
Demissão do secretário de Transportes, Washington Reis, expôs disputa dentro do mesmo grupo político que tem as eleições de 2026 como questão central. Rodrigo Bacellar e Cláudio Castro
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A demissão do secretário estadual de Transportes, Washington Reis, expôs uma crise entre o governador Cláudio Castro (PL) e o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União).
A exoneração foi feita sem consulta a Castro, horas após o governador viajar e deixar o comando do estado, interinamente, para Bacellar. Ao voltar, o governador ainda teria tentado renomear Reis, mas foi pressionado a manter a demissão.
Ao anunciar a decisão, disse que o ato de Bacellar foi “desrespeitoso” e “intempestivo”, e prometeu a continuidade do embate político nos bastidores.
“Mantenho a exoneração de Washington Reis, mas este assunto será discutido pelos presidentes de partidos do nosso campo político, já que a sucessão ao governo estadual é um projeto de um campo político e não de um desejo pessoal e descoordenado.”
Reis se reunião com Castro após a demissão e disse que entende as “questões políticas”.
“Reunião muito boa. Governador, além de grande amigo, é um grande parceiro político. A gente compreende essas questões politicas. Política é assim mesmo, anteciparam a disputa política. ”
Do mesmo grupo político de Castro, Bacellar passou a ser o primeiro na linha sucessória com nomeação como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do ex-vice-governador Thiago Pampolha – que tinha virado desafeto do governador – e tem trabalhado para ser candidato nas eleições de 2026, com o aval de Castro.
O atual governador não pode tentar a reeleição por estar no segundo mandato – no primeiro, foi eleito vice de Wilson Witzel, e assumiu com o impeachment do ex-juiz federal.
O g1 apurou que o combinado é de que Castro desse cada vez mais espaço a Bacellar, culminando com uma possível renúncia do governador no primeiro semestre de 2026. Nesse cenário, Castro concorreria a uma vaga no Legislativo federal. Bacellar passaria por uma eleição indireta na Alerj, que comanda, para se tornar governador e concorrer à reeleição sentado na cadeira.
Veja abaixo os mais recentes movimentos desse jogo político:
Pampolha no TCE
Em 19 de maio, Thiago Pampolha, então vice-governador do estado, foi indicado para o Tribunal de Contas do Estado (TCE); o g1 apurou que a indicação foi parte de um acordo alinhado para dar mais visibilidade a Bacellar. Pampolha, até então, se dizia pré-candidato a governador.
Em processo relâmpago, dois dias depois (21/5), a Alerj aprovou Pampolha no TCE, e vice-governador renuncia ao cargo. Com isso, de acordo com a lei, a cada ausência de Castro por saúde ou viagens, por exemplo, quem assume interinamente o governo é o presidente da Alerj. Ou seja, Rodrigo Bacellar.
Bacellar interno
Algumas semanas depois, Bacellar já teve seus primeiros dias como governador, após Castro viajar de férias aos Estados Unidos para ver o Flamengo no Mundial de Clubes, em meados de junho.
No comando, o governador interino cumpriu agendas pelo interior do estado e aproveitou a visibilidade para tentar se projetar junto ao eleitor fluminense, conforme apurou o Blog do Octavio Guedes.
Sambódromo, bate-boca na Alerj e alfinetada em Castro
Sambódromo em disputa política: Alerj aprova transferência de bens da Prefeitura do Rio para o Estado
Uma discussão acalorada na Alerj (assista acima) escancarou uma briga política entre Bacellar e o então secretário de Transportes Washington Reis (MDB) – e sobrou para Castro.
Washington, embora estivesse – antes da recente exoneração – em um cargo no governo estadual, tinha sinalizado a aliados que poderia se lançar como candidato em uma chapa de oposição, ao lado de Eduardo Paes – que também deve disputar o Palácio Guanabara em 2026.
Recentemente, ele apareceu ao lado do prefeito em agendas públicas e postagens nas redes sociais. Em reação, Bacellar foi a Caxias – reduto eleitoral de Washington, ex-prefeito da cidade da Baixada Flumimense com quatro mandatos – e posou com adversários históricos dos Reis, como o também ex-prefeito Zito.
A tensão foi para o plenário da Alerj. Deputados governistas apresentaram requerimento para convocar Washington Reis às CPIs — a justificativa foi pedir esclarecimentos sobre os reajustes nas tarifas do metrô. A convocação foi aprovada após ser submetida ao plenário por Bacellar.
No microfone, Rosenverg Reis reagiu e afirmou que orientaria o irmão a não comparecer, dando início a um bate-boca.
Rosenverg disse que era Bacellar era o “xerife do estado” e, sob ameaça de ter o microfone cortado, o chamou de “ditador”.
Bacellar revidou. Disse que “acabou o tempo” de Rosenverg achar que o irmão “manda no estado” e que não iria aceitar ataques pessoais. Foi aí que citou o governador: “Comigo não vai não! Não me confunde com o Cláudio Castro, não”.
Nova viagem de Castro e exoneração de Reis
Rodrigo Bacellar, Washington Reis e Rosenverg Reis: foto postada pelos três em 16 de maio, menos 2 meses antes de Bacellar exonerar Reis
Reprodução/Instagram
Na semana seguinte ao clima esquentar na Alerj, no dia 3 de junho, Cláudio Castro embarcou novamente para fora do país, para um congresso em Portugal. Nas primeiras horas como governador interino, Bacellar publicou a exoneração de Washington Reis da Secretaria de Transportes.
Na justificativa, alegou que o secretário era insubordinado e afirmou que não havia consultado Castro, que a decisão era responsabilidade dele.
Reis disse que a decisão não tinha valor e que foi tomada porque negou apoio nas eleições a Bacellar, que disse ser “uma chacota à frente da Assembleia”: “O governador está voltando na segunda-feira, tenho uma ótima relação com o governador. Ele [Bacellar] fez para aparecer. Se ele botasse uma melancia no pescoço, seria até mais plausível.”
Volta ou não volta? Não volta!
Cláudio Castro e Washington Reis se reúnem após exoneração da Secretaria Estadual de Transporte
No retorno de Castro ao governo, o g1 apurou que a ideia do governador era recolocar Reis no cargo e mostrar a Bacellar quem manda, mas após disputa nos bastidores recuou e manteve a demissão. Disse que já era uma ideia dele próprio, mas que o “fato não justifica o ato intempestivo e desrespeitoso do presidente da Assembleia” de decidir sem sua aprovação.
Castro deixou claro que o clima seguirá quente dentro do grupo político após a afronta de Bacellar: “Mantenho a exoneração de Washington Reis, mas este assunto será discutido pelos presidentes de partidos do nosso campo político, já que a sucessão ao governo estadual é um projeto de um campo político e não de um desejo pessoal e descoordenado.”
Quando exonerou Reis, Bacellar também publicou a demissão de Kennedy de Assis Martins, presidente do Instituto de Pesos e Medidas. Castro não conseguiu salvar Reis, mas tornou sem efeito o decreto para tirar Kennedy.
Na mesma edição extra do Diário Oficial, Castro publicou o nome da nova secretária estadual de Transportes, a advogada Priscila Sakalem, especialista em direito tributário que está no governo desde 2020. Exercia a função de chefe da assessoria do Gabinete do governador.
Após a demissão, Reis anunciou nesta quinta-feira que será candidato ao governo em 2026.
“Sou candidatíssimo. Venho estruturando essa campanha no MDB com a cúpula nacional do partido. Sempre pensei em trilhar uma terceira via”, afirmou Reis em entrevista ao RJ2.
Preço das passagens
O governo disse que a nova secretária tem participado ativamente das discussões sobre a implantação do novo modelo de bilhetagem eletrônica, que vai promover a integração tarifária dos serviços de transporte. Foi onde começou o desgaste da relação de Washington Reis com o governo.
No mês passado, Castro desautorizou o então secretário, que anunciou data para redução das passagens de trem e de metrô para R$ 4,70. O governador disse que não assinaria o decreto porque o estado não tem dinheiro para pagar o subsídio.
Depois de se reunir com Cláudio Castro na quinta-feira, Reis voltou a falar no assunto. Disse que mostrou a Castro que o governo tem dinheiro para reduzir as passagens e, mesmo fora do cargo, fez uma nova promessa.
“Ele viu os números, viu que a conta fecha, a conta fecha e ainda sobra troco ainda pro estado. Então, eu garanto a você, palavras minhas, não do governador, que no mês de julho o povo do estado do Rio de Janeiro vai deixar de ter a passagem mais cara do brasil pra ter a mais barata do Brasil. Metrô e trem a R$ 4,70. Eu, mesmo não sendo secretário, estarei ao lado do meu amigo governador Cláudio Castro, pagando R$ 4,70 na estação de trem, pagando R$ 4,70 na estação de metrô”, disse Reis.