
Dentista Bruno Fernando decidiu perdoar o pai e participou do ‘Meu Pai Tem Nome’ no AC
Acreanos, de vários municípios do estado, buscaram neste sábado (16) os serviços da Defensoria Pública do Acre (DPE-AC), na 4ª edição do projeto “Meu Pai Tem Nome”. O Dia D, como é denominada a ação e que acontece em todo o país simultaneamente, contou com a presença de juízes e cartórios para que os trâmites fossem agilizados.
No estado, mais de 300 pessoas se inscreveram para participar da ação. A iniciativa busca regularizar o vínculo entre pais e filhos, oferecendo exames de DNA gratuitos e apoio legal para aqueles que desejam ter seus direitos reconhecidos.
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“Meu Pai Tem Nome” não se limita apenas ao reconhecimento da paternidade biológica, mas também abrange a paternidade socioafetiva, em que laços de afeto e convivência são reconhecidos como laços familiares.
A servidora pública Meire Jane, 34 anos, escreveu uma carta para o pai que cuida dela desde os 8 anos de idade, na qual pontua que pai não é só quem gera, mas quem ama, cuida, apoia e está presente, e declarou que o pai fez tudo isso com paciência e entrega.
“Desde que você entrou na minha vida tudo mudou pra melhor. Com o tempo percebi que você me ensinou com exemplo e me guiou com carinho e construiu comigo uma relação que vai além de qualquer vínculo de sangue, quero que seu nome esteja na minha certidão de nascimento como já está no meu coração”, afirmou Meire durante a ação.
A servidora pública comentou que está realizando uma vontade que, para algumas pessoas, não faz diferença, mas, para ela, é essa diferença que estava faltando em sua vida.
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Servidora pública Meire Jane realizou o sonho de colocar o nome do pai em sua certidão
Júnior Andrade/Rede Amazônica
“Na minha certidão de nascimento tem dizendo: nada consta, e isso é uma situação muito ruim, que vem desde criança, e na vida adulta a gente sabe que coisas remetem à nossa infância. Eu vi que eu tenho um pai afetivo, de coração, eu tenho pai”, assegurou ela.
De acordo com o coordenador de Cidadania da DPE, Celso Araújo, a iniciativa é fundamental para a construção da cidadania e a garantia dos direitos fundamentais das pessoas.
“Nós somos a única Defensoria do país que está com a presença de juízes e promotores de justiça fazendo a audiência e com a presença também dos cartórios ou seja a pessoa participa da audiência já sai com a decisão, com uma sentença do magistrado e em seguida já é encaminhado pro cartório. O que demoraria um ano a gente resolve em um dia”, garantiu ele.
A defensora pública Juliana Marques Cordeiro comentou sobre o desejo de muitas pessoas de ter o reconhecimento da paternidade em sua certidão de nascimento.
“Infelizmente não só no nosso estado, mas em todo o Brasil, muitas crianças nascem sem o reconhecimento ali devido no momento certo, e aí depois as crianças vão crescendo e vão se distanciando mais ainda, e fica esse desejo”, disse ela.
Viu a morte de perto
Bruno Fernando estava dentro do avião que caiu logo após a decolagem, a 1 quilômetro da cabeceira da pista de Manoel Urbano, em março de 2024. Sete pessoas estavam a bordo do avião modelo Cessna Skylane 182, que ia para Santa Rosa do Purus. Quatro morreram e Bruno foi um dos sobreviventes.
Antes do acidente, Bruno carregava muito ressentimento pelo pai. “Por muito tempo eu não queria, eu tinha uma raiva dele, às vezes nem eu entendia o porquê, mas depois eu aprendi a perdoar ele, depois eu entendi que ele poderia ter me dado só aquilo que ele recebeu também”, afirmou ele.
Após ver a morte de perto, o dentista decidiu perdoar o pai, se aproximar dele e agora colocar o nome do genitor em seus documentos.
“Nesse tempo eu fiquei pensando muito: eu não posso morrer sem ter o nome do meu pai na minha certidão. Eu tinha vergonha de ir tirar um documento e não ter o nome do meu pai na certidão. Hoje eu estou muito feliz”, comemorou ele.
O aposentado José Carlos, pai de Bruno, agora reconhecido no papel, sabe a importância desse momento. “É outra vida, né, acho que ele vai ter prazer de tirar um documento e mostrar: olha, eu tenho um pai. Ele falava que tinha um pai, mas, ao mesmo tempo, no documento não tinha um pai. Agora ele tá feliz, muito feliz e eu também tô”, declarou ele.
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