
Donald Trump, presidente dos EUA, e Gustavo Petro, presidente da Colômbia
Jim Watson, Yuri Cortez / AFP
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou nesta sexta-feira (22) que “estão usando o narcotráfico como desculpa para invasão militar”. Nesta semana, o governo dos Estados Unidos enviou, a mando de Donald Trump, navios de guerra para o Caribe para combater cartéis de drogas, segundo a justificativa oficial.
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“Estão usando o narcotráfico como desculpa para invasão militar. (…) É absolutamente essencial que os Ministérios de Defesa, Exércitos e inteligências policias dos países sul-americanos e latinos possam se coordenar no combate ao narcotráfico e da máfia, que são os inimigos da floresta Amazônica”, afirmou Petro, sem citar os EUA.
A indireta de Petro ocorreu dias após o governo Trump ter enviado seis navios de guerra para o sul do Caribe, perto da costa da Venezuela, como parte de uma operação para combater cartéis de tráfico de drogas sul-americanos.
Petro pregou, durante fala na cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que o combate ao narcotráfico internacional na América Latina compete aos países da região, apenas.
Entenda a escalada de tensões entre governo Trump e EUA
O deslocamento dos navios, confirmado por agências de notícias, escalou tensões com o governo de Nicolás Maduro, e os EUA prometeram usar “toda a força” contra o regime venezuelano, porém sem dar mais detalhes. O governo Trump acusa Maduro de liderar um cartel de drogas chamado Cartel de Los Soles, considerado no mês passado como organização terrorista internacional pelos EUA.
O líder colombiano é crítico dos Estados Unidos e do governo Trump, e já havia criticado na quarta-feira o envio dos navios americanos e disse que invadir a Venezuela “seria um erro” dos EUA. Ao mesmo tempo, Petro criticou autoridades venezuelanas por negar a existência de grupos criminosos no país
“Os americanos estão enganados se pensam que, ao invadir a Venezuela, estarão resolvendo seu problema. Estão colocando a Venezuela na mesma situação da Síria, e ainda arrastariam a Colômbia para o mesmo cenário, porque esses grupos assumiriam o controle dos recursos subterrâneos e minerais — e isso significa mais economia da morte, não da vida. Por isso eu disse aos Estados Unidos, por meio de seus enviados, que essa (invadir a Venezuela) seria o pior erro possível”, afirmou Petro.
Invasão dos EUA a países da América Latina é improvável, segundo especialista
Destróier USS Gravely, da Marinha dos EUA, enviado por Trump à costa da Venezuela.
D. L. “Paul” Farley/Marinha dos Estados Unidos
Víctor Mijares, professor de estudos globais da Universidade dos Andes, na Colômbia, afirmou à agência de notícias RFI que o contingente de navios e os cerca de 4.000 marinheiros e fuzileiros navais enviados por Trump é pouco expressivo.
Segundo ele, o deslocamento parece grandioso, mas não do ponto de vista operacional. Mijares avalia que a ação faz parte do que se viu no último ano da administração Trump.
Há setores mais pragmáticos, ligados ao petróleo, que se entendem com Nicolás Maduro ou outros líderes com quem possam fechar negócios nos setores de mineração e energia. Também estão em jogo, segundo especialista, os interesses políticos do secretário de Estado, Marco Rubio, cuja base eleitoral está na Flórida.
Mijares cita cubanos, colombianos, venezuelanos e outros latino-americanos que defendem pressão militar contra os governos da Venezuela, Nicarágua e Cuba.
Em menor grau, também contra a Colômbia, por verem Gustavo Petro como uma ameaça.
Três navios de guerra teriam sido enviados para perto da costa venezuelana. “O envio militar americano às águas do Caribe, sob o pretexto de operações antidrogas, representa uma ameaça à paz e à estabilidade da região”, afirmaram os membros da Alba em declaração conjunta.
A organização, fundada pelos ex-presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Fidel Castro (Cuba), demonstrou seu apoio a Maduro. Também pediu ao presidente colombiano, Gustavo Petro, atual presidente da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que convoque uma reunião extraordinária de chanceleres.
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Mensagem política
Mijares descarta a possibilidade de uma invasão dos EUA à América Latina. Ele afirma que se trata, sobretudo, de uma operação naval. Há fuzileiros navais e soldados de infantaria para operações terrestres, mas, até o momento, o que se observa é uma ação marítima.
Segundo ele, o volume e o poder de fogo dos navios chamam a atenção, mas a intenção é enviar uma mensagem política de que os EUA manterão e retomarão presença no Caribe. Em nenhum momento se falou em intervenção direta, nem mesmo no caso venezuelano.
A Alba foi criada em 2004 como resposta ao fracassado projeto dos EUA de estabelecer a Área de Livre Comércio das Américas (ZLEA). É composta por Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominica, Granada, Nicarágua, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas e Santa Lúcia. Sua influência diminuiu após a morte de Chávez, em 2013.
Durante a reunião, Maduro convocou os povos do mundo a se manifestarem em favor da Venezuela. Ele declarou que um ataque contra seu país seria um ataque contra toda a América Latina e o Caribe.
Segundo o presidente venezuelano, a ameaça de uso da força e o recurso à força são proibidos pelas Nações Unidas. Incentivar uma mudança de regime de um país sobre outro também é proibido e condenado pela ONU.
Maduro anunciou ainda que um navio da Alba partirá nesta quinta-feira (22) para a região, com o objetivo de lançar um projeto de intercâmbio comercial entre os países do bloco.
Poderio militar da Venezuela.
Gui Sousa/Equipe de arte g1