
Euro, marido de Hytalo Santos, preso suspeito de tráfico humano e exploração sexual, nasceu na Baixada Santista e é filho de político
Redes Sociais
Israel Nata Vicente, conhecido como Euro, foi preso preventivamente com o marido e influenciador paraibano Hytalo Santos em uma casa em Carapicuíba, na Grande São Paulo, sob suspeita de tráfico humano e exploração sexual. Nascido em Santos, no litoral paulista, ele já trabalhou como modelo, jogador de futebol amador e MC antes da fama nas redes sociais.
Hytalo é investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MP-PB) e Ministério Público do Trabalho (MPT) por exploração e exposição de menores de idade em conteúdos produzidos para as redes sociais. O caso ganhou repercussão após denúncias do youtuber Felca sobre a “adultização” de crianças e adolescentes.
Desde o dia 6, quando Felca mencionou em vídeo a atuação de Hytalo nesse tipo de conteúdo, o influenciador foi alvo de medidas da Justiça da Paraíba, que incluem uma ação civil pública do MP-PB e mandados de busca e apreensão.
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Apesar de ter nascido em Santos, Euro morou em São Vicente, cidade vizinha, antes de se mudar para a Paraíba (PB). O pai dele, Cesar Vicente, concorreu ao cargo de vereador de São Vicente nas eleições municipais de 2016 e 2020 e a deputado estadual em 2014, ficando em todas como suplente.
Euro tem 33 anos e é pai de dois filhos. O influenciador também é cantor de funk e gravou diversas músicas com Hytalo, com quem se casou em 2023, em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, ocasião em que distribuíram um iPhone 15 Pro Max junto com o convite da festa.
O assessor Josué Vicente disse que Euro esporadicamente visita os familiares em São Vicente (SP), sendo que a mudança para a Paraíba ocorreu há 10 anos.
“Sempre foi um menino talentoso e sempre teve vocação, uma veia artística. E aí ele acabou desenvolvendo isso e se juntou com o Hytalo, que é um dançarino”, disse o assessor.
Equipe discorda de prisão
Josué Vicente afirmou entender que a prisão foi arbitrária. “Sinceramente, eles estavam a passeio no estado de São Paulo, então ninguém estava fugindo de nada, não tinha nenhum mandado de prisão e eles estavam obedecendo o que o Ministério Público pediu”, alegou o assessor.
Vicente acrescentou que nas últimas 48 horas foram constituídas duas bancas de advocacia para defender Euro e Hytalo. “Nosso pensamento é fazer um documentário, mostrando a realidade das coisas, como se apresenta. Muita coisa que foi dita naquele vídeo não é verdadeira”, complementou.
O assessor afirmou que não é a favor de pautas que envolvem pedofilia. “A gente controla o conteúdo que é promovido. Agora, como que a gente vai controlar as conversas nos comentários? […] ntão está sendo atribuída a nós a culpa por algo que não cometemos”, disse.
Josué alegou que eles manifestam apoio ao vídeo do Felca, mas que ele errou o alvo. “Ele está objetivando [mirando] no Hytalo e no Euro”. Segundo o assessor, os advogados tiveram acesso à decisão da prisão dos influenciadores e estão trabalhando no pedido do Habeas Corpus (HC).
Operação policial
A prisão deles envolveu o MP-PB em atuação conjunta com o MPT, a Polícia Civil da Paraíba e de São Paulo e a Polícia Rodoviária Federal da Paraíba.
As ordens de prisão foram expedidas pelo juiz Antônio Rudimacy Firmino de Sousa da 2ª Vara da Comarca de Bayeux, na Paraíba.
Em sua decisão, o magistrado disse que “há fortes indícios” de tráfico de pessoas, exploração sexual e trabalho infantil artístico irregular, produção de vídeos com divulgação em redes sociais e constrangimento de crianças e adolescentes, entre outros crimes.
Ele argumentou ainda que a prisão procura “impedir novos atos de destruição ou ocultação de provas, bem como evitar a intimidação de testemunhas”, acrescentando que essas “situações que já vêm ocorrendo desde que os investigados tomaram conhecimento da existência da investigação em seu desfavor”.
O juiz ressaltou que os dois “já destruíram elementos de prova; já removeram tudo aquilo que seria apreendido; já turbaram a investigação criminal, e tais situações estão claras nos autos”.
O magistrado reiterou que as condutas deles “revelam uma ação coordenada para comprometer o curso regular das investigações, dificultar o esclarecimento da verdade e prejudicar a eficácia do trabalho investigativo conduzido por este grupo especial”.
E prosseguiu: “Os representados têm adotado condutas reiteradas para dificultar o esclarecimento da verdade, valendo-se de práticas ilícitas como a tentativa de destruição de documentos e aparelhos eletrônicos, esvaziando às pressas residência, ocultando valores e veículos utilizados”.
Essas condutas evidenciam a necessidade de medidas extremas para assegurar a integridade das provas e a regularidade do procedimento investigativo.
