contribuir para que o julgamento reflita, de forma justa, a gravidade do ocorrido e a necessidade de prevenção de condutas semelhantes no futuro”.
Investigação
De acordo com laudo da Polícia Científica, a causa da morte foi insuficiência respiratória aguda. o delegado Sérgio Henrique Alves disse que, de acordo com o médico legista, o procedimento realizado no hospital foi incorreto.
A defesa da família confirmou que, após os procedimentos para tentar retirar o grão de milho, a criança sofreu perfurações no pulmão e no estômago.
Tipificação
Ao g1, o delegado explicou que homicídio culposo acontece quando uma pessoa tira a vida de outra sem ter a intenção de matar, mas por descuido, imprudência, imperícia ou negligência. Sérgio ainda deu alguns exemplos para a reportagem:
Negligência – deixar de tomar cuidado que deveria. Exemplo: médico que não acompanha um paciente em estado grave e este morre;
Imprudência – agir de forma precipitada e perigosa. Exemplo: dirigir acima da velocidade em área escolar;
Imperícia – falta de habilidade técnica para realizar algo. Exemplo: operador de máquina sem treinamento que a usa de forma errada e causa a morte de alguém.
Ravi de Souza Figueiredo, de 2 anos, morreu após colocar um grão de milho no nariz, família denuncia erro médico no atendimento da criança, em Goiatuba, Goiás
Arquivo pessoal/Josenilson Figueiredo
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