
Exposição “A Ecologia de Monet” traz leitura contemporânea sobre a relação de Claude Monet (1840–1926) com a natureza
Eduardo Ortega
A exposição “A Ecologia de Monet” bateu recorde de público no Museu de Arte Assis Chateaubriand (Masp), em São Paulo, desde sua abertura, em maio.
Com 410 mil visitantes antes mesmo de acabar, a exposição já ultrapassou os números da até então mais visitada mostra do Masp, a de Tarsila do Amaral, em 2019. Naquele ano, 402.850 visitaram “Tarsila Popular”.
Antes, o próprio pintor impressionista francês Claude Monet detinha o recorde, em 1997, com 401.201 espectadores.
A exposição que ficará aberta até 6 de setembro traz uma leitura contemporânea sobre a relação de Claude Monet (1840–1926) com a natureza, as transformações ambientais, a modernização da paisagem e as tensões entre ser humano e natureza.
É possível apreciar 32 obras que atravessam diferentes fases da carreira do artista, um dos fundadores e principais expoentes do movimento impressionista. Os trabalhos são datados entre 1870 e 1920.
Até o dia 24 de agosto de 2025 é possível apreciar 32 obras que atravessam diferentes fases da carreira do artista
Eduardo Ortega
Pela primeira vez no hemisfério sul, a exposição tem curadoria de Adriano Pedrosa (diretor artístico do MASP) e Fernando Oliva (curador), e assistência de Isabela Ferreira Loures (assistente curatorial).
“É inegável que o artista teve um olhar atento para as transformações ambientais de seu tempo, documentando desde a industrialização crescente até fenômenos naturais, como enchentes e degelos”, explica Fernando Oliva ao Terra da Gente, do g1 Campinas.
“No entanto, a relação de Monet com a ecologia da época era outra, muito diferente das dimensões atuais do termo, tanto no campo das ciências do clima como no da história da arte. Ainda assim, é possível traçar leituras contemporâneas sobre o seu trabalho, especialmente se considerarmos a força e o impacto que sua obra segue exercendo na sociedade”, completa o curador da exposição.
Núcleos temáticos
A mostra é organizada em cinco núcleos temáticos: Os barcos de Monet, O Sena como Ecossistema, Neblina e Fumaça, O Pintor como Caçador e Giverny: Natureza Controlada.
No núcleo “Neblina e Fumaça”, a exposição mergulha no olhar de Monet sobre as transformações urbanas que marcaram o século XIX, como a ascensão da energia a vapor, o aumento de fábricas e o uso intensivo do carvão, práticas que alteraram drasticamente o cenário das cidades. Em algumas obras é possível notar a representação do ar denso, carregado pela fumaça das indústrias.
A ponte japonesa sobre a lagoa das ninfeias em Giverny, 1920-24 – Claude Monet – Óleo sobre tela, 90 x 92,5 cm
João Musa
Já o núcleo “Giverny: Natureza Controlada” traz à tona a relação íntima de Monet com os jardins que ele próprio cultivou em sua casa em Giverny, onde viveu por mais de 40 anos. Obras como A ponte japonesa (1918–1926) e A ponte japonesa sobre a lagoa das ninfeias em Giverny (1920–1924) revelam esse universo particular.
“A exposição reflete uma relação complexa do pintor com a paisagem natural e o meio ambiente. Em suas pinturas coexiste um elogio ao meio ambiente e uma tentativa de organizá-lo, de contê-lo”, complementa Fernando Oliva.
No núcleo “O Sena como Ecossistema”, a exposição destaca a presença constante da água na obra de Monet. Nascido em Le Havre, no norte da França, onde o rio Sena encontra o Atlântico, o artista desenvolveu uma relação profunda com o curso d’água que o acompanhou ao longo da vida.
A canoa sobre o Epte, circa 1890 – Claude Monet – Óleo sobre tela, 133,5 x 146 x 3 cm
João Musa
Nas obras expostas em São Paulo, o destaque é a pintura “Os barcos de Monet”, onde cores vibrantes transmitem não apenas a correnteza do rio, mas também a intensidade da relação de Monet com esse ambiente.
No núcleo “O Pintor como Caçador”, a exposição revela o lado explorador de Monet, um artista que caminhava por horas em busca da paisagem ideal.
Monet chegou a se aventurar por trilhas e trechos remotos, em busca de novos ângulos, chegando a visitar a costa francesa e até outros países, como a Holanda. O olhar do pintor se desloca como o de um caçador atento, em busca de encontros únicos com a luz, a paisagem e o instante.
Water Lilies (Nymphéas), 1907 – Claude Monet – Óleo sobre tela , 92 x 81 cm
Thomas R. DuBrock
“A Ecologia de Monet” integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias da ecologia. A programação do ano também inclui mostras de Hulda Guzmán, Mulheres Atingidas por Barragens, Frans Krajcberg, Clarissa Tossin, Abel Rodríguez, Minerva Cuevas e a grande coletiva Histórias da ecologia.
Por ocasião da mostra, será publicado um catálogo bilíngue, em inglês e português, reunindo imagens e ensaios comissionados que debatem a relação de Monet com a ecologia.
Foi na natureza que Monet encontrou não só cenário, mas sentido, uma inspiração que não se esgota, porque pulsa, transforma e resiste.
Ponte de Waterloo, effet de soleil, 1903 – Claude Monet – Óleo sobre tela, 65 x 100 cm
Robert McNair
Monet, o artista
Claude Monet (1840–1926) foi um dos fundadores e principais expoentes do movimento impressionista, revolucionando a história da arte com sua abordagem inovadora da luz e da cor.
Nascido em Paris e criado na Normandia, Monet desenvolveu desde cedo uma sensibilidade única para a natureza e suas transformações.
Seu quadro Impressão, Nascer do Sol (1872) deu nome ao movimento impressionista. Ao longo de sua carreira, dedicou-se a capturar os efeitos transitórios da luz sobre a paisagem, muitas vezes pintando o mesmo motivo em diferentes horários e condições atmosféricas.
Acessibilidade
Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e o acompanhante. São oferecidas visitas em Libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil.
Todas as exposições temporárias do MASP possuem recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e o acompanhante
Eduardo Ortega
No YouTube há ainda um conteúdo disponível que pode ser utilizado por pessoas com deficiência, públicos escolares, professores, pessoas não alfabetizadas e interessados em geral.
Serviço
Ingressos: R$ 75 (entrada); R$ 37 (meia-entrada)
Local: MASP – Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista, São Paulo
Horários: terças grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta e quinta das 10h às 18h (entrada até as 17h); sexta das 10h às 21h (entrada gratuita das 18h às 20h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Observação: agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Monet no Masp: museu amplia horário de visitação