Influenciador Hytalo Santos é preso
Medidas judiciais contra o influenciador
Suspensão das redes sociais e desmonetização de conteúdo
A Justiça da Paraíba mandou bloquear o acesso de Hytalo às redes sociais dele na terça-feira (12). A promotora do MPPB Ana Maria França solicitou também que os vídeos do influenciador que já estão no ar em diversas redes sociais sejam desmonetizados, ou seja, não possam dar retorno financeiro para o influenciador, e a Justiça também acatou esse pedido.
Proibição de manter contato com as vítimas
A decisão da terça também proibiu o influenciador de ter contato com os adolescentes citados nos processos que o investiga pela exposição dos menores em vídeos com conteúdo sexual. A decisão é em caráter provisório.
Apreensão de celulares e computador
A Justiça da Paraíba apreendeu um computador e aparelhos celulares na casa do influenciador em João Pessoa nesta quinta-feira (14), segundo informações do juiz Antônio Rudimacy Firmino. Desta vez, os policiais conseguiram acessar o interior do imóvel e tinham autorização para arrombar as portas, em caso de resistência e necessidade.
Na quarta-feira (13), um mandado de busca foi cumprido nesse mesmo endereço, mas encontraram o imóvel fechado, sem ninguém.
Apuração do MP é anterior a vídeo de Felca
A investigação do MPPB começou em 2024. O caso é dividido em duas promotorias, a de Bayeux e a de João Pessoa:
Bayeux: a investigação é da promotora Ana Maria França. A apuração começou no fim de 2024 após denúncias de vizinhos do condomínio de Hytalo de que adolescentes faziam topless e participavam de festas com bebida alcoólica.
João Pessoa: o responsável pela condução dos trabalhos é o promotor João Arlindo, que disse ao g1 que investiga a possibilidade de um esquema feito pelo influenciador para obter a emancipação desses menores de idade em troca de presentes, como celulares, para os familiares deles. Segundo o promotor, o relatório do inquérito vai ser finalizado na próxima semana.
Em ambos os processos, Hytalo foi ouvido e negou as acusações. Os adolescentes foram ouvidos somente no processo de João Pessoa, que começou primeiro, para que não fossem revitimizados.
🔎 Emancipação é o ato que concede a um menor de idade, entre 16 e 18 anos, a capacidade civil plena, permitindo que ele pratique todos os atos da vida civil como se fosse maior de idade, por exemplo, assinar contratos, comprar e vender bens, entre outros.
Investigação do MPT
Hytalo Santos no momento em que foi preso e, à direita, em vídeo com adolescentes
Reprodução/TV Globo
Hytalo também é investigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). A informação foi divulgada na noite desta terça-feira em um vídeo no qual o procurador Flávio Gondim trouxe detalhes sobre a investigação.
O procurador detalhou que as investigações analisaram mais de 50 vídeos publicados nas redes sociais do influenciador e foram colhidos mais de 15 depoimentos de pessoas envolvidas na produção desses conteúdos.
“Foram analisados, de maneira muito criteriosa, mais de 50 conteúdos, 50 vídeos veiculados nas diversas redes sociais mantidas por Hytalo Santos. Foram colhidos mais de 15 depoimentos de pessoas vinculadas ao projeto de produção de conteúdo digital, incluindo pessoas que trabalharam para ele em diversos momentos. Foram analisados diversos documentos.”, disse Gondim.
Resumo das medidas judiciais contra Hytalo
PRISÃO: juiz decreta prisão dele e do marido para evitar destruição de provas
BUSCA E APREENSÃO: mandado cumprido na quarta-feira em um condomínio de luxo, onde o influenciador mora, no bairro do Portal do Sol, pela promotoria de João Pessoa; não houve apreensão, pois a casa estava fechada;
BLOQUEIO DE REDES SOCIAIS: decisão da Justiça que bloqueou o acesso às redes sociais do influenciador;
PROIBIÇÃO DE CONTATO COM AS VÍTIMAS: Hytalo não pode ter contato com os adolescentes citados no processo;
DESMONETIZAÇÃO: ele não pode receber dinheiro por conteúdos publicados nas redes sociais;
PEDIDO SOBRE EMPRESA: pedido, em conjunto do Ministério Público da Paraíba (MPPB), Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Civil, para que a Loteria do Estado da Paraíba (Lotep) suspenda a empresa de rifas e sorteios ligada ao influenciador por uso irregular de imagens de menores de idade em conteúdos digitais veiculados para promover a empresa. A Lotep disse que o influenciador atuou apenas como divulgador contratado pela empresa FM Agenciamento Publicitário & Intermediação de Negócios;
SEGUNDO PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO: nesta quinta-feira, a Justiça da Paraíba autorizou novas buscas e apreensões em endereços ligados a Hytalo. Desta vez, a autorização estava relacionada à ação da promotoria de Bayeux. Foram apreendidos um computador e aparelhos celulares.
Infográfico – Entenda o debate sobre ‘adultização’ que viralizou nas redes envolvendo Felca e Hytalo.
Arte/g1
Violência e abuso sexual infantil: saiba como denunciar
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