Saiba como conversar com crianças e adolescentes e prevenir assédios


Segundo dados da última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2024 registrou o maior número de estupros e estupros de vulnerável da história. Do total de vítimas, 61,3% eram crianças de até 13 anos — 51.677 meninas e meninos.
Os dados revelam uma realidade brutal: 23,4% dos casos de estupro de vulnerável tiveram como vítimas crianças de 5 a 9 anos, enquanto 13,1% eram de 0 a 4 anos.
O Profissão Repórter conversou com Eva Dengler, gerente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, para entender quais são os pontos-chave na prevenção desses crimes. Dengler reforça que informação é a principal ferramenta de prevenção. O silêncio aumenta o sofrimento das vítimas e dificulta o enfrentamento efetivo. Por isso, conversar abertamente faz toda a diferença.
Cuidados na primeira infância
Os primeiros cuidados devem acontecer ainda na primeira infância, quando as crianças têm de 0 a 6 anos de idade.
“Temos defendido a criação de uma cultura de autoproteção, para que os pais e professores comecem a conversar com as crianças desde cedo sobre os cuidados com seu próprio corpo”, diz Eva.
No Globoplay, a Childhood Brasil disponibiliza uma série animada que alerta educadores, crianças, adolescentes e famílias sobre o conhecimento do próprio corpo e a importância do respeito ao direito à sexualidade.
Crianças a partir de 8 anos de idade
Nesta faixa etária, pais, educadores e cuidadores já devem iniciar conversas sobre relacionamentos e exposição de fotos e vídeos nas redes sociais. Para Eva, “falar sobre sexualidade não é incentivar o ato sexual”. Ela explica que muitas crianças e adolescentes ainda não conseguem ter clareza quando estão sendo vítimas de uma violência, por isso “é fundamental que eles sejam empoderados desde cedo para reconhecer seus direitos, entender o próprio corpo e denunciar qualquer situação de risco”.
Também é importante que sejam capazes de reconhecer adultos de confiança. “Pode ser alguém da família ou até uma professora na escola, mas é importante que a criança encontre um adulto que a acolha, escute sem julgamentos e leve a denúncia para frente”, diz Eva.
Adolescência
Se o diálogo for construído desde cedo, na adolescência os jovens já serão capazes de praticar a autoproteção. Para esta faixa etária, Eva explica que o uso intenso das redes sociais traz oportunidades de aprendizado e conexão, mas também riscos de exposição excessiva e de bullying virtual. Falar sobre esses temas é essencial para que os adolescentes entendam seus direitos, aprendam a proteger sua privacidade e desenvolvam responsabilidade no ambiente digital. Essa conversa ajuda não apenas a evitar que sejam vítimas de violência online, mas também a prevenir que se tornem autores de práticas que podem causar sofrimento a outros.
Denuncie
Se você estiver sendo vítima de abuso ou souber de alguém nessa situação, é fundamental denunciar. Em caso de suspeita, a orientação é ligar para o Disque 100, canal nacional de proteção de direitos humanos. Já quando há certeza do abuso, é importante procurar a polícia imediatamente, para garantir a segurança da vítima e a responsabilização do agressor. Em todas as situações, crianças e adolescentes receberão o devido encaminhamento pelo Conselho Tutelar, mas o passo mais importante é agir rápido, pois cada minuto pode fazer diferença para proteger quem está em risco.
Projeto Arcanjos, do Ministério Público do RN, combate crimes contra crianças e adolescentes realizados pela internet
Alexandre Lago
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