
Javaporcos abatidos na Califórnia apresentaram carne e gordura em tom azul neon. O responsável é a difacinona, veneno anticoagulante usado no controle de ratos, principalmente na agricultura.
De acordo com o jornal “Los Angeles Times”, testes de laboratório mostraram que os animais foram expostos ao veneno “por um período prolongado”. Eesse animais – que se alimentam de quase tudo que encontram – não conseguem reconhecer se esses roedores estão envenenados ou não.
New York Post divulgou o caso dos javaporcos que tiveram contato com o veneno
Reprodução/X
Embora o veneno seja usado como armadilha letal para pequenos animais, a quantidade não é suficiente para causar um impacto no javaporco, que pesa entre 45 e 90 quilos.
O caso veio à tona quando Dan Burton, especialista em controle de fauna, capturou javaporcos na região de Salinas, no condado de Monterey. Ao abrir os animais, ele encontrou tecidos musculares e gordura tingidos de um azul brilhante. “Não era pouco azul. Era azul neon, azul mirtilo”, relatou ao Los Angeles Times. A coloração serve para alertar os humanos sobre sua toxicidade.
Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW, na sigla em inglês) alerta sobre animais com carne azul neon
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Testes laboratoriais conduzidos pelo Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW) confirmaram que a cor vinha do acúmulo de difacinona nos tecidos. E mais preocupante era que a substância permanecia ativa mesmo após o cozimento da carne, representando risco tanto para predadores naturais quanto caçadores (humanos).
A difacinona atua como anticoagulante. Ao se ligar às enzimas que reciclam a vitamina K, impede a coagulação normal do sangue e provoca hemorragias internas. O efeito é lento: a morte de ratos ocorre após alguns dias, período em que animais maiores, como javaporcos, podem ingerir grandes quantidades sem morrer de imediato.
O CDFW orientou então caçadores a inspecionar cuidadosamente a carne coletada e relatar qualquer anomalia ao Laboratório de Saúde da Vida Selvagem. Agricultores, por sua vez, foram incentivados a adotar o chamado manejo integrado de pragas, que combina cercas, armadilhas, predadores naturais e outras estratégias que reduzem a necessidade de venenos químicos.
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A contaminação não é inédita
Em 2018, o CDFW detectou rodenticida em 8,3% dos javaporcos analisados e em 83% das amostras de ursos. Os javaporcos, híbridos de javalis e porcos domésticos, têm dieta variada e facilmente ingerem tanto iscas quanto roedores envenenados, funcionando como um elo de propagação involuntária do tóxico.
O uso de difacinona na Califórnia está restrito desde 2024, e hoje é permitido apenas a técnicos certificados. No entanto, restos de veneno continuam aparecendo na fauna local.