
Ataque comercial lançado por presidente americano ao Brasil expõe o viés ideológico do tarifaço e a interferência na política interna do país, sob o pretexto de beneficiar Bolsonaro. O presidente dos EUA, Trump, realiza uma reunião de gabinete na Casa Branca, em Washington
Reuters/Kevin Lamarque
O ataque comercial lançado por Donald Trump ao Brasil, aumentando em cinco vezes as tarifas sobre o país, franqueou a sua intervenção direta na política interna alheia: numa carta em tom mais agressivo do que as enviadas a outros países, o presidente americano usa todo o poder econômico dos EUA para punir duramente o Brasil, supostamente em benefício de um aliado político, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
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Com isso, ele aglutina as funções do Executivo e do Judiciário no Brasil, exigindo de Lula o fim do julgamento do ex-presidente, acusado de tentativa de golpe de Estado. O presidente também atribui o aumento de tarifas ao que chamou de ataques insidiosos do país contra eleições livres, violação da liberdade de expressão dos americanos e também às “centenas de ordens de censura” do STF a plataformas de mídia social dos EUA.
Na carta, Trump qualifica como vergonha internacional o tratamento do país a Bolsonaro, que considera um “líder altamente respeitado em todo o mundo durante o seu mandato”. “Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deveria terminar imediatamente”, escreveu.
Caça às bruxas foi o mantra entoado obsessivamente por Trump quando sofreu dois processos de impeachment durante o primeiro mandato e foi acusado em quatro processos criminais. Com essa nota harmônica, ele concorreu à Presidência, no ano passado, como réu condenado, por falsificar registros financeiros para ocultar um pagamento feito à ex-atriz pornô Stormy Daniels antes das eleições de 2016.
Até agora, o presidente americano não tinha sido tão explícito ao desfraldar politicamente o tarifaço que promove contra 180 países. Ele ameaçou a Colômbia, por exemplo, com tarifas de 25% sobre suas exportações se o país não aceitasse os cidadãos deportados dos EUA. O governo de Gustavo Petro capitulou e o presidente americano mais uma vez recuou.
Com o Brasil, Trump parece repetir a fórmula do bullying e da retaliação usada contra seus adversários políticos. Desta vez, porém, o desequilíbrio e o déficit não podem servir de pretexto para Trump elevar as tarifas ao Brasil: os EUA têm um raro superávit comercial com o nosso país. O viés ideológico e o incômodo com os Brics saltam aos olhos nas palavras redigidas pelo presidente americano.
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