
Tapetes compostáveis com fios coletados em salões evitam perda de umidade e aliviam o estresse hídrico nas lavouras da árida do Chile. Pequeno tapete, feito de cabelo humano, cobre a base de uma árvore para ajudar a reter a umidade do solo e reduzir a evaporação da água, como parte da iniciativa de agricultura sustentável Agropelo
REUTERS/Pablo Sanhueza
O Chile enfrenta uma seca histórica que vem esvaziando seus reservatórios. Para tentar driblar a falta de água, o país está usando tufos de cabelo humano em plantações pelo país para tentar impedir que a água evapore e que os alimentos se percam.
A seca no país reduziu o volume de chuva. Isso ainda se soma com o calor, que faz com que o solo perca a pouca umidade que tem. E não é só de agora, há quinze anos o país passa por ciclos intensos de seca que fez com que os produtores buscassem soluções criativas para driblar a crise climática.
Foi isso o que fez a fundação Matter of Trust Chile, criada desde 2020 para promover a conservação e a regeneração por meio do uso criativo de resíduos.
Saco cheio de cabelo humano, que será transformado em folhas e discos de cobertura compostáveis por meio de tecelagem mecânica
REUTERS/Pablo Sanhueza
Eles coletam cabelos de 350 salões pelo país e os fios são transformados em discos de cobertura morta compostável depois de passarem por um processo de tecelagem mecânica. (Veja a imagem abaixo)
A CEO da fundação explica que eles fizeram uma série de estudos e descobriram que o cabelo reduz a evaporação direta do solo em 71% e, com isso, economiza até 48% de água para irrigação. Isso faz com que o solo permaneça mais úmido e, com a crise, seja usada menos água para a irrigação.
Cabeleireiro deposita cabelo em lixeiras de reciclagem em salão, onde fundação coleta cabelo, que é transformado em folhas e discos de cobertura morta compostáveis
REUTERS/Pablo Sanhueza
“O cabelo é muito interessante. Ele contém nutrientes, nitrogênio, cálcio, enxofre e matéria orgânica que são adicionados ao solo, melhorando-o e aumentando o crescimento das plantas e a produção agrícola em pelo menos 30%”, disse Mattia Carenini, CEO da fundação, à agência Reuters.
A agricultora Maria Salazar é uma das produtoras que usa a iniciativa. Ela conta que adotou o uso de cabelos ao longo de sua plantação de lavouras limão em Taltal, cerca de 900 quilômetros ao norte da capital chilena, na árida região de Antofagasta.
“Os tapetes de pelos são um benefício para o sistema e para o estresse hídrico que enfrentamos. Ao fornecer sombra, eles mantêm bastante umidade e evitam que os raios solares evaporem a pouca água que temos”, disse Salazar.
Cabelo humano depois passa por tecelagem
Reuters
Cabelo humano está sendo usado para enfrentar a seca no Chile
Reuters
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Visão aérea da horta de Maria Salazar, onde ela usa esteiras Agropelo, iniciativa de agricultura sustentável da fundação Matter of Trust Chile, no Deserto do Atacama, em Taltal, Chile
REUTERS/Pablo Sanhueza
A agricultora Maria Salazar colhe uma flor de copihue em seu jardim, onde usa esteiras Agropelo, uma iniciativa de agricultura sustentável da fundação Matter of Trust Chile, no Deserto do Atacama, em Taltal, Chile
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