
Entenda esquema de corrupção que afastou prefeito de São Bernardo do Campo
O servidor público Paulo Iran Paulino Costa é apontado pela Polícia Federal como operador financeiro de um esquema que, segundo as investigações, desviava recursos públicos da Prefeitura de São Bernardo do Campo. Ainda de acordo com a PF, ele também organizava, controlava e pagava diversas despesas pessoais do prefeito Marcelo Lima (Podemos) e de sua família.
Marcelo foi afastado do cargo na quinta-feira (14) após operação da PF que investiga suspeitas de corrupção.
Segundo a investigação, Paulo Iran desempenhava papel central em um esquema de controle financeiro oculto, sendo o agente principal na arrecadação e na distribuição de valores supostamente ilícitos, que, segundo as evidências, vinham de diversas empresas com contratos com a Prefeitura de São Bernardo do Campo e a Fundação ABC.
A Polícia Federal descobriu por acaso o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, ao encontrar cerca de R$ 14 milhões com o servidor durante outra operação.
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Entre as despesas pagas por Paulo Iran, segundo a PF, estão:
Fatura de cartão de crédito do prefeito Marcelo Lima no valor de e R$ 32.049,78;
Contas telefônicas da esposa do prefeito, Rosangela dos Santos Lima Fernandes;
Despesas de viagem, incluindo a aquisição de passagens aéreas internacionais para a esposa, como uma de R$ 19.182,14 para Washington, nos Estados Unidos;
Mensalidades da faculdade de medicina da filha do prefeito, Gabriele dos Santos Lima Fernandes, no valor de R$ 8.284,95, além de outros boletos.
Nos documentos da PF obtidos pela TV Globo, registros fotográficos dos passaportes de Marcelo e Rosangela foram encontrados, sugerindo que Paulo Iran era responsável pela compra das passagens para o casal.
No dia 7 de julho, os policiais estavam por coincidência no prédio em que ele mora e, por um motivo não informado, resolveram abordá-lo e se surpreenderem ao encontrar R$ 14 milhões com ele: uma parte estava no carro e outra, no apartamento.
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No total, foram apreendidos quase R$ 13 milhões e US$ 157 mil em espécie. Na época, ele não foi preso, mas, ao longo das investigações, a Justiça decretou a prisão preventiva dele. Ele está foragido. Em nota, o advogado do servidor informou que “aguarda acesso aos autos, onde se manifestará”.
Prefeito de São Bernardo do Campo é alvo de operação da PF
Troca de mensagens
Segundo a PF, Marcelo Lima emitia determinações financeiras diretas para que Paulo Iran realizasse pagamentos e transferências para terceiros. As conversas entre eles, iniciadas em 26 de julho de 2022, demonstravam uma relação de subordinação: Marcelo solicitava os pagamentos, e Paulo Iran os executava.
Marcelo também instruía Paulo Iran a “anotar tudo para o posterior acerto” e pedia a “lista do que tem para entrar”, segundo documento da PF. Há ainda registros em que Marcelo sugere a Paulo que “dê uma de bobo” ao contatar outro indivíduo para saber se havia “alguma coisa nova” a ser recebida.
A PF indica que as trocas de mensagens eram feitas com cautela. Segundo a investigação, as mensagens entre os dois foram configuradas como temporárias e apagadas automaticamente entre abril de 2023 e maio de 2025.
Dinheiro apreendido pela Polícia Federal com servidor da Alesp no dia 7 de julho
Divulgação/PF
Cargos públicos
Paulo Iran também atuava como auxiliar legislativo no gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL) desde setembro de 2022. Segundo o portal da transparência da Alesp, seu salário era de R$ 6.154,51.
No documento da PF, a investigação aponta que Marcelo tratou diretamente com Paulo sobre a nomeação dele e de sua esposa para cargos na Alesp.
Segundo a investigação, Paulo Iran foi nomeado para o cargo de assessor no gabinete de Rodrigo Moraes no mesmo dia em que o assunto foi abordado em mensagens pelo prefeito e pelo servidor.
No portal de transparência da Alesp, consta que tanto Paulo quanto a esposa foram nomeados em 2 de setembro de 2022 para o gabinete do deputado Rodrigo Moraes (PL).
Rosangela ocupou o cargo até novembro de 2024. Paulo, até a quinta (14), quando foi exonerado.
Procurado, o deputado informou que o servidor será exonerado. “No meu mandato não aceito qualquer suspeita de corrupção ou conduta indevida”, declarou.
Sobre a nomeação do casal ter ocorrido no mesmo dia em que Paulo tratou do assunto com o prefeito de São Bernardo do Campo, a assessoria de imprensa do deputado informou apenas para a equipe de reportagem “procurar a prefeitura [de São Bernardo]” e que “o deputado já exonerou Paulo”.
Com o afastamento do prefeito, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante.
Arte/g1
Operação Estafeta
O prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos), ao lado do vereador suplente Ary José de Oliveira (PRTB), além do presidente da Câmara Municipal da cidade, Danilo Lima (Podemos).
Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais
A PF cumpriu na quinta-feira (14) 20 mandados de busca e apreensão, além de quebras de sigilos bancário e fiscal nas cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema.
As ordens judiciais foram expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e incluíram ainda afastamento de cargos públicos e monitoramento eletrônico de investigados.
Com o afastamento do prefeito Marcelo Lima, quem assume o comando da cidade é a vice-prefeita, Jessica Cormick, do Avante. Aos 38 anos, ela é sargento da Polícia Militar e está no seu primeiro cargo público eletivo.
Na operação, batizada de Estafeta, foi preso em flagrante o empresário Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco Ltda., que tem contrato com a prefeitura. Na casa dele, a PF apreendeu R$ 400 mil. (Veja foto abaixo.)
Dinheiro apreendido pela PF nesta quinta-feira (14), em endereços ligados a empresários e servidores que participavam do esquema de corrupção em São Bernardo do Campo (SP)
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo
Também foi preso Antonio Rene da Silva, que é servidor da Prefeitura de São Bernardo e atua como Diretor de Departamento na Secretaria de Coordenação Governamental. Havia um mandado de prisão contra ele.
O atual presidente da Câmara Municipal da cidade e primo do prefeito, vereador Danilo Lima Ramos (Podemos), também é alvo de buscas pela polícia, assim como o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB).
Os envolvidos poderão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e corrupção ativa.
Procurada, a prefeitura afirmou que irá colaborar com a investigação. “A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade”, disse a administração municipal.
O g1 também tenta localizar a defesa dos demais investigados.