Pais relatam desespero ao ver alunos em coma alcoólico após trote universitário: ‘Covardia o que fizeram’


Internados em estado grave, estudantes deixaram a UTI, mas ainda demandam cuidados em Jaboticabal (SP), segundo familiares. Polícia Civil investiga suspeita de que calouros foram obrigados a beber durante festa com veteranos da Unesp. Os dois estudantes que foram internados em estado grave e em coma alcoólico após um trote universitário em Jaboticabal (SP) deixaram a UTI da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) nesta segunda-feira (26), mas ainda requerem cuidados e estão em observação, segundo familiares.
Ainda à espera da melhora dos filhos, os pais relatam o desespero quando souberam, no fim da noite de domingo (25), da notícia.
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“Eles forçam você a beber e comer as coisas. Isso foi uma covardia que fizeram com ela, porque ela não tem esse costume”, afirma o eletricista João Bertolino Neto, pai da estudante Sara, aluna de 20 anos do primeiro ano de agronomia da Unesp.
Segundo denúncias de familiares, o trote aconteceu durante uma festa promovida por estudantes da Unesp no domingo (25), quando calouros foram obrigados a beber para que conseguissem pulseiras para a “Festa dos 100 dias”, evento também promovido por universitários e que estava marcado para acontecer nesta segunda-feira – e que acabou adiado depois do que ocorreu.
De acordo com a Prefeitura, sete estudantes passaram a mal e precisaram ser atendidos na UPA. Cinco foram liberados ainda no domingo, mas dois foram parar na UTI e chegaram a ser entubados devido a um quadro de com a alcoólico.
O caso foi registrado como lesão corporal e pelo menos três estudantes são investigadas pela Polícia Civil, que apura a suspeita de que os jovens foram forçados a beber. Além disso, as autoridades querem saber o que tinha na bebida ingerida pelos alunos.
A Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jaboticabal abriu uma apuração preliminar e já começou a ouvir estudantes envolvidos.
Imagens em redes sociais mostram festa no domingo (25), quando universitários passaram mal após ingestão de bebida alcoólica em Jaboticabal (SP).
Reprodução/ Redes sociais
‘Eu me desesperei’, diz mãe de aluno
A empregada doméstica Viviane Aparecida Bezerra Facco conta que estava em casa indo dormir quando soube por estudantes que foram ao local avisar que ela precisaria ir à UPA para autorizar a entubação do filho Pedro, de 20 anos, aluno do primeiro ano de zootecnia.
Segundo a mãe, o jovem teve ingestão de vômitos, muitas convulsões durante o atendimento e foi levado para a UTI devido à gravidade do caso.
“Quando eu entrei, eu vi meu filho naquela situação, entubado, cheio de aparelho, inerte, tipo um morto-vivo. Isso para os pais é desesperador, eu me desesperei, porque eu falei, meu filho vai morrer, e passei a noite em claro”, conta.
Hoje, ela confirmou que o estudante chegou a acordar, mas ainda tem dificuldade de se comunicar, ainda está vomitando e tem um hematoma na cabeça, que vai demandar a realização de uma tomografia. Durante os momentos em que conseguiu falar, o estudante se lembrou de poucas coisas que aconteceram na noite de domingo, mas fez menção à bebida alcoólica.
“Ele não estava falando coisa com coisa, a única coisa que ele falou pra mim que ele lembra de alguém jogando bebida no rosto dele e que depois disso ele já não lembra mais nada, ele já acordou aqui, perguntando onde ele estava e que ele não lembra.”
Depois de tudo o que aconteceu, ela pede justiça aos responsáveis pelo que aconteceu com seu filho e e faz um apelo aos veteranos que ainda contribuem para a realização de práticas abusivas contra os calouros.
“Isso é brincar com a vida de jovens que estão planejando uma carreira e um futuro, não foi só meu filho, foram sete estudantes na mesma situação. Que sirva de lição para esses veteranos, que tomem ciência, que não façam isso. Eles podem acabar com uma família, podem de repente tirar a vida de um jovem com uma brincadeira, uma brincadeira de muito mau gosto.”
Estudantes foram atendidos na UPA após passarem mal durante festa universitária em Jaboticabal, SP.
Jefferson Severiano Neves/EPTV
Calouros são obrigados a beber para fazer parte do grupo, diz pai
O eletricista João Bertolino Neto conta da angústia ao ver a filha Sara, de 20 anos, completamente inerte, sendo levada para a UTI da unidade de pronto atendimento da cidade.
“Foi horrível ver minha filha na UTI, entubada, com aquele tanto de aparelho, os olhos até virados, complicado para um pai meia-noite pra socorrer um filho aqui, não foi fácil não”, diz.
Segundo ele, a filha já deixou a UTI, mas segue em observação, com sonolência e dificuldade de reconhecer as pessoas. A estudante, de acordo com o eletricista, não se lembra do que consumiu, mas contou a ele que veteranos da universidade obrigam calouros a ingerir bebidas alcoólicas como condição de socialização. Na festa, além de bebida, ela teria sido forçada a comer alimentos como alho e cebola in natura.
“Não teve dó dela, mais um pouco eu perdia a minha filha para esse pessoal que fez isso. Ela falou que entrou lá tem que participar de tudo que eles fazem, você é obrigado, se você não participar você não faz parte do grupo”, reclama.
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