
Susan Monarez, diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), da agência federal de saúde. Ela foi indicada por Trump para o cargo em março de 2025.
REUTERS/Kevin Mohatt/File Photo
A Casa Branca anunciou a demissão da diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), Susan Monarez, na quarta-feira, menos de um mês após ela assumir o cargo.
A defesa de Monarez afirmou que ela deixará o cargo e contesta a demissão, que chamou de inválida. Seu cargo foi chancelado pelo Senado dos EUA após receber indicação do Donald Trump, e apenas o presidente pode a demitir, segundo seus advogados.
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A demissão da diretora do CDC, além da renúncia de quatro funcionários da alta cúpula da agência governamental de saúde, ocorre em meio a tensões com o secretário da Saúde, Robert Kennedy Jr. por políticas de vacinação e diretrizes de saúde pública, e uma tentativa de politização da saúde no país, segundo funcionários do governo. (Entenda abaixo)
Antivacina, Kennedy Jr. promoveu mudanças radicais nas políticas de vacinas nos EUA desde que assumiu a pasta de Saúde, incluindo a retirada das recomendações federais de vacinação contra a Covid-19 para mulheres grávidas e crianças saudáveis, em maio, além de ter demitido todos os membros do painel consultivo de vacinas do CDC, em junho, substituindo-os por conselheiros de sua escolha, incluindo ativistas antivacina.
Um dos funcionários que pediu demissão afirmou que as recomendações atuais do CDC colocam em risco jovens americanos e gestantes.
O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, afirmou na noite de quarta-feira que Monarez “não estava alinhada com a agenda do presidente de Tornar a América Saudável Novamente”.
Segundo Desai, como Monarez havia “se recusado a pedir demissão apesar de informar à liderança do HHS que pretendia fazê-lo, a Casa Branca decidiu demiti-la de seu cargo no CDC”.
Os advogados de Monarez, Mark S. Zaid e Abbe David Lowell, negaram que ela tenha renunciado ou sido oficialmente demitida, declarando em nota que “como pessoa íntegra e dedicada à ciência, ela não irá pedir demissão”. A defesa de Monarez ainda acusaram Kennedy Jr. de persegui-la por ela se recusar a apoiar “diretrizes anticientíficas” e a dispensar especialistas em saúde.
A diretora médica do CDC, Debra Houry, e o diretor do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias, Demetre Daskalakis, também renunciaram, disse Houry à agência de notícias Reuters. Em cartas de renúncia revisadas pela agência, ambos citaram o avanço da desinformação sobre saúde, especialmente vacinas, ataques à ciência, politização da saúde pública e tentativas de cortar o orçamento e a influência do CDC.
O diretor do Centro Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes e Zoonóticas, Daniel Jernigan, também deixou o cargo dias após a agência confirmar o primeiro caso humano de miíase (screwworm) nos EUA, ligado a um surto em andamento na América Central. A diretora do Escritório de Dados, Vigilância e Tecnologia em Saúde Pública do CDC, Jen Layden, também pediu demissão, informou a NBC News.
“Recentemente, o exagero dos riscos e a disseminação de desinformação custaram vidas, como demonstra o maior número de casos de sarampo nos EUA em 30 anos e o ataque violento à nossa agência”, escreveu Houry em sua carta de renúncia.
Cortes orçamentários propostos pelo governo do presidente Donald Trump e planos de Kennedy de reorganizar a agência prejudicariam sua capacidade de enfrentar esses desafios.
Politização
A Casa Branca tentou reduzir o orçamento do CDC em quase US$ 3,6 bilhões, deixando-o com US$ 4 bilhões para 2026. Kennedy anunciou um plano de demissões no início do ano que cortou 2.400 funcionários do CDC, embora cerca de 700 tenham sido recontratados.
“Não posso mais atuar neste cargo por conta da politização contínua da saúde pública”, escreveu Daskalakis, que se recusou a comentar.
O HHS não informou o motivo da saída de Monarez nem comentou as renúncias.
“Susan Monarez não é mais diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Agradecemos por seu serviço dedicado ao povo americano”, publicou o órgão em sua conta oficial no X.
O CDC tem enfrentado grandes desafios sob a liderança de Kennedy, incluindo um tiroteio em sua sede em Atlanta no início do mês. O sindicato que representa os trabalhadores da agência disse que o episódio “agrava meses de maus-tratos, negligência e difamações sofridas pela equipe do CDC”.
Fiona Havers, ex-funcionária do CDC que renunciou em junho por discordar da política de vacinação, descreveu as demissões recentes como “devastadoras para o CDC”, acrescentando que os líderes que saíram atuavam como “escudo entre os cientistas de carreira do CDC e os ataques de RFK Jr. e desta administração à saúde pública”.
Mudanças radicais
Em uma carta de renúncia direcionada a Houry e publicada por Daskalakis no X, o ex-diretor criticou as recomendações de vacinação da agência, afirmando que elas colocam jovens e gestantes em risco e condenou a decisão de Kennedy de demitir o painel de especialistas.
Ele alertou que as políticas de saúde pública do governo poderiam levar os EUA de volta a uma era pré-vacinas, em que apenas os mais fortes sobrevivem, comprometendo a segurança e o bem-estar do país.
Kennedy anunciou nesta quarta-feira novas mudanças na elegibilidade para vacinas contra a COVID-19.
Monarez, cientista do governo federal, foi confirmada pelo Senado dos EUA em 29 de julho após Trump indicá-la no início do ano e empossada por Kennedy em 31 de julho.
Ela foi a segunda indicada por Trump ao cargo, após o presidente retirar, em março, a indicação de Dave Weldon, ex-deputado republicano e crítico de vacinas aliado de Kennedy, horas antes de sua audiência de confirmação.
Durante sua sabatina, Monarez afirmou não haver evidências de ligação entre vacinas e autismo, contrastando com Kennedy, que tem promovido a alegação desmentida de tal relação.
Kennedy lançou uma investigação nacional sobre as causas do autismo e disse nesta quarta-feira que haverá novidades em setembro sobre mudanças que terão “impacto significativo” nesse campo.
“Temos anúncios que sairão em setembro sobre autismo, mudanças que vão impactar profundamente os resultados”, declarou Kennedy em evento ao lado do governador do Texas, Gregg Abbott